O álbum do regresso do filho pródigo, John Frusciante, acaba por ser vítima das expectativas e fica aquém dos melhores trabalhos desta formação clássica dos Red Hot Chili Peppers
Os Red Hot Chili Peppers já conheceram mais alterações nos seus membros do que a lógica diria que qualquer banda conseguiria aguentar. Resistentes desde o início, na primeira metade dos anos 80, só estão Anthony Kiedis, o vocalista, e Flea, o baixista. Ainda assim, qualquer fã que tivesse de apontar o alinhamento clássico desta banda não hesitaria: esses dois, o baterista Chad Smith e o guitarrista John Frusciante. Em 2022, o regresso aos discos dos Red Hot marca sobretudo o retorno do filho pródigo em forma de herói da guitarra, pela primeira vez desde Stadium Arcadium, de 2006.
Este já havia saído duas vezes, devido sobretudo a problemas com drogas, mas nunca durante tanto tempo. A importância de Frusciante é simples de explicar: está em todos os grandes discos dos RHCP excepto One Hot Minute, o disco rock mal amado pelo próprio grupo em que foi substituído pelo Jane’s Addiction Dave Navarro. Se a energia da banda sempre esteve lá, é Frusciante quem, com a sua imaginação melódica e o seu virtuosismo pouco convencional e nada show-off, elevou o grupo ao estatuto de colosso de estádios que atingiu.
E é por isso que este Unlimited Love é um dos discos mais aguardados dos Red Hot. Com o regresso surpresa de Frusciante (que acarretou o despedimento do pobre Josh Klinghoffer), anunciado em Dezembro de 2019, o gang está de novo junto. Ainda por cima, em entrevistas de antecipação ao disco, todos os músicos têm falado abundantemente da química que Frusciante voltou a soltar entre eles, libertando essa magia musical que abre caminhos sem necessitar sequer de falar.
E este é um dos problemas deste disco: o grande peso das expectativas, que não consegue realmente cumprir.
Unlimited Love começa por mostrar um problema crónico de praticamente todos os discos da banda: é demasiado longo. O grupo gosta de trabalhar em volume (alegadamente gravou perto de 50 temas nesta nova vida) e claramente a edição não é uma das suas capacidades. Isso faz com que haja também neste disco vários temas que, francamente, não aquecem nem arrefecem. Em bom inglês, há aqui alguns fillers evidentes, que não fazem falta nenhuma.
Pela positiva, algo que só dirá alguma coisa aos fãs do grupo, é que se sente claramente essa nova harmonia, esse “amor” de que falam o título do álbum e todos os membros da banda. O tom geral é descontraído, confortável e caloroso, mas o reverso da medalha é que não há por aqui grande aventura.
É claro que a guitarra de Frusciante continua incrível, melódica e original. E a música está tão bem produzida e gravada (cortesia do mago Rick Rubin) que mesmo canções menos inspiradas têm momentos que são um deleite para os ouvidos, sobretudo escutando de auscultadores. Mas aquilo que fica, depois de várias audições atentas, é a ausência daquelas malhas maiores que a vida, aqueles singles incríveis que, por exemplo, enchiam quase por completo Californication.
Há excepções, claro. Um dos primeiros singles, “Black Summer”, é RHCP clássico e abre o disco dando espaço à guitarra esfuziante de Frusciante. “Poster Child” traz um funk luminoso e descontraído que parece chamar o Verão. “The Great Apes” é salva da mediania, mais uma vez, por um excelente trabalho de guitarra. O rock mais a sério está em “These are the ways”, a explorar a dinâmica quiet/loud que tantas vezes traz ouro.
Num disco que se ouve bem mas que sofre de demasiada duração, o sentimento principal é de que não há aqui muito de memorável. O regresso do guitarrista é bem-vindo, até porque lhe pertence a grande maioria dos melhores momentos deste álbum. Mas sem as grandes canções fica mais exposta a banalidade de algumas coisas que sempre foram marcando os Red Hot, como as letras de Kiedis, por exemplo.
Para quem estava à espera de Californication, este Unlimited Love lembra mais o anterior The Getaway, ok mas raramente óptimo. A banda já disse que pretende lançar rapidamente um novo disco, aproveitando a boa energia. Esperamos que este Unlimited Love seja o primeiro ensaio de um grupo em processo de cura e de renovado enamoramento, e que o próximo possa dar um passo em frente.
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