segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Pink Floyd Time: fatos sobre a música que podem mudar sua vida


Porque os Pink Floyd e Time? Porque o assunto central deste artigo é a música ‘Time’, que integra um dos melhores discos de todos os tempos, e o que ela ainda pode nos ensinar cerca de 50 anos após seu lançamento. Na verdade, sempre é tempo de se aprender alguma coisa com a banda Pink Floyd.

O disco ‘The Dark Side of the Moon’ foi o ápice musical de Roger Waters (vocal e baixo), David Gilmour (vocal e guitarra), Nick Mason (vocal e teclados) e Richard Wright (bateria), já não mais dependentes do ex-integrante Syd Barrett (vocal e guitarra), e também atestou David como um dos maiores guitarristas da história.

O bom gosto do co-produtor Christopher Thomas temperou cada detalhe e ajudou a tornar o álbum um dos mais vendidos de todos os tempos, algo impressionante por se tratar de rock progressivo, estilo tido como não adequado para radiodifusão, bastante elaborado, menos popular e comumente associado a intelectuais.

‘Time’ é uma música fascinante que integra o lado A de ‘The Dark Side of the Moon’ (1973), long play (LP) considerado um dos mais importantes de toda a história da industria fonográfica. Não é nenhum exagero afirmar que a canção em questão foi e continua sendo forte fator para o gigantesco sucesso da bolacha.

Tendo figurado durante 15 anos na lista anual dos mais vendidos da Billboard, ‘The Dark Side of the Moon’ está situado bem no meio da história discográfica do conjunto. Na discografia do Pink Floyd, este trabalho inovador gravado por Gilmour, Waters, Wright e Mason sucedeu 7 e antecedeu outros 7 dos 15 álbuns do grupo.

O disco contém 2 suítes, cada lado tem 5 canções interligadas. O álbum inteiro está atrelado a um conceito, mas devido ao meio pelo qual eram comercializadas as músicas — o LP de vinil —, o lado A, especialmente, funciona como uma única faixa (para ouvir o B na sequência antes de inventarem o CD era preciso pausar a vitrola).

Uma das inovações nesse trabalho do Floyd foi que os músicos trataram nas letras de suas próprias experiências em vez de temas de filmes etc. O ponto central e subjetivo que norteia o álbum, portanto, seria as pressões que os integrantes estariam sentindo, muitas das quais todo humano também sente em maior ou menor grau.

Muito já se falou sobre um dos álbuns mais lucrativos da história (estima-se terem sido vendidas 250 milhões de cópias, 45 milhões certificadas), mas eu não vi nenhum artigo ou vídeo explicando que o conceito da obra é evidentemente o Existencialismo, corrente filosófica que reflete sobre o drama real da existência humana.

O assunto parece ser o estresse ao qual os integrantes da banda estariam submetidos na época, viajando para um lado e para outro do planeta e intercalando turnês com intervalos dentro de estúdios de gravação; Roger Waters também afirma que o medo da morte era constante, já que viajavam quase sempre sempre de avião. Será?

Pink Floyd Time: Roger Waters foi om principal letrista do grupo de rock progressivo, tendo criado o conceito de 'The Dark Side of the Moon''
Roger Waters. Imagem: Bryan Bedder/Getty Images

Ora, ninguém nunca passou uma vida inteira sem enfrentar nenhum problema, por mais sortuda que a pessoa tenha sido. Na vida de todo ser humano sempre haverá momentos de: dúvidas, inseguranças, doenças, traições, desilusões, mortes de parentes, tropeções, pequenos e grandes percalços etc. É assim mesmo.

Do mesmo modo, nunca ninguém passou toda uma existência sem desfrutar algum momento de alegria e felicidade. Quantas vezes até coisas bem simples nos fizeram felizes? Encontrar certa pessoa inesperadamente pode trazer imensa dose de alegria. Comer nosso prato favorito também. Receber um elogio idem.

O nome disso é viver. A existência é pontuada por altos e baixos. Ninguém jamais teve uma vida 100% monótona onde nenhum acontecimento interferiu em sua realidade. Logo, não faz sentido sentir pena de rockstar bem sucedido porque ele trabalhou duro; normal é ter empatia por uma criança miserável pedindo esmola, por exemplo.

Evidentemente os sensíveis integrantes do Pink Floyd estavam sendo cada vez mais requisitados ao mesmo tempo em que ganhavam mais e mais dinheiro. Contudo, quase todo o drama descrito ali só faz algum sentido pelo lado poético ou então se projetado na vida do homem comum de meados do século passado.

Analisando a mensagem embutida em ‘Time’ (que significa ‘tempo’em inglês), canção responsável por 90% da relevância do lado A, vemos que o início da letra fala da agonia de sentir o tempo passando sem poder impedi-lo, aproximando-nos do inexorável fim. Já no final, lembra como nos faz felizes voltarmos para nossos lares.

Uma pessoa normal quer viver e ter momentos felizes. O tempo nada mais é que a própria existência; não se deve tentar impedir a passagem do tempo, pois isso significa ser contra o ciclo natural da vida. A letra de ‘Time’ também serve de alerta para não desperdiçarmos nossa existência longe do que nos é realmente importante.

O Existencialismo ensina que viver nada mais é que tomar decisões que inevitavelmente causarão consequências, pelas quais devemos nos responsabilizar. Cabe a cada um tomar as rédeas do próprio destino, crendo ou não em um sentido maior para a vida. O tempo não anda para trás, é preciso sempre olhar pra frente.

O aspecto subjetivo do disco se projeta no conteúdo das mensagens nas letras, que são as experiências pessoais dos membros, em especial do letrista Roger Waters. Estas tratam implicitamente também do colapso de Barrett e seu impacto na vida dos integrantes, mas esta parte está no lado B que não abordaremos aqui.

O lado A do disco foi construído em torno de ‘Time’ e em partes que compõe sua introdução — duas instrumentais (‘Speak to Me’ e ‘On the Run’) e uma canção (‘Breathe’) que será inserida novamente no fim de ‘Time’ — e o lindo desfecho na canção ‘The Great Gig in the Sky’. A suíte do lado A aborda um ciclo de vida completo:

A questão da angústia descrita em ‘Time’ na narrativa de alguém que tenta vencer o tempo foi resolvida pelo exemplo de vida dado pelos próprios integrantes do Pink Floyd que transformaram a obra-prima em legado, em algo imune à ação do tempo, que não envelhecerá e que os tornará também, de certo modo, imortais.


Deixar um pouco de lado letras e conceito e passar uma lupa na produção da obra-prima do Pink Floyd nos ensina que sermos criativos e fazermos as coisas com esmero acima do normal pode ser a chave da realização em qualquer ramo. É fato que os integrantes da banda almejavam o sucesso e se esforçaram muito para alcançá-lo.


‘The Dark Side of the Moon’ foi um álbum cuidadosamente planejado para o sucesso. Por exemplo: o apoio da gravadora permitiu gravar em meses o que outras bandas gravavam em dias, e a estratégia do Pink Floyd de ir testando as músicas em diversas versões ao vivo — antes e durante a gravações — possibilitou a lapidação das gemas.


Em tempo: este artigo está enriquecido com áudios e vídeos, alguns raros contendo apresentações ao vivo em gravações piratas feitas entre 1972 e 1973 — enquanto o disco ainda estava sendo gravado — e que servem para comparar a evolução nas harmonias e nos solos das canções, em especial as do lado A.

Tendo os vídeos e áudios como parâmetros, percebe-se, por exemplo, que a maior intensidade dramática na voz de Gilmour na versão em estúdio de ‘Time’ é proporcional a do barulho dos relógios posteriormente adicionados pelo engenheiro de som Allan Parsons e também a do som da guitarra do músico durante o solo.

Voltando ao assunto, Mason diz que o que fez de ‘The Dark Side of the Moon’ um disco especial foram múltiplos aspectos: letras (‘composições tão relevantes para jovens de 23 quanto para senhores de meia idade’), qualidade das melodias, técnicas da engenharia de som, capa do disco e apoio da gravadora Capitol Records dos EUA.


As gravações foram feitas no estúdio Abbey Road, onde os Beatles haviam gravado o igualmente icônico e revolucionário álbum ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’. O local era o único que tinha uma mesa com 16 canais, e os álbuns anteriores do Pink Floyd haviam sido gravados em 4 ou 8 canais .


Para tanto foi usado o então revolucionário Som Quadrifônico (Estéreo 4.0, atualmente conhecido como Surround), que ao ser reproduzido com o equipamento adequado permitia que quatro auto-falantes instalados em quatro diferentes pontos de uma sala fornecessem individualmente uma parte distinta do conteúdo do disco.


Essa tecnologia objetiva propiciar ao ouvinte uma experiência mais próxima do que seria estar numa apresentação ao vivo, bem como, no caso específico, dividir pelos 4 cantos os vários e inovadores efeitos sonoros daquele disco tão especial. No entanto, por motivos mercadológicos, a técnica foi abandonada ainda nos anos 70.


A obra (lançada no Brasil em Estéreo) foi remasterizada em 2011 para formato CD, DVD e Blue Ray. Mais recentemente, novas tecnologias permitiram mais aprimoramento na qualidade do som graças em grande parte ao trabalho meticuloso inicial do engenheiro de som Alan Parsons (que foi quem convidou Clare Torry).

Segundo David Gilmour, o álbum que todo mundo conhece e ama atualmente é a terceira geração dentre as gravações. Foram remixados e sincronizados baixo, bateria e guitarra rítmica da gravação original no formato Super Audio CD, que reproduz de forma muito superior em qualidade ao CD e ao DVD.

Como podemos perceber, além das ótimas letras, das melodias perfeitas, dos solos de guitarra épicos e das inovadoras e trabalhosas técnicas utilizadas em estúdio no Século XX, o Pink Floyd continuou nos ensinando o caminho das pedras para o sucesso ao continuar buscando a excelência em respeito aos fãs no Século XXI.

Considerado um das maiores grupos de rock de todos os tempos, o Pink Floyd ajudou a aprimorar esse amado gênero musical rebelde, utilizando, desde seu início até o fim de seu reinado, referências de outros estilos mescladas ou mesmo elementos totalmente inéditos, criativos e inovadores, tanto nas letras quanto na sonoridade.

De fato, no fim dos anos 60 a banda já fazia sucesso no underground londrino com muita doideira e improviso ao vivo. Era indiscutivelmente uma banda de rock experimental capitaneada pelo ícone do psicodelismo, o guitarrista e vocalista Syd Barrett, o qual sucumbiu à loucura após ingerir continuamente doses de LSD.

Mas o grupo começou mesmo a subir os degraus rumo ao topo com a entrada do guitarrista David Gilmour, inicialmente como reserva do já lesado Syd. Este não comparecia a shows e ensaios ou comparecia apenas para ficar entoando a mesma nota na guitarra, entre outras pirações. Até que não deu mais e Barrett saiu de vez.

A até hoje cultuada fase psicodélica durou 4 álbuns: ‘The Piper at the Gates of Dawn’ (1967), ‘A Saucerful of Secrets’ (1968), ‘More’ (1969) e ‘Ummagumma’ (1969). Até então, o conjunto estava preso às canções lisérgicas e era constantemente chamado para compor trilhas para filmes experimentais e vanguardistas.

A partir do quinto e do sexto álbuns, respectivamente ‘Atom Heart Mother’ (1970) e ‘Meddle’ (1971), o estilo blueseiro de Gilmour começou a aparecer mais do que antes, quando este tentava imitar o estilo psicodélico de Barrett. Junto com a guitarra, o teclado de Richard Wright, outro músico bem técnico, também teve nítido upgrade.

Os álbuns que se seguiram corresponderam todos a uma imensa subida na qualidade técnica, nos arranjos, nas harmonias e nos solos, muito embora a substituição de estilos — psicodélico por progressivo — tenha sido gradual e muito embora também a alma lisérgica, assim como a de Syd Barrett, ainda tenham pairado por ali até o fim.

A metamorfose ocorrida entre as fases do grupo transformaram-no de simples expoente do underground psicodélico londrino e produtor de trilhas sonoras para filmes experimentais (sem juízo de valor) em referência para o que passou a ser chamado prog rock, bem como num dos pilares mais sólidos do art rock.

Voltarei a abordar o Pink Floyd e até mesmo o lado B de ‘The Dark Side of the Moon’ em uma próxima ocasião. Gostou deste post? Espero que sim. Críticas e sugestões são sempre bem vindas e podem ser feitas no democrático espaço para comentários, logo abaixo desta postagem.

Abaixo, meu ‘videoclipe’ favorito de ‘Time’, a única faixa de um dos álbuns mais importantes da história do rock composta pelos 4 integrantes. 

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