domingo, 23 de outubro de 2022

Crítica Musical

Um supergrupo a não perder

Crítica ao álbum homónimo "Them Crooked Vultures"






Ao som de Them Crooked Vultures voltamos ao guitar hero de outros tempos, aqueles onde uma guitarra tinha seis cordas e não cinco botões. É extremamente injusto resumir esta banda a uma espécie de Real Madrid. É galáctica? Sim. Resume-se a isso? Não!


A cumplicidade entre Josh Homme e Dave Grohl é conhecida do público já há algum tempo.  Não podemos negar o peso do nome Led Zeppelin , que faz levantar muitas orelhinhas - confesso, também as minhas.

Um veterano de guerra como John Paul Jones não iria cair na cantiga do ladrão se não valesse a pena… 
À primeira audição parece que estamos perante uma evolução de sonoridade dos Queens of the Stone Age, os vocais estão lá para isso mesmo, nos trocarem as voltas todas. Que registo de Josh mais uma vez.

Hard Rock puro e duro como nem Velvet Revolver conseguiram transmitir para o novo milénio, pelo menos com Libertad ( Contraband é outra história(zinha)..).


O resultado de tão distinta equação poderá ser o mesmo para quem vai reconhecendo QOTSA (Queens of The Stone Age)  e EODM ( Eagles of Death Metal), mas o mestre de cerimónias e a arma secreta é sem dúvida John Paul Jones, com os seus 60 e picos a transbordar de experiência e musicalidade.

A linha de baixo, por vezes subtil, cria toda a dinâmica do grupo. Robert Plant e Jimmy Page ocupavam demasiado espaço em palco para dar a especial atenção ao elemento que parecia ser o mais dispensável dos LZ… Quem me dera ser assim tão dispensável!

Por exemplo, «Reptiles», demonstra todo um resultado de anos e anos de experiência e evolução do antigo projecto do Sr. Jones.

Dave Grohl por sua vez relembra os tempos áureos de Nirvana a abrir a década de 90 cheio de energia contagiante na ponta das baquetas. O som seco, sujo, aparece desta vez mais trabalhado e contido , mas sem envergonhar um John Bonham. Certamente uma referência neste álbum.

«No One Loves Me & Neither Do I» é a camisola deste álbum homónimo. O compasso de espera marcado pela bateria abre caminho a um tema bem groove e de certa forma psicadélico,  criando todo um imaginário para o rumo que o álbum irá levar…

Sente-se um Dave «nervoso», com vontade de explodir – seja feita a sua vontade.
Uma batida pesada no ponto, um bom riff sem pressas… lembram-se de «Kashmir»? Apliquem isso ao novo milénio…

«Mind Eraser, No Chaser» é o primeiro momento mais dançável, mais old-school , rock’n’roll sem espinhas. O registo vocal de ambos é de facto um Ying e um Yang genuíno. A complexidade dos temas não os obriga necessariamente a uma progressividade forçada e penso que este seja o grande segredo na qualidade deste Them Crooked Vultures. Ainda é possível fazer temas memoráveis com menos de cinco minutos.

«New Fang» faz bater o pé, Josh ao longe (efeitos) consegue-nos chegar ao ouvido, num blues-rock bem saudável. Que tema rasgado, belo, trabalhado mas no entanto fluído.. Haveria um melhor single de apresentação?

«Dead Ends Friends» tem a marca de Josh, no entanto «Elephant» é todo ele um relembrar de músicas como «Rock’n’Roll» e «Black Dog».  E já que estamos numa de nostalgia, aproveita-se a onda e entramos num modo anos 70/80, pegamos na nossa air-guitar e curtimos ao som de «Scumbag Blues»- descomprometido num tom perfeitamente genial.

É de realçar que denota-se uma certa falta de Foo Fighters dentro do álbum, será mais cliché dizer o contrário do que outra coisa. O que é certo é que o grupo de Dave Grohl tem tido uma certa dificuldade em encontrar o rumo doutros tempos áureos, e não comerciais como os mais recentes – repare-se que eles eram um exemplo perfeito do ponto de equilíbrio!

O ritmo cativante das primeiras oito músicas é repentinamente cortado por um intervalo («Interlude With Ludes») que me pergunto a cada audição: até que ponto é um contributo para este álbum? Cria expectativa…Ou pela primeira vez a vontade de carregar no botão para o próximo tema…

O título reduzido «Warsaw or the first breath you take after you give up» é a camuflagem de um dos temas onde o baixo de John Paul Jones se destaca. Um acelerar subtil de ritmo num quebra compasso total a meio da música faz-nos crer que este tema poderá ser daqueles a que nos referimos como mágicos nos concertos ao vivo. O instrumental prova a qualidade e a experiência do trio. É aqui que reconhecemos algo de muito especial neste projecto.

As influências mais recentes são denotadas em «Caligulove» e «Gunman», num registo mais a tender para certas bandas influentes da ultima década em terras de Sua Majestade. Sente-se uma certa quebra inexplicável, a diferença de um 5/5 para um 4/5…

«Spinnig in Daffodils» faz-me relembrar Scott Weiland (Stone Temple Pilots, Velvet Revolver) em registos como «Vasoline» onde tende em enrolar a voz de uma forma mais sensual do que rasgada, contida no ponto. Um tema que transpira sex appeal.

O trio despede-se numa espécie de marcha… Metemos o modo replay e consumimos mais uma vez a maravilhosa e catchy «No One Loves Me & Neither Do I». Nunca soou tão bem dizer tal frase.


Não reúne o melhor de cada elemento, mas a sua comunhão faz deste um álbum mais do que conseguido . Sem dúvida, um dos projectos mais interessantes dos últimos tempos...

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