segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Helado Negro – Far In (2021)


 

Helado Negro não veio a Portugal mas presenteou-nos com Far In, uma frondosa floresta sónica que queremos descobrir lentamente.

O primeiro concerto de Helado Negro em nome próprio estava marcado para Junho do ano passado, no Musicbox, mas, como bem sabemos, a pandemia trocou-nos as voltas e o concerto acabou por ser cancelado, deixando em suspenso a apresentação em terras lusas.

Quase um ano depois, este compasso de espera é compensado com um novo álbum. Far In, o sétimo de Roberto Carlos Lange, é um convite para uma viagem cósmica iluminada pelo pop psicadélico a que o artista já nos tinha habituado.

Com seis LPs no repertório, o americano de ascendência equatoriana sobe com segurança mais um degrau na ascensão da sua carreira. As músicas do novo álbum denotam uma crescente eloquência na colocação de sintetizadores, num discurso em que as sonoridades instrumentais e electrónica escorrem umas sobre as outras, criando no seu conjunto diferentes respirações. É como se estivéssemos prestes a mergulhar na sua frondosa floresta sónica e a quiséssemos descobrir lentamente, passo a passo, a voz acompanhando a bateria, a bateria marcando o nosso ritmo.

O vocabulário do norte-americano expande-se para lá das paredes do pop, transportada pela voz angelical que nos conduz ao longo das quinze faixas alternadas entre inglês e espanhol. As camadas melódicas e melancólicas continuam pontuadas pelas influências hispânicas e estão mais refinadas. Se pequenos diamantes como “Gemini and Leo” ou “There Must Be a Song Like You” são pequenos fogos de artifício capazes de transformar os nossos espaços mais íntimos em pista de dança e nos fazem mover independentes de olhares externos, “Wind Conversation” e “Thank You For Ever” são pequenas deambulações bucólicas desenhadas pela atmosfera construída entre a estética lo fi e um pop mais experimental.

Há também espaço para a introspecção. Se em “Telescope” Lange canta sobre a ausência e nostalgia pelo colo materno, em “Hometown Dream” ele procura reflectir e desconstruir esta espécie de orfandade que muitos sentem quando se vêem forçadamente deslocados para novas geografias. Para o músico, “the world is beautiful everywhere. The idea of a hometown is just a dream. This idea of being a native anything, I think it’s just a fantasy.”

Talvez seja por isso que seja tão imediata e prazerosa a incursão no universo tão próprio de Lange. É precisamente num tempo de pausa mudança, pausa mudança como o que vivemos e que se configura por vezes tão pouco encorajador, de que nada adianta precipitarmo-nos. A reconstrução dos nossos próprios microcosmos é possível e isso é reconfortante.


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