KUNZITE regressou. Dita a lenda que havia partido em busca de matiz musical. Não a achando, criou-a.
Para fãs devotos de RATATAT, o verão de 2021 poderá considerar-se um dos mais exímios desde que o duo de rock saboroso e eletrónico lançou o seu mais recente disco: Magnifique. Para além do lançamento do LP auto-intitulado de E.Vax, a metade cerebral do duo, Mike Stroud (guitarrista) e White Flight, que havia colaborado com E*vax em Abuela, lançam VISUALS, o segundo álbum de estúdio de Kunzite.
Garrido, suculento e rompendo o ruído de que é feita a própria pele, VISUALS chega às portas do mundo psicadélico com dezasseis faixas, duas das quais exclusivas aos discípulos do vinil. A presença de uma palete incessante em tons de guitarra fuzz e saturados satisfaz, mesmo que em parte, a carência de RATATAT, que se acentua com a perda na batalha contra o tempo. Altamente inalado pela sonoridade áspera, crua e plural a que Brian May nos habituou, o universo de Stroud continua a colocar ao dispor uma atmosfera tão harmoniosa quanto a de que o ouvinte precisará para ouvir o disco como foi intencionado: de uma só tirada.
A delicadeza atmosférica, que nasce do uso da seleção meticulosa de incontáveis texturas de sintetizadores, torna colorido todo e qualquer espaço que o cérebro musical de um ouvinte atento se atreva a dissecar. “Lemon Swayze” inaugura o disco repleta de vigor, sem a pretensão de ocultar que a hora seguinte está reservada a uma comunidade de leitores cujos leitores são instrumentos. Há, em contrapartida, um relevo vocal discreto, sobretudo em comparação com o primeiro disco da banda, Birds Don’t Fly. Neste, a voz não se coibia de vir à tona, ao passo que, em VISUALS, é invocada pela fibra instrumental para servir os seus deleites. O génio cantante, sem perder o seu carácter imperioso, dorme nos instrumentos, que o acordam em tempos de saudade.
O ritmo célere dos minutos finais de “PLN” navega em mares dançantes, altamente pautado por influências disco que ajudam a deixar suculenta a melopeia. Ainda assim, não foram rompidas as tréguas com a rítmica eclética, e prova disso é a mundividência do duo, que pulsa em canções como “Supreme Beam” ou “Cielo”. Tendo parte do disco sido concebido no estúdio da banda no Hawaii, a presença de ritmos tribais inspirados pelo coração da ilha não parece deixar reservas.
Nem o mais adormecido par de ouvidos se veria embaraçado ao classificar o álbum como um kit de receitas musicais radioativas que vai sofrendo surtos cromáticos. Visuals é um colóquio “anti-dissonante” tingido de cores solúveis, embora sem o pedantismo trivial das metáforas pretensiosas. Que se aguarde nova tacada da banda, valerá a pena.
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