terça-feira, 6 de dezembro de 2022

POEMAS CANTADOS DE SERGIO GODINHO

Organização Popular

Sérgio Godinho

 

Eramos para cima de um milhão

de moradores sem eira nem beira

a fazer das tripas coração

cada qual da sua maneira

a viver sem água

e a viver sem geito

a viver sem trégua

uma vida a eito

em barracas velhas

e andares desfeitos.


E da conjunção destes factores

pouco a pouco nasceu a ideia

de formar comissões de moradores

elegíveis em assembleia

e exigimos muito

fizemos projectos

ocupamos casas

e erguemos tectos

com a população

e até alguns arquitectos.


Vamos pr´a frente

Com a organização popular (Bis)

Vencer é lutar.


Eram várias vezes um milhão

vários milhões de trabalhadores

a fazer das tripas coração

e a sonhar com dias melhores

a vender o corpo

e a comprar migalhas

a emprestar a vida

e a viver ao calha

e a ser despedido

por dá cá aquela palha.


E da conjunção destes factores

pouco a pouco nasceu a ideia

de formar comissões de trabalhadores

elegíveis em assembleia

lutamos primeiro

para sobreviver

mas no fim de contas

para enfim poder

mudar o destino

lutar e vencer.


Vamos pr´a frente

Com a organização popular (Bis)

Vencer é lutar.

 


Os Afectos

Sérgio Godinho


Ah, quanta mágoa repetida

Ah, quantos sonos incompletos

Mas oh, quanta palavra tomou vida

Na nascente dos afectos

Desorganizados alfabetos


Não sabe ler neles quem pensa

nem lhe conhece bem as cores

quem por secundários os dispensa

aos afectos medidores

do corpo e da alma e seus sabores


Porque o quadrado da hipotenusa

é igual a já não sei quê dos catetos

a traça do passado é tão confusa

mas tão límpida a lembrança dos afectos

são fartos e temíveis

são as cordas sensíveis

quietos irrequietos

p´ra sempre

politicamente incorrectos

os afectos, os afectos


Era de uma espécie quase extinta

foi encontrada adormecida

a cara talvez em paz, talvez faminta

esperando a investida

de um só beijo que a devolva à vida


Já que se pede ao amor loucura

não se lhe dê veneno à flecha

nem triste pecado à mordedura

abre o pano e até que fecha

o amor busca nos afectos a deixa


Porque o quadrado da hipotenusa

é igual a já não sei quê dos catetos

a traça do passado é tão confusa

mas tão límpida e lembrança dos afectos

são fartos e temíveis

são as cordas sensíveis

quietos irrequietos

pra sempre

politicamente incorrectos

os afectos, os afectos

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