segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

“Paratodos” (1993), Chico Buarque

 


Após três anos afastado da música, Chico Buarque retomou a sua carreira musical com o disco Paratodos, em 1993. O álbum anterior, Chico Buarque Ao Vivo – Paris Le Zenith, álbum duplo gravado ao vivo no Teatro Le Zenith, em Paris, em 1989, foi lançado em 1990. Entre um álbum e outro, Chico dedicou à literatura. Lançou em 1991, o seu primeiro romance, Estorvo, pela editora Companhia das Letras. A publicação recebeu em 1992 o Prêmio Jabuti, na categoria de “Melhor Romance”.

Produzido por Luiz Cláudio Ramos e Vinicius França, Paratodos é um disco que traz na capa fotos de Chico Buarque que são do seu fichamento na polícia, quando era adolescente. Em 1961, aos 17 anos, Chico e um amigo foram presos por roubar um carro. O futuro cantor cumpriu pena de seis meses de reclusão noturna em casa. Só poderia sair de sua residência durante o dia para ir à escola. A capa ainda mostra faces de outras pessoas, representando a diversidade do povo brasileiro, fazendo uma conexão com o título do disco.

O álbum começa com a faixa título, um lindo baião composto por Chico Buarque cuja letra ele presta reverência aos seus ancestrais e aos artistas da música brasileira, desde aqueles de gerações anteriores à sua e que contribuíram na sua formação musical, como Dorival Caymmi (1914-2008), Tom Jobim (1927-1994), João Gilberto (1931-2019) e Vinícius de Moraes (1913-1980), a artistas da sua geração como Caetano VelosoGilberto Gil, Gal Costa, Milton Nascimento entre tantos outros.

“Choro Bandido” é uma canção antiga, composta por Chico Buarque e Edu Lobo em 1985 para a peça teatral O Corsário do Rei, do diretor Augusto Boal (1931-2009). É uma canção de arranjos delicados e primorosos, versos carregados de sedução e cheios de referência sutis à mitologia grega. “Tempo e Artista” reflete o momento em que Chico Buarque vivia, um homem maduro, prestes a completar meio século existência. Chico saúda o seu próprio retorno à música em “De Volta Ao Samba”, após uma pausa de três anos na carreira musical: “Pensou que eu não vinha mais, pensou/ Cansou de esperar por mim / Acenda o refletor / Apure o tamborim / Aqui é o meu lugar / Eu vim”.

Dorival Caymmi, Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes:
reverenciados na canção "Paratodos".

“Sobre Todas As Coisas” tem algumas sutis “pinceladas” de blues. A letra da canção traz em versos a súplica de alguém apaixonado que foi desprezado pela paixão da vida dele. Ele associa o desprezo que sofre por parte da pessoa quem ama ao pecado: “Pelo amor de Deus / Não vê que isso é pecado? / Desprezar quem lhe quer bem / Não vê que Deus até fica zangado / Vendo alguém abandonado? / Pelo amor de Deus”. “Outra Noite”, parceria de Luiz Cláudio Ramos e Chico Buarque, é uma canção romântica, e que parece tratar sobre solidão e tédio.

No samba alegre e divertido “Biscate”, Chico Buarque faz dueto com Gal Costa cantando juntos, versos sobre um indivíduo, que sem emprego, trabalha fazendo biscate e reclama da esposa, que segundo ele, quer vida “mansa”. Em “Romance”, o eu lírico presta sua devoção à mulher que ama.

A faixa seguinte, “Futuros Amantes”, é talvez a faixa mais famosa do disco Se notabilizou pelos versos: “Não se afoque não, que nada é pra já”. O amor aparece nesta canção tão especial como um objeto raro de uma antiga civilização, e que séculos mais tarde, é descoberto por pesquisadores no fundo das águas para ser desfrutado pelos amantes do futuro. A partir da turnê promocional do álbum Paratodos, “Futuros Amantes” passou a ser uma presença constante no repertório das turnês posteriores de Chico Buarque.

“Piano Mangueira” é uma homenagem de Chico Buarque e Tom Jobim à escola de samba Mangueira. Foi uma das últimas canções gravadas por Jobim, que faz harmonização vocal com Chico Buarque nesta faixa. “Pivete” retrata a triste realidade social dos garotos de rua das grandes cidades brasileiras. O álbum fecha com “A Foto da Capa”, inspirada nas fotos de fichamento policial de Chico Buarque na adolescência, após ter roubado com um amigo um carro.

Em janeiro de 1994, Chico Buarque fez uma temporada de shows no Canecão, no Rio de Janeiro, que deu início a uma bem sucedida turnê que percorreu as principais cidades brasileiras.


Ouça na íntegra o álbum Paratodos


"Paratodos" 
(videoclipe oficial)

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