sábado, 1 de outubro de 2022

POEMAS CANTADOS DE SÉRGIO GODINHO

Espalhem a Notícia

Sérgio Godinho


Espalhem a notícia

Do mistério da delícia

Desse ventre

Espalhem a notícia do que é quente

E se parece

Com o que é firme e com o que é vago

Esse ventre que eu afago

Que eu bebia de um só trago

Se pudesse


Divulguem o encanto

Do ventre de que canto

Que hoje toco

A pele onde à tardinha desemboco

Tão cansado

Esse ventre vagabundo

Que foi rente e foi fecundo

Que eu bebia até ao fundo

Saciado


Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo de mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita


A terra tremeu ontem

Não mais do que anteontem

Pressenti-o

O ventre de que falo como um rio

Transbordou

E o tremor que anunciava

Era fogo e era lava

Era a terra que abalava

No que sou


Depois de entre os escombros

Ergueram-se dois ombros

Num murmúrio

E o sol, como é costume, foi um augúrio

De bonança

Sãos e salvos, felizmente

E como o riso vem ao ventre

Assim veio de repente

Uma criança


Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo de mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita


Falei-vos desse ventre

Quem quiser que acrescente

Da sua lavra

Que a bom entendedor meia palavra

Basta, é só

Adivinhar o que há mais

Os segredos dos locais

Que no fundo são iguais

Em todos nós


Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo do mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita


Espectáculo

Sérgio Godinho


Quando

tu me vires no futebol

estarei no campo

cabeça ao sol

a avançar pé ante pé

para uma bola que está

à espera dum pontapé

à espera dum penalty

que eu vou transformar para ti

eu vou

atirar para ganhar

vou rematar

e o golo que eu fizer

ficará sempre na rede

a libertar-nos da sede

não me olhes só da bancada lateral

desce-me essa escada e vem deitar-te na grama

vem falar comigo como gente que se ama

e até não se poder mais

vamos jogar

Quando

tu me vires no music-hall

estarei no palco

cabaça ao sol

ao sol da noite das luzes

à espera dum outro sol

e que os teus olhos os uses

como quem usa um farol

não me olhes só dessa frisa lateral

desce peça cortina e acompanha-me em cena

vamos dar à perna como gente que se ama

e até não se poder mais

vamos bailar

Quando

tu me vires na televisão

estarei no écran

pés assentes no chão

a fazer publicidade

mas desta vez da verdade

mas desta vez da alegria

de duas mãos agarradas

mão a mão no dia a dia

não me olhes só desse maple estofado

desce pela antena e vem comigo ao programa

vem falar à gente como gente que se ama

e até não se poder mais

vamos cantar

E quando

à minha casa fores dar

vem devagar

e apaga-me a luz

que a luz destoutra ribalta

às vezes não me seduz

às vezes não me faz falta

às vezes não me seduz

às vezes não me faz falta

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