EMI Odeon, 1977
Viagens, passeios e peregrinações por diferentes partes da América Latina, uma vida completamente nômade. Parte disso fez parte do álbum “Canción del sur”, auge da vida profissional de Los Jaivas na Argentina. Durante sua permanência naquele país, ao cruzarem a serra em 1973, formaram laços que iniciaram parte de sua história e do álbum e este álbum é justamente um de seus trabalhos que expõe a passagem por diversos lugares da América Latina, gestando entre seus movimentos e turnês do ano de 1977. Naquela época, eles estavam prestes a partir para novos territórios que influenciaram seu trabalho musical.
Quando Eduardo Parra foi libertado da prisão, Los Jaivas decidiu deixar o continente, já que estava nas chamas da insurgência e dos golpes militares. Consideraram que estavam em perigo e que não tinham a tranquilidade de viajar pela América Latina, como era seu grande sonho naquela época. Por conta disso, Alberto Ledo, integrante que havia aderido há algum tempo, comentou sobre a ideia de viajar para a Europa, já que lá eles tinham a possibilidade de ter contato direto com o IME, além da facilidade de deslocamento para vizinhos países.
A princípio a decisão não foi aceita, já que a EMI pediu que tivessem o álbum pronto, mas não foi possível. Por isso, Los Jaivas propôs terminá-lo e dominá-lo na Europa. Eles estavam contra o tempo, não havia mais nada a fazer. Apesar da ideia, a empresa continuou insistindo, pois o contrato estava prestes a expirar. Com toda a pressão para trás e faltando menos de um mês para a viagem, eles começaram a montar o álbum. Começaram resgatando canções como “En la Cumbre de un Cerro”, música que ficou de fora de El Indio (1975), “Canción del Sur”, música criada por Gato, e “Dum Dum Tambora”, contribuição feito por Pájaro Canzani nas linhas do baixo, juntamente com a criação de arranjos e a impressão do timbre de sua voz. Com essas músicas montam uma coletânea que conta as experiências vividas na capital gaúcha.
Los Jaivas começou a mergulhar em um som de selva inspirado na música costeira e nas paisagens tropicais do rio Paraná. Além disso, misturavam as diferentes culturas e reflexões que iam conhecendo em suas viagens, usavam instrumentos da tradição brasileira e fluminense (berimbau, afoxé, caxixí), além de letras ligadas a paisagens como “No cume de uma colina”. Vários desses temas instrumentais homenageiam culturas pré-colombianas e coloniais. Por outro lado, começaram a dar espaço à “modernidade” na tecnologia da música com o uso de um sintetizador Mini-Moog e um piano elétrico Fender Rhodes, estes deram à banda um upgrade, que inclusive foi utilizado para os álbuns seguintes.
As outras canções, mais curtas, mostram como os músicos exploraram diferentes estilos, como em "La vidamágica, ¡Ay si!", a aproximação ao Chile com uma cueca ou "Canción para los Pájaros", que representa a Amazônia. E o lado relacionado e de inspiração americana, "Old Fresh". “Canção do Sul”, como foi dito e explicado pelos diferentes Jaivas, é a mistura da história que passou por períodos complicados pela ditadura e pela política da época. Apesar dos obstáculos, para Los Jaivas foi uma porta que abriu oportunidades em diferentes cidades, culturas e paisagens que formaram um álbum que perdura ao longo dos anos.
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