Dave Grohl mostra-se bem mais pertinente em Foo Fighters, seu disco a solo, do que no resto da sua carreira já com banda a acompanhar.
Fui revisitar este disco após ler The Storyteller, livro de memórias de Dave Grohl, que nos dá uma descontraída visão da vida do baterista de uma das maiores bandas da História. No fundo trata-se de uma coleção de pequenas histórias vividas na primeira pessoa de um tipo super porreiro, humilde e espontâneo, que se foi maravilhando com o quão bem a vida lhe foi correndo, pesem embora as dificuldades a agruras naturais antes de se atingir o “estrelato” com os Nirvana. Conhecer pessoas como Little Richard, Paul McCartney, os Pantera, os AC/DC, Iggy Pop, tudo são momentos ali partilhados na perspectiva de um fã, embasbacado por ali estar, perante quem considerava divindades da música.
Mas recuemos até ao difícil ano de 1994, e a um Dave Grohl desnorteado com a morte do seu ex-companheiro de casa, de banda, de uma incrível viagem entre clubes de rua e estádios lotados. A um Dave Grohl sem vontade de sequer pegar num instrumento, fugindo assim de memórias que se tornaram agridoces com a morte de Cobain, mas que percebeu que esse era o seu único caminho possível – continuar a fazer música. Até porque não sabia fazer mais nada, andava nesse vida desde os seus 16 anos e seria essa a melhor forma de honrar a promessa que fizera à sua mãe, de não desistir dessa via. Decidiu então ir buscar canções que tinha escrito mas nunca mostrado a ninguém, gravá-las e ver como saiam, primeiro de uma forma controlada – gravou tudo em dias e fez apenas 1000 cópias em cassete para distribuir por alguns amigos. Daí ao lançamento de Foo Fighters foi um passinho e o resto é história – do nada se criou uma banda que ainda hoje, passados 27 anos vai resistindo e fazendo música.
Neste primeiro álbum, Grohl mostrou uma habilidade notável para equilibrar melodia e caos – mesmo quando os riffs explosivos de “This Is a Call” e “I’ll Stick Around” foram parar ao red line, ele nunca perdeu a calma e o controle emocional. Penso que esta será uma vantagem face ao seguinte The Color and the Shape, onde a relação ruído/pop parece mais forçada, apesar de ter as excelentes “Everlong” e “My Hero”. Para além dos dois singles acima mencionados há também em Foo Fighters um simples “Big Me”, que encaixava como uma luva como jingle de marketing, como foi aliás vendido através do icónico videoclip Afinal de contas, Grohl é um coração mole e por baixo daquela roupagem punk que o fez crescer, admirando bandas como Fugazi, Husker Du, também há um coração beatlesco que até então estava escondido. Esta será talvez o grande dilema ou contradição com que Grohl vive a sua vida – ter-se feito homem numa banda totalmente punk, os Scream, e ter-se tornado líder de uma banda de pop rock mainstream, de fácil digestão. Talvez por isso tenha recorrido a projectos paralelos, casos de Queens of the Stone Age e Them Crooked Vultures onde, voltando ao lugar que lhe é mais natural (a bateria), ajudou a criar canções bem mais viscerais e sólidas que com os seus Foo Fighters.
Ainda assim, olhando para trás, vou teimar em contrariar algo que David defende no seu livro – que There is Nothing Left to Loose é o seu melhor álbum. Não me parece de todo, na minha humilde perspectiva se a comparação ao nível de singles fica ela por ela (“This Is a Call” e “I’ll Stick Around” batem-se ombro a ombro com “Learn to Fly” e “Staked Actors”), no resto dos respectivos discos a dissonância cresce e Foo Fighters tem mais sumo do que 95% das canções do resto da carreira dos Foo Fighters. Basta para tal mencionar “Alone + Easy Target” ou “For All the Cows”, belas malhas rock, abrasivas e melódicas, ou ainda “X-Static” que mete as “Times Like These” da vida a um canto.
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