Deniz Cintra - Balada dos Homens e Mulheres Sentados
Felizmente, na contracapa do EP que resgatámos recentemente de uma loja de antiguidades, consta um texto de apresentação de Deniz Cintra escrito por Nuno Portas (adaptado de um depoimento publicado em “A Mosca” em 13 de Setembro de 1969), que pelo seu interesse e dada a nossa falta de informação sobre Deniz Cintra, passaremos a transcrever nos seus parágrafos essenciais:
“A balada, prenúncio de uma nova geração, não tem tido as mesmas condições de expressão de outras espécies de música dita ligeira mais ou menos comercial quer pelo desconforto temático que introduz, quer pela perturbação que poderia introduzir, quando atingida dimensão popular, nos interesses organizados da indústria e no clima passivo dos espectáculos musicais. Por este motivo interessa discuti-la – não na base das duas intenções mas antes nas potencialidades de comunicação-participação, ou de outro modo, na força que contenha ou possa desenvolver para a criação de um espaço cultural de gente nova acordada - em ritmo-comum. Daí a dívida que temos pelo arranque dado por um José Afonso ou um Adriano Correia de Oliveira (...)
Na nova canção (balada será termo demasiado particular de um género demasiado revivalista) o interprete é a chave do elemento significante ao mesmo nível das palavras e do tema musical. A sua forma de cantar é já em si mesma parte decisiva da mensagem: a que nos permite perceber a autenticidade, o inconfundível. Por isso senti na força irresistível vocal do Deniz Cintra, quando o ouvi ao vivo, potencialidades para romper com a relativa passividade, talvez de ilustradores de poema, que me parece dominar na actual fase desta forma de comunicação, a que atribui uma importância cultural própria para além de uma intenção de alargamento do consumo da poesia-escrita que me parece bem secundária e mesmo esteticamente equívoca. O suporte poético usado (cantado) na nova canção não pode senão sofrer nela uma metamorfose, não pode senão ser traído, em nome de outra vontade e de outra forma e de outro tempo de comunicar. É a incessante re-descoberta da comunicação colectiva, feliz, que a todos importa.”
Fica então hoje, um pequeno relato de Deniz Cintra, conforme o texto citado anunciava, um cantor promissor na renovação da balada em Portugal, tal como Dylan e Baez o foram ao mesmo tempo, cuja voz sentida, profunda e melancólica, a espaços nos conduz ao timbre de um José Almada, outro cantor também relativamente esquecido dos portugueses.
Clique no Play para ouvir um excerto de "Balada dos Homens e Mulheres Sentados"
Lado 1. Manuel (D. Cintra) Pobre Velho (D. Cintra)
Lado 2. Balada dos Homens e Mulheres Sentados (D. Cintra)/ Maria do Ó (D. Cintra)
Philips 431 932 PE
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