A primeira separação de Udo Dirkschneider ocorreu logo após o lançamento de Russian Roullete (1986), sétimo registro do Accept e um álbum que não conseguiu o mesmo sucesso de Balls to the Wall (1983), principalmente em solo americano. Metal Heart (1985) já tinha sido uma tentativa de continuar o sucesso nos Estados Unidos, mas apesar de ser um álbum fantástico e, hoje, um clássico da banda e do estilo, não trazia hits tão fortes – ao gosto americano – como foi a faixa título do álbum anterior.
Sempre achei essa separação curiosa, pois a primeira coisa que as duas partes fizeram quando estavam separadas foi justamente compor juntos um disco inteiro para uma das partes. Fica parecendo que a separação não tinha sido um processo doloroso, como sempre é quando uma formação clássica perde algum componente importante, ainda mais quando se trata do seu frontman. Tanto que a sonoridade do álbum Animal House (1987) é nada mais do que uma continuação do que o Accept estava fazendo. Pode parecer tudo um pouco estranho, não é? Então, vamos contextualizar um pouco toda essa situação.
Como disse, Balls to the Wall tinha conseguido um bom desempenho pela sua faixa título ganhar muita veiculação nos EUA. Apesar da aspereza tão característica do som dos alemães do Accept, eles sempre foram feras em criar melodias e refrãos fortes e isso agrada o mercado americano. Sabemos que o tipo de som que estava se tornando popular nos EUA vinha daquelas bandas de hard rock californiana, que cultuava as festas e a diversão. O Accept não era exatamente uma banda que fazia isso, então com dois discos sem que o mercado americano tivesse a mesma receptividade do que Balls to the Wall eles decidiram que algo precisava mudar. O motivo principal para que o sucesso não estivesse vindo acabou caindo nas costas do baixinho que comandava os microfones. Sua voz é puro heavy metal, não deve existir um único headbanger qua não gosta dela, ela se encaixa perfeitamente ao som quase marcial do Accept, mas temos que admitir que há peculiaridades nela que não agradam um público mais geral, que era exatamente aquele que estava se interessando pelo som que estava sendo produzido na época. Além do mais, o visual das bandas era um fator bastante importante e mais uma vez isso prejudicou a posição de Udo Dirkschneider pois ele não era necessariamente um galã.
Porém, no meio de toda essa tomada de decisão muito material já havida sido produzido para um próximo disco do Accept, aquele que iria suceder Russian Roullete. Se tivessem que mudar de vocalista mesmo, talvez o material produzido também não fosse adequado para esse processo de mudança. Assim tudo o que foi composto durante o período foi oferecido ao próprio Udo para que ele iniciasse uma carreira solo, longe da banda. Então, esse material pode significar até mesmo um prêmio de consolação para o baixinho. Animal House foi todo creditado ao Accept e a Deaffy, pseudônimo como compositora da empresária da banda, Gaby Hoffmann, que é casada com o guitarrista Wolf Hoffmann. No fim das contas fica parecendo que a separação ocorreu de forma muito amistosa, mas fico me perguntando se lá no fundo Udo não se sentiu mal e até mesmo humilhado por tudo isso. Para a nova jornada ele reuniu músicos oriundo do Sinner, Warlock e Stallion e seguiu seu rumo.
Difícil prever o que aconteceria se eles tivessem mantido a banda e continuado. Mas na minha opinião quem se deu bem nesse processo todo foi o próprio Udo, pois após a sua saída ele teve Animal House (1987) – com uma pitada maior de hard rock acrescentado ao heavy metal comum no Accept -, Mean Machine (1989) – em que o metal na linha do Accept voltou mais à tona -, Faceless World (1990) e Timebomb (1991). Todos gravados durante o período em que esteve fora do Accept até a sua volta em 1993 em Objetion Overruled. Esses quatro disco também são considerados pelos fãs como a grande sequencia de discos gravados pela carreira solo de Udo. Já o Accept conseguiu soltar somente o fraco, ou pelo menos controverso, Eat the Heat (1989) com o vocalista David Reece, que sequer foi a primeira opção para a substituição de Udo – eles tinham colocado Rob Armitage logo após a separação. Assim, não é difícil defender que, no fim das contas, a separação foi muito mais benéfica para o Udo que conseguiu se estabelecer como um artista solo, além de ter uma volta triunfal e com muita moral para a sua antiga banda.
Entretanto a volta não produziu bem. Apesar de Objetion Overruled ter lá suas qualidades, Death Row (1994) e Predator (1996) são produções que nem de longe lembram o Accept em sua boa forma. Essa baixa qualidade acabou gerando uma nova separação e dessa vez definitiva. Udo continuou sua carreira solo e engatou oito álbuns em sequência durante 1997 até 2009, enquanto o Accept ficou todo esse tempo sendo somente uma boa lembrança dos fãs.
Porém tudo mudou quando encontraram um americano disposto a tentar trazer a banda para seus tempos gloriosos novamente e os alemães foram muito feliz na escolha. Curioso é que a retomada do sucesso do Accept acabou sendo ao mesmo tempo da fase mais fraca da carreira solo de Udo. Depois da volta o Accpet teve seu auge no já clássico Blood of the Nation (2010) e seu último lançamento The Rise of Chaos (2017) é o que teve menos impacto, além do mais a banda começou a perder a unidade como banda com constantes saídas de músicos sendo que até Peter Baltes pulou fora do barco. Por outro lado Steelfactory (2018) parece que resgatou a carreira do Udo. Parece que os deuses do metal estão dispostos a agraciar somente um dos lados de cada vez.
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