quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Cornershop – When I Was Born For The 7th Time (1997)


 

As datas redondas prestam-se a comemorações. When I Was Born For The 7th Time faz vinte e cinco anos lá para setembro, por isso estamos bem a tempo de ouvirmos de novo o muito que tem para nos dizer. O prazer é óbvio, o dever é claro. Vamos a isso, então!

Todos nos lembramos dos tempos cimeiros da britpop e das guerrilhas entre bandas, sobretudo aquelas travadas entre Oasis e Blur. Na verdade tratou-se de uma espécie de bellum sine bello, se quisermos ser honestos, mas que inflou os ânimos da imprensa e dos amantes de ambos os grupos nos tardios anos da década de noventa do século passado. Pois foi exatamente nesse tempo, no auge / limiar de algum declínio dessa espalhafatosa new wave britânica, que surgiu a novidade chamada When I Was Born For The 7th Time. O álbum trouxe, evidentemente, um som inesperado, tendo em conta o que se fazia ouvir  de indie mainstream nas ilhas de Sua Majestade, sobretudo se pensarmos nos anteriores álbuns de Tjinder Singh, Ben Ayres e companhia, os deliciosamente sujos Hold On It Hurt (1994) e Woman’s Gotta Have It (1995). O terceiro longa-duração da banda, se não for ouvido com a devida atenção, pode sugerir, embora de forma enganadora, que a banda inglesa se rendeu ao pop mais radio friendly, embora nos pareça precipitada essa ideia. No entanto, é inegável que a canção que pegou de estaca e trouxe a banda punjabiana para a ribalta nada mais é do que pura e deliciosa pop, naquilo que o termo tem de melhor e mais apetecível. “Brimfull of Asha” estourou em todo o lado, e bem. É, claramente, um instant classic e haverá poucos que não a reconheçam, assim que comece a rodar. Foi, inclusivamente, sujeita a barbaridades completas, tantos os remixes que dela fizeram. A versão original, no entanto, continua tão perfeita como no primeiro dia da sua aparição. Mas When I Was Born For The 7th Time é muito mais do que o algodão doce desse seu eterno single. Há que mergulhar de cabeça nos quinze temas do álbum (e dizemos temas, sim, uma vez que nem todos são canções) para nos apercebermos da complexidade de que é feito, e é exatamente nessa sua sofisticação que reside o seu maior encanto.

Por entre canções óbvias como “Sleep On The Left Side”, “Funky Days Are Back Again”, “Good To Be On The Road Back Home Again” – com a deliciosa participação country de Paula Frazer -, a versão dos Beatles “Norwegian Wood” e a já mencionada “Brimful of Asha”, há ainda outras menos óbvias como “Good Shit” e “We’re In Yr Corner”, esta última na esteira da maravilhosa “7.20am Jullandar Shere”, do álbum anterior Woman’s Gotta Have It. Feitas, então, as contas, para além das referidas sete canções, há que prestar atenção aos outros oito momentos do disco, uma vez que neles se encontra muita da magia do álbum. Alguns são pouco mais do que interlúdios, embora mais extensos do que é comum acontecer, outros são grooves hipnóticos, texturas sonoras de belo impacto, umas mais ambientais e fumarentas, como a deslumbrante “It’s Indian Tobacco My Friend” e a engenhosa “Chocolat”, outras ainda de preponderância rítmica mais acentuada, como “Coming Up” ou “State Troopers (Part I)”. Na verdade, o génio de tudo isto também reside na fantástica produção de Tjinder Singh, Dan the Automator e Daddy Rappaport.

Com vinte e cinco anos ainda por fazer em 2022, When I Was Born For The 7th Time mantém intactos todos os seus vastos motivos de interesse. Mais do que isso, ele aponta caminhos bem distintos daqueles que a poderosa (mas por vezes algo aborrecida) britpop fazia ecoar. Aceite o convite e ponha a girar este terceiro disco dos Cornershop e verá que girará com ele, tanto física como mentalmente. Talvez não se venha a arrepender.

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