bpm, o mais recente disco de Salvador Sobral nasceu num retiro no Alentejo e tem uma novidade – foi completamente composto pelo cantor.
A ver pelo barómetro spotify, o público que tanto ouviu “Amar Pelos Dois” (25 milhões de audições) já nada quer saber de Salvador Sobral – os números deste novo disco, lançado em Maio, rondam as 100 mil audições. Pubblico di merda, portanto, nas palavras (e imagens) de Nanni Moretti, que beneficiou de ter sido exposto a um diamante da música portuguesa (e além fronteiras, claro), não se apercebendo da riqueza do mesmo para lá de uma cançoneta para Eurovisão.
Desta feita Salvador dá-nos um disco mais inclinado para o jazz e menos pop que o antecessor Paris, Lisboa, mais feito à sua medida uma vez que a composição é quase exclusivamente sua, contando com a banda do costume (baterista Bruno Pedroso, contrabaixista André Rosinha, André Santos na guitarra e Abe Rábade no piano) e apoiando-se sobretudo na preciosa ajuda de Leo Aldrey, teclista e produtor do disco. As suas questões de coração continuam presentes, e a opção para nome do disco traz-nos uma bela ponte entre a música e a vida – os sempre intensos batimentos por minuto, aos quais não conseguimos fugir.
bpm contem músicas cantadas em três línguas diferentes, português, inglês e espanhol, mostrando a amplitude a que a voz de Sobral permite, e é delicioso de ser percorrido do início ao fim com estes câmbios e mudanças, de língua, de ritmo, de vivacidade que a entrada em cena dos diferentes instrumentos permitem, tornando difícil o trabalho de destacar esta ou aquela música. O facto de as letras saírem da alma do próprio também transparece (ou pelo menos a nossa percepção aceita-a como tal), mostrando-nos um lado mais desconhecido de Salvador a vir ao de cima, permitindo-nos vislumbrar o homem para lá do autor.
Ao terceiro disco em nome próprio temos um cantor e compositor em pleno controle das suas capacidades, mostrando a quem vier espreitar que é indiscutivelmente um porto seguro da música portuguesa.
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