Mais despida do que nunca, a música no novo EP de Burial é um pequeno raio de sol na sua discografia invernosa.
William Bevan nunca desapareceu (alguns são capazes de dizer que o produtor londrino nunca chegou sequer a aparecer), mas o vulto de Untrue, o seu aclamado disco de 2007, assombra todo o trabalho que tem andado a desenvolver nos últimos quinze anos. A compilação Tunes, 2011-2019, corrigiu essa injustiça, recontextualizando os EPs lançados na década passada, permitindo que estes fossem reavaliados por si só. Com essa fase arrumada na gaveta, restava a pergunta: o que se segue?
Depois de um magnífico single, lançado em colaboração com Four Tet e Thom Yorke, chega-nos agora Antidawn, um disco que vê as tendências ambientais de Burial a serem levadas até ao extremo. Ravers, tenham em atenção: não há uma única batida ao longo dos quarenta e três minutos deste disco que, apesar de ser promovido como um EP, podia muito bem ser considerado o terceiro disco de estúdio do produtor londrino.
Em termos de textura e estrutura, Antidawn não é muito diferente dos últimos trabalhos de Burial: as vozes fantasmagóricas, os samples da vida urbana, o encadeamento de instrumentos que torna difícil distinguir o final de uma música ou secção do início da seguinte. A paisagem é maioritariamente desolada e invernosa, mas há uma pequena chama insistente que procura aquecer a música deste EP. Em “Shadow Paradise”, depois de uma secção inicial em que, sobre um orgão fúnebre se ouve alguém a cantar “Let me hold you for a while” segue-se outra em que uma outra voz incorpórea canta “Alone in a reverie”. Em discos anteriores, estas vozes soariam desoladas e escapistas. Aqui, há esperança, êxtase e resignação.
Estes pequenos momentos não tornam Antidawn um disco necessariamente feliz. Na faixa título ouvimos outras vozes a repetir “I’m in a bad place” e “Nowhere to go”, sentimentos familiares a qualquer fã de Burial. Mas aqui e ali é possível sentir o gelo a derreter. Estará William Bevan numa posição mais confortável na sua vida? Estará apenas a pregar uma partida aos seus fãs? É difícil encontrar uma resposta, mas tendo em conta que o disco acaba com uma voz a dizer “Come and get me” é sensato assumir que o artista está ciente do quão polarizante esta nova direção poderá ser. Independentemente do que virá a seguir, é difícil não desejar que esta chama cresça e nos envolva.
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