domingo, 11 de dezembro de 2022

Amaro Freitas – Sankofa (2021)


 

Disco de eleição entre os lançados este ano, Sankofa vai para lá de ser um mero disco de jazz.

O debate é recorrente – como chegar ao fim do ano e misturar, nos eleitos como melhores, discos de espectros diferentes como jazz e pop rock? Há quem opte por simplesmente não os incluir, considerando-os uma coisa à parte, há quem tente conciliar e meter tudo ao barulho. Amaro Freitas é, tal como Kamasi Washington antes dele, um conciliador nato, já que o seu Sankofa chega a todos, confluindo influências da soul como Esperanza Spalding e Erykah Badu, ou mesmo uns Roots, mas mantendo o seu registo puramente instrumental, como manda o cânone jazz. Neste, podemos apontar como maior influência Thelonious Monk, inquestionavelmente um dos grandes.

Brasileiro, pernambucano, Freitas carrega em si a pesada herança dos seus antepassados, assumida pelo próprio: “Trabalhei para tentar entender meus ancestrais, meu lugar, minha história como homem negro. A história dos povos originários, das diversas etnias que ocuparam este território, de como somos plurais. O Brasil não nos disse a verdade sobre o Brasil“. Dedicando temas a Vila Bela da Santíssima Trindade, onde ocorreu um dos principais capítulos da resistência dos escravos ao opressor colonizador (“Vila Bela”), o pianista cria uma obra cheia de curvas inesperadas, nem sempre com um tema dominante nas canções, mas com uma expressividade e energia ora contagiantes, ora tranquilizantes.

Contando com a participação de Jean Elton (Contrabaixo) e Hugo Medeiros (Bateria), com quem tem colaborado desde o início da carreira,este é o terceiro disco do compositor, depois de Sangue Negro (2016) e Rasif (2018) e a atenção que tem logrado no panorama da música jazz internacional é mais do que merecido, Sankofa é mesmo um disco que marca o ano de 2021 para este que vos escreve e para vários outros escribas aqui do Altamont.


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