terça-feira, 18 de outubro de 2022

Nick Cave – Seven Psalms (2022)


 

Seven Psalms é o mais recente lançamento de Nick Cave. Escrito durante o confinamento, em 2020, o álbum apresenta-nos 7 canções, ou melhor, 7 salmos musicados por Warren Ellis. Um dos mais inspiracionais álbuns da carreira de Cave.

Muitos anos se passaram desde a formação da banda The Birthday Party, grupo pós-punk onde Nick Cave foi vocalista. Desde então a sua visão da música e a sua carreira têm passado por grandes alterações, este álbum, Seven Psalms, é uma enorme prova disso.

Cave escreveu, durante o confinamento em 2020, um salmo por dia durante uma semana. Os temas abordados não destoam do que é recorrente na sua escrita. Segundo Cave, este novo disco, é uma “longa meditação sobre fé, raiva, amor, tristeza, misericórdia, sexo e louvor”.

O álbum, vendido numa edição limitada em formato EP de 10”, tem um lado A com sete canções de 2 minutos cada e um lado B, onde encontramos um instrumental que contem as sete músicas. Todas as canções são faladas. Se já em Carnage encontrávamos um piscar de olho à “spoken word”, Seven Psalms apenas conta com este registo, o que só vem reforçar o lado quase cerimonial do disco. A música é da responsabilidade de Warren Ellis, como não podia deixar de ser. Sentimos, nos sintetizadores, piano e harmonias vocais de Ellis, um eco que nos sugere um local de culto e em tudo amplia as palavras de Cave.

Este é um álbum extremamente poderoso. A religião, que sempre teve um papel essencial na carreira de Cave, e neste disco tem o papel principal. Quanto mais tiramos elementos e despimos as canções, mais nos aproximamos de uma experiência etérea, em que cada faixa toma a proporção de uma elegia. Expressões como “Have mercy on me, Lord, I have done wrong”, “I come alone and to you, Lord, in sorrow” e “I pray someday, my Lord, you will appear (There is a mansion in the sky)” mostram bem o tom confessional presente em todo o disco.

Não deixa de ser um desafio olhar para este álbum como um disco pop, sendo que parece aproximar-se mais de disco de música religiosa do de um disco de pop/rock. Contudo parece que é mesmo essa a intenção de Nick Cave, bem visível na edição física do disco. A capa em muito se assemelha a um hinário: em azul-escuro petróleo com relevo granulado e o título e crucifixo em folha de ouro. Inclusivamente a compra do disco, no site Cave Things, dá direito a um Seven Psalms Prayer Card.

Mas quer se acredite num “interventionist God”, em qualquer versão divina, ou mesmo não sendo crente, Seven Psalms é um disco onde encontramos uma ligação profunda ao nosso interior, às nossas inquietações e ao mesmo tempo recuperamos uma espécie de paz no meio de um turbilhão de emoções.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Discografias Comentadas: Angra

Formação atual do Angra: Ricardo Confessori, Edu Falaschi, Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli No final dos anos 80 e início...