terça-feira, 18 de outubro de 2022

Thought Bubble – Nowhere (2022)


 

Que som é este que nos chega de supetão e de maneira tão inesperada? Que objeto sonoro levanta voo perante os nossos ouvidos e nos leva até ao mais longínquo lugar da nossa alma? São os ilustres desconhecidos Thought Bubble e o álbum Nowhere!

É muito provável que os nomes de Chris Cordwell e Nick Raybould pouco ou nada vos digam. Na verdade, o desconhecimento geral desta dupla de artistas prende-se com um dos grandes mistérios do mundo da música, tão eterno quanto impossível de se entenderem as causas por detrás do problema. Uns triunfam, outros não. Tão simples quanto isto. No entanto, estamos em crer e desejamos que a expressão do total desconhecimento deste duo não seja duradoura, até porque a injustiça seria tremenda e, como é óbvio, imerecida. É verdadeiramente isto, o que pensamos.

Mas, afinal, quem são estes indivíduos que hoje aqui vos trazemos? Para além dos nomes mencionados, apresentam-se como Thought Bubble e são uma dupla de música electrónica alternativa (se é que esse rótulo os define, de facto) capaz de nos levar em viagens por espaços nunca dantes navegados. O uso do sublinhado anterior joga, como é fácil perceber, com os versos do nosso épico, mas aqui, salvaguardando-se as naturais e totais diferenças, pretendem apenas revelar a epicidade dos temas, dos ritmos, das nuances que percebemos quando ouvimos Nowhere, álbum que verá fisicamente a luz do dia no início do outono de 2022. E, diga-se, com pompa e circunstância gráfica, uma vez que a tremenda capa do LP não deixará indiferente quem olhe para ela. O mesmo acontecerá, assim esperamos, com o seu interior, tanto sonoro quanto físico, até porque o vinil colorido fez-se moda e está para ficar.

Nowhere é o terceiro trabalho da dupla, mas também aquele que se nos apresenta com mais recheio groove. Há influências que nos parecem mais ou menos óbvias. Os Thought Bubble apresentam-se com voz e contornos próprios, mas alguns ecos de kraut dançante, digamos assim, pairam por várias das suas composições, desde logo com a intensa e inicial “Now Boarding”. É, como se entenderá pelo título e por ser a primeira faixa do álbum, o início da mágica viagem proposta pelos Thought Bubble. A alma de uma certa kosmische musik assegura a sua presença em “Superficial”, mas também é certo que a voz que nela fala (mais do que canta), lembra alguns enredos punk de uns The Stranglers, por exemplo. É uma combinação perfeita, diga-se. Por uma qualquer estranha e inquietante associação, “Superficial” faz-nos pensar em “The Man They Love To Hate”, tanto pelo estilo vocal, mas também pela força da composição. Num outro âmbito, “Distratction Engine” é um exemplo da mestria percussiva de Nick Raybould e do frenesim das teclas de Chris Cordwell. “Neon Garden”, de novo alimentada pelo pulsar algo motorika da bateria de Raybould, impõe-nos uma bela e extensa paisagem sonora em loop que poderia não ter fim, estendendo-se infinitamente (assim a queiramos imaginar) até a perdermos de vista. Um dos melhores momentos de Nowhere, sem dúvidas! “Response”, a quinta composição do álbum, é mais contida, mais contemplativa, embora não se perdendo em vazios inférteis que tantas vezes surgem em temas mais ambientais. Há sempre marcas de vigor, de virilidade rítmica. “Control” é puro groove, embora por vezes nos passe pela cabeça que se fosse apenas uma faixa instrumental, sairia a ganhar com isso. No entanto, é irresistível no seu swing. É imperioso destacar ainda o tema final, com quase cinco minutos de duração. Parece um animal selvagem em plena correria, livre e solto, e a voz de Laura Pickering é a cereja no topo do bolo. Que maneira maravilhosa de terminar este Nowhere!

Assim, agora que vos deixámos algumas das impressões que retirámos de Nowhere, podemos assegurar-vos que os minutos desta viagem cósmica passam num ápice. Quase não damos pelo tempo e, de súbito, já a trip terminou. No problem, diriam Chris Cordwell e Nick Raybould. Podemos sempre voltar a carregar no play. Claro que sim, e com muito gosto.

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