quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Resenha: Orbs – Past Life Regression (2016)


Artist: Orbs
Disco: Past Life Regression
Data de lançamento: 15 de Julho de 2016
Selo: Equal Vision
Tempo total: 54:16
Disponível em: CD, LP & Digital

Resenha:

Superbanda manda ver no rock visceral e progressivo para contar histórias estranhas de vidas passadas

Não chore mais o fim do The Mars Volta. A banda Orbs é uma prima mais jovem, mais ansiosa e igualmente maluquinha em seu rock’n’roll criativo e nervoso. Do começo ao fim, ‘Past Life Regression’ é uma rajada de músicas interpretadas com urgência pelo vocalista e guitarrista Adam Fisher, lembrando diversas vezes a banda punk Titus Andronicus. Existe certa ênfase na técnica, o que dá uma cara progressiva ao rock do quinteto e uma dinâmica de banda que alterna entre o rock de riffs poderosos do Muse e o psicodelismo do Of Montreal e do MGMT.

Não quero fazer parecer que o Orbs necessita dessas aproximações com essas bandas mais famosas para se definir. No entanto, eu, como um resenhista tentando pôr em palavras o som dessa banda, achei pertinente citar as bandas com elementos e estilos que parecem confluir para formar o som do Orbs. Definir sem referências fica ainda mais difícil no caso deste disco em que as faixas são camaleônicas. “Jaws On Repeat (Life On Hold)”, por exemplo, começa com uma levada psicodélica do teclado e da guitarra (o som do MGMT, a voz do Titus Andronicus) e vai ficando mais intensa, como acontecia no Mars Volta, uma dinâmica de guitarra, baixo e bateria que lembra o Muse ao vivo e um encerramento digno do Of Montreal. Mas e se eu disse que, apesar dessas comparações todas, a Orbs soa autêntica? E que ‘Past Life Regression’, em sua explosão roqueira e diversa, tem uma assinatura sonora própria?

É exatamente isso o que ocorre com esse supergrupo e com este álbum. Mesmo que você curta uma das bandas mencionadas, não é certeza que você vai gostar da mistura sonora, mas vale a pena tentar, porque há qualidade no trabalho e nos músicos envolvidos. Dan Briggs, guitarrista, vem da pesadona e prog Between The Buried And Me; a tecladista Ashley Ellyllon é egressa das bandas de black metal Cradle Of Filth e Abigail Williams; o cantor Adam Fisher era da banda experimental Fear Before The Marcho of Flames.

Completam o time o baixista Chuck Johnson e o baterista Matt Lynch (substituindo Clayton ‘Goose’ Holyoak) que, apesar de não terem feito parte de bandas conhecidas, fazem um trabalho primoroso em ‘Past Life Regression’. Afinal, quando há um repertório lotado de canções que mudam de dinâmica constantemente, você PRECISA de uma cozinha que acompanhe com precisão e a força necessária. A nervosa “These People Are Animals” mostra justamente como Lynch moi o kit de bateria e Johnson propõe ótimas linhas de baixo o tempo todo.

Embora soe mais jovial que o The Mars Volta e o At The Drive-In, a Orbs faz parte da mesma estirpe: uma banda que presa pela criatividade e procura meios de perverter as composições, transformando-as em coisas que ouvintes possam exclamar: “Nossa, que louca essa parte!” A recusa de fazer uma música linear e fácil de digerir é o que garante a originalidade da proposta. Nem mesmo os vocais facilitam para o ouvinte, alternando entre o intenso, o raivoso, o infantil, o arrastado e o limpo (como na faixa “Exploded Birds”), interpretando diversos personagens na mesma faixa. Afinal, trata-se de um disco conceitual com “histórias de reencarnação e suas mais estranhas formas”.

Goste ou não do resultado final, tenha ou não você paciência para chegar à metade do álbum, saiba que não deve desconfiar da qualidade musical dos envolvidos. Nenhum músico mostra preguiça, não há uma levada que não valha a pena prestar atenção e os climas criados por Ashley Ellyllon são certeiros para o som do Orbs ter uma qualidade viajante e etérea que sabe a hora de aparecer e a hora de dar lugar ao rock’n’roll ágil. É uma banda plural que usa a sua pluralidade com muita inteligência – mas não tenta, nem por um minuto, sacrificar essa pluralidade para agradar quem prefere uma música mais linear. ‘Past Life Regression’ exige do ouvinte a mesma pluralidade.

A descrição da banda para seu som era, há algum um tempo, era uma tentativa de representar o espaço e a natureza. Embora isso ainda possa ser encontrado em faixas como na melancólica“Giving Tree Hanging Me”, parece ser uma declaração mais restrita ao primeiro álbum, Asleep Next To Science’ (2010). O novo trabalho tem cara de ópera rock, com variações de dinâmica e intensidade coordenados para combinar com o desenvolvimento da narrativa e dos atos do personagem.

Com as bandas At The Drive-In e The Mars Volta fora dos estúdios, o Orbs acaba sendo a banda de rock experimental e progressivo que preenche a falta de um som tresloucado, visceral e bem calculado. E eles entregam o que prometeram e vão além. Não é preciso ter ouvido todas as bandas citadas para entender o que se passa com esse supergrupo, mas só mesmo ouvindo “Death Is Imminent (However, Relative)”“Dreamland II”“El Burro” e “Peculiar, Isn’t It?” para ter noção de verdade do que eles propõem e de como são originais.

—————————————-

FICHA TÉCNICA:
Artista: Orbs
Ano: 2016
Álbum: Past Life Regression
Gênero: Alternativo / Post Rock / Post Hardcore
País: EUA
Músicos: Dan Briggs (guitarra, baixo), Ashley Ellyllon (teclados), Adam Fisher (vocais, guitarra), Chuck Johnson (baixo), Matt Lynch (bateria)
MÚSICAS:
1. Death Is Imminent (However, Relative)
2. Dreamland II
3. Jaws on Repeat (Life on Hold)
4. Peculiar, Isn’t It?
5. These People Are Animals
6. Exploded Birds
7. Giving Tree Hanging Me
8. Not That Kind of Ouroboros
9. El Burro

Ouça


Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

1999 - Toumani Diabate e Ballake Sissoko - New ancient strings

  01 - Bi lamban 02 - Salama 03 - Kita kaira 04 - Bafoulabe 05 - Chiekhna demba 06 - Korobali 07 - Kadiatou 08 - Yamfa MUSICA&SOM