Angel Olsen regressa aos discos com mais uma ligeira variação de estilo, mas sempre com a sua voz resplandecente a dominar a cena.
A crítica a um álbum implica na maior parte dos casos um exercício comparativo, pelo que a avaliação dificilmente será justa: o álbum em causa será sempre avaliado em comparação a outros álbuns do mesmo género musical, isto quando não é comparado a álbuns anteriores do mesmo autor ou autora. E isto é perverso nos casos em que o álbum de estreia ou aquele que o sucede – normalmente, o segundo álbum é “o” álbum que define a carreira – é especialmente bom. Tudo o que vier para a frente terá sempre de ser contextualizado e as conversas terminarão inevitavelmente com o “eh pá, não é mauzinho, não senhor, mas não tem nada a ver com o outro”.
Criticar um álbum como apenas aquilo que é – um álbum, sem antes, nem depois – é complicado. Mas não é impossível, basta para isso ter um conhecimento reduzidíssimo do artista em causa. Tipo, eu com a Angel Olsen, de quem conhecia os bons singles que provavelmente toda a gente conhece, um deles a “Shut Up Kiss Me”, obviamente.
Ora, esta indigência dá-me o à-vontade para escrever dois disparates seguidos: o “Big Time” é um dos álbuns que mais gostei de ouvir em 2022 e “All The Good Times” é uma das canções mais incríveis escritas nos últimos anos.
Li que Angel Olsen tinha seguido uma linha country, traindo a matriz indie-rock, e também li que Angel Olsen estava menos agressiva, traindo o seu caráter contestatário. É muito possível que assim seja, mas isso não diminui “Big Time”.
Este é um álbum marcadamente melódico, melancólico e triste, sobre dor e separações e despedidas – também li que Angel perdeu ambos os pais adotivos e um amor -, com instrumentalizações simples, mas cuidadas, cheio de slide guitar, alguns metais, uma voz cristalina, pouca eletrificação e várias baladas. Não é provavelmente uma obra para nos despedirmos dos dois anos mais estúpidos da nossa vida recente e talvez funcione precisamente para isso: para nos relembrarmos que as coisas más acontecem e que é preciso escrevê-las e cantá-las, como terapia, numa melodia cantada por uma mulher sensível.
Relembrar só que esteve há dias por Lisboa, no Capitólio, a encher a sala com a sua sedução.
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