Há décadas já se ouve que o rock’n’roll está no CTI, ou em coma, ou com morte cerebral… mas, será que o próprio rock tem culpa nisso? Para elucidar melhor o que está acontecendo com a música nos últimos anos, precisamos voltar algumas décadas e entender, de forma breve, o funcionamento da indústria musical. Quando o rock surgiu, nos anos 50, da maneira que nós hoje entendemos como tal, teve sua formatação dada por Chuck Berry que começou a usar as características de acordes com duas notas do blues no piano em uma guitarra de maneira agressiva, o que estabeleceu o ritmo e a característica do rock, nítido na música “Maybellene”. Não estou falando que ele inventou o rock, mas formatou-o dessa maneira.
Veio então uma sequência de músicos como Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard entre outros, mas foi Elvis quem disseminou a imagem do rock. Chuck Berry sempre agradeceu o fato de Elvis ter aparecido, um homem branco, pintoso e cantando o mesmo estilo que ele, senão ele continuaria no gueto. OK, mas quem vai salvar o rock?
Calma aí… o rock foi criado pelos americanos e na década seguinte aparecem os Beatles, que formataram o estilo em uma maneira MUITO mais simples de se executar, elevando a música a todos os cantos do mundo. Surgiu aí talvez uma primeira receita para se quebrar excessos: a simplicidade. Os próprios Beatles decidiram refinar mais o próprio som e apresentar um trabalho mais maduro, elaborado, atemporal e estenderam o tapete para as bandas britânicas invadirem o mundo.
Analisando os expoentes musicais por décadas, vamos percebendo a oscilação artística que o rock apresentou: – Anos 50: Chuck Berry, Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard, todos eles apresentavam um som agressivo para os padrões da época, eram artistas solo de indiscutível qualidade. – Anos 60: Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix e o início da psicodelia, tornando a música basicamente feita por grupos, que começou a década com um som simples e terminou de forma requintada. – Anos 70: Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath e Yes são alguns dos exemplos da explosão fractal do rock que surgiu nessa década. Para se fazer música, tinha que ser um artista diferenciado, pois não havia espaço para enganação, era tudo real, viril e meritocrático.- Anos 80: consolidação do AC/DC, Van Halen, Metallica e Iron Maiden como exemplos de que o rock continuava a sua mutação, ainda impondo qualidade musical, novidades constantes e autenticidade. – Anos 90, o início do fim do rock: Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam e Guns and Roses formam a última linha de frente do gênero e até hoje são consideradas bandas sinônimo de rock e se tornando verdadeiros dinossauros a cada dia que passa.
Ok, o Guns não se encaixa no perfil das outras bandas que citei, mas eles foram a última grande banda de rock do planeta. Receita? Um guitarrista que não lembrava o Eddie Van Halen (e tirou a Gibson da falência) e letras dignas de submundo. Os jovens se identificaram com isso. Anos 2000? O que tivemos do ano 2000 para cá de significativo no rock? O que apareceu e marcou cenário, lotou estádios ou pelo menos já se tornou clássico? Aonde foi parar a espontaneidade, a capacidade de composição, as músicas atemporais? Vamos então entrar mais a fundo para entender o que realmente enterra o gênero.
Como não surge mais nada mundialmente relevante no estilo, as esperanças recaem sobre os ícones de décadas anteriores. Quem não ficou animado ao saber da junção de Richie Kotzen, Billy Sheehan e Mike Portnoy? Bingo! Teríamos uma voz impecável, com uma guitarra de execução brilhante, junto a um dos baixistas vivos mais importantes da história e um baterista que é uma verdadeira lenda… não tem como dar errado, certo? Pois é, mas mesmo as músicas sendo boas, o som agradável, um verdadeiro prazer ver o show da banda, parece que foi nem um pouco suficiente para salvar o rock…
As gerações que viveram os primórdios do rock se desinteressaram completamente pela renovação do estilo, enquanto os fãs jurássicos vivem em bolhas do próprio interesse musical, com ajuda da internet que não os deixam ficar isolados. A geração X ainda desfila suas camisas pretas de bandas já antigas com um orgulho ímpar, mesmo que elas já estejam surradas, mas ainda são um santo sudário no meio do cenário atual.
Venho de uma geração em que rock tocava nas rádios, foi mania no Brasil nos anos 80 com uma forte vertente própria e que nos ajudava a segmentar amigos, lugares a frequentar e até participar de reuniões de audição de discos! Comprar um disco novo era garantir um momento sabático de pelo menos meia-hora em frente ao aparelho, sem NINGUÉM te atrapalhar, concentração total nas novas faixas, sentar no melhor sofá da sala (que geralmente era ao lado do aparelho de som), apreciação da capa, do encarte, da ficha técnica e todo esse momento catártico garantia futuras audições da obra, por várias e várias vezes, até a absorção por completo. E tudo isso foi se perdendo. Então, começamos a perceber que existem vários fatores responsáveis pelo que estamos vivendo hoje. O principal motivo, porém não único, da perda do interesse pelo rock é exatamente o que foi encarado por alguns como esperança de popularização do movimento: a proliferação digital.
Depois que as músicas começaram a caber em um pen drive ou serem armazenadas em um computador, perdeu-se o momento lúdico e a audição perdeu a importância, onde atualmente se houve música por horas, seja lavando o carro, arrumando a casa, no trabalho ou durante uma viagem. Não há mais a necessidade de carregar consigo um álbum, de olhar a arte que acompanha o disco, de saber o nome das músicas e a ordem delas. A concepção de um álbum de rock perdeu o seu status a partir do momento que começou a ser armazenada junto a outros estilos musicais e de forma desordenada. O rock estava condenado à dissipação. Nos últimos 15 anos, as bandas de rock que surgem, além de descartáveis e sem novidades, apresentam sonoridade plastificada, com todas guitarras soando iguais, no mesmo volume, com baterias completas de replace, triggers, tudo quantizado, vozes super afinadas em AutoTunes da vida, baixos inaudíveis e produtores que metem a mão em tudo.
Mas a culpa deles é até pequena em comparação ao que os próprios ouvintes proporcionaram. Existem ainda produtores como o Kevin Shirley que salvam bandas, como os trabalhos que fez com o Rush e Mr. Big quando os fãs já haviam perdido as esperanças. Tive a oportunidade de assistir uma palestra do André Matos, importante vocalista do cenário nacional, na qual ele citava a ligação direta da qualidade musical com a quantidade de pessoas que tinham acesso a ela, citando desde os primórdios da música registrada e pautada até a atualidade. Brilhante maneira a qual ele abordou a fase da criação da música clássica e seu público até o bendito funk atual e seu respeitoso público: quanto maior a facilidade que a música chega até as pessoas que não tem a capacidade de entendê-la, pior ela se torna em um cenário amplo. Quanto mais desconhecedores tem acesso, mais ela se torna impura, digna. É como se fosse uma prostituição da música. Na minha época de adolescente, nas festas rolava rock nacional e estrangeiro, de vez em quando um pop. Hoje só rola o quê em festa de criança? FUNK! E ninguém toma providência…
Com a total ausência de novos talentos, seja solo ou em conjunto, é ao mesmo tempo MUITO empolgante ver uma banda como a Black Country Communion surgir e também é meio “já imagino o que vem” por conhecermos os integrantes. A voz mais impressionante do rock + uma lenda da guitarra blues + um tecladista de altíssimo nível + um baterista de sobrenome icônico… agora vai!! Glenn Hughes, Joe Bonamassa, Derek Sherininan e Jason Bonham com certeza vão tocar em todas as rádios, lotarão estádios e terão sua música eternizada, mas… peraí… também não acontece por quê? Eles tem todos pré-requisitos para fazerem boa música, assim como o Winery Dogs e já provaram por décadas que sabem fazer e… alguém compra o disco? Não, a maioria absoluta “baixa” o trabalho e está nem aí para a concepção do trabalho.
Os grandes discos clássicos do rock sempre abordaram histórias, o título era tema abundante nas músicas e assim caminhou a humanidade… até o fim do século passado. Talvez a resposta seja simples: não só o cenário mudou, mas O MUNDO todo mudou. Infelizmente a guitarra está com seus dias contados, os nossos ídolos (aqueles músicos que mudaram a história de seus respectivos instrumentos) estão morrendo, os estúdios de gravação estão acabando, estamos vendo lendas do rock tocando em clubes pequenos, sem qualquer tipo de apoio, com uma avalanche de turnês mundiais para lembrar o “disco tal mais bem sucedido da banda”. Não vou citar outros gêneros musicais ou questionar suas qualidades, mas está nítido que nunca mais surgirão outros Rush, ou um sopro de genialidade do Dream Theater (que, meu Deus, já tem mais de 30 anos de carreira!)… mas, realmente, será que nada surgiu de diferente nesses anos todos de escuridão?
Um comparativo magnífico que toma força cada vez mais é de que o rock é uma religião. Nunca foi tão fiel essa afirmação! Cada indivíduo está retendo sua fé em determinada banda ou estilo dentro do rock, os shows estão sendo feitos em locais do tamanho de igrejas, muitas dessas bandas lançam caça níqueis comparáveis a dízimos para os fãs, mesmo sendo questão de sobrevivência da dignidade artística. Sim, surgiram ótimas bandas nesse período, como a inovadora System of a Down, que teve sucesso e reconhecimento merecidos, e Foo Fighters, com uma qualidade de rock inquestionável, porém tenho lá minhas dúvidas se teria 1/3 do sucesso sem o Dave Grohl nos vocais. Temos também o Animal as Leaders, uma banda com um som inovador, super antissocial, instrumental, com duas guitarras e uma bateria, nada mais.
Essa sem dúvida não iria lotar estádios, mas tem sido extremamente prazeroso ver surgirem fãs fiéis, discos relevantes em sequência e um reconhecimento que realmente Javier Reyes, Tosin Abasi e Matt Garstka merecem. Quando o som é diferente, vira influência para outras bandas! Já se vê a influência que o Matt tem causado em alguns bateristas de rock, mesmo sabendo que o som não precisa ser bom pra ser copiado, vide Coldplay… mas quem tiver a oportunidade de ver o Animal as Leaders dia 29 no Carioca Club, não pode perder aquele último suspiro de qualidade no rock, de músicos competentes e influentes, ao vivo em São Paulo. E serve como registro e propaganda do Carioca Club porque é uma casa que passa tudo de bom que ainda vem ao Brasil.
Pois é, amigos. Jogo pra vocês a pergunta: num cenário tenebroso para a boa música como o atual (e vindouro), com a disseminação catastrófica do conceito de rock ao misturá-lo com todos outros gêneros indiscriminadamente, ainda será possível alguém salvar o rock?
Há décadas já se ouve que o rock’n’roll está no CTI, ou em coma, ou com morte cerebral… mas, será que o próprio rock tem culpa nisso? Para elucidar melhor o que está acontecendo com a música nos últimos anos, precisamos voltar algumas décadas e entender, de forma breve, o funcionamento da indústria musical. Quando o rock surgiu, nos anos 50, da maneira que nós hoje entendemos como tal, teve sua formatação dada por Chuck Berry que começou a usar as características de acordes com duas notas do blues no piano em uma guitarra de maneira agressiva, o que estabeleceu o ritmo e a característica do rock, nítido na música “Maybellene”. Não estou falando que ele inventou o rock, mas formatou-o dessa maneira.
Veio então uma sequência de músicos como Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard entre outros, mas foi Elvis quem disseminou a imagem do rock. Chuck Berry sempre agradeceu o fato de Elvis ter aparecido, um homem branco, pintoso e cantando o mesmo estilo que ele, senão ele continuaria no gueto. OK, mas quem vai salvar o rock?
Calma aí… o rock foi criado pelos americanos e na década seguinte aparecem os Beatles, que formataram o estilo em uma maneira MUITO mais simples de se executar, elevando a música a todos os cantos do mundo. Surgiu aí talvez uma primeira receita para se quebrar excessos: a simplicidade. Os próprios Beatles decidiram refinar mais o próprio som e apresentar um trabalho mais maduro, elaborado, atemporal e estenderam o tapete para as bandas britânicas invadirem o mundo.
Analisando os expoentes musicais por décadas, vamos percebendo a oscilação artística que o rock apresentou: – Anos 50: Chuck Berry, Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard, todos eles apresentavam um som agressivo para os padrões da época, eram artistas solo de indiscutível qualidade. – Anos 60: Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix e o início da psicodelia, tornando a música basicamente feita por grupos, que começou a década com um som simples e terminou de forma requintada. – Anos 70: Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath e Yes são alguns dos exemplos da explosão fractal do rock que surgiu nessa década. Para se fazer música, tinha que ser um artista diferenciado, pois não havia espaço para enganação, era tudo real, viril e meritocrático.- Anos 80: consolidação do AC/DC, Van Halen, Metallica e Iron Maiden como exemplos de que o rock continuava a sua mutação, ainda impondo qualidade musical, novidades constantes e autenticidade. – Anos 90, o início do fim do rock: Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam e Guns and Roses formam a última linha de frente do gênero e até hoje são consideradas bandas sinônimo de rock e se tornando verdadeiros dinossauros a cada dia que passa.
Ok, o Guns não se encaixa no perfil das outras bandas que citei, mas eles foram a última grande banda de rock do planeta. Receita? Um guitarrista que não lembrava o Eddie Van Halen (e tirou a Gibson da falência) e letras dignas de submundo. Os jovens se identificaram com isso. Anos 2000? O que tivemos do ano 2000 para cá de significativo no rock? O que apareceu e marcou cenário, lotou estádios ou pelo menos já se tornou clássico? Aonde foi parar a espontaneidade, a capacidade de composição, as músicas atemporais? Vamos então entrar mais a fundo para entender o que realmente enterra o gênero.
Como não surge mais nada mundialmente relevante no estilo, as esperanças recaem sobre os ícones de décadas anteriores. Quem não ficou animado ao saber da junção de Richie Kotzen, Billy Sheehan e Mike Portnoy? Bingo! Teríamos uma voz impecável, com uma guitarra de execução brilhante, junto a um dos baixistas vivos mais importantes da história e um baterista que é uma verdadeira lenda… não tem como dar errado, certo? Pois é, mas mesmo as músicas sendo boas, o som agradável, um verdadeiro prazer ver o show da banda, parece que foi nem um pouco suficiente para salvar o rock…
As gerações que viveram os primórdios do rock se desinteressaram completamente pela renovação do estilo, enquanto os fãs jurássicos vivem em bolhas do próprio interesse musical, com ajuda da internet que não os deixam ficar isolados. A geração X ainda desfila suas camisas pretas de bandas já antigas com um orgulho ímpar, mesmo que elas já estejam surradas, mas ainda são um santo sudário no meio do cenário atual.
Venho de uma geração em que rock tocava nas rádios, foi mania no Brasil nos anos 80 com uma forte vertente própria e que nos ajudava a segmentar amigos, lugares a frequentar e até participar de reuniões de audição de discos! Comprar um disco novo era garantir um momento sabático de pelo menos meia-hora em frente ao aparelho, sem NINGUÉM te atrapalhar, concentração total nas novas faixas, sentar no melhor sofá da sala (que geralmente era ao lado do aparelho de som), apreciação da capa, do encarte, da ficha técnica e todo esse momento catártico garantia futuras audições da obra, por várias e várias vezes, até a absorção por completo. E tudo isso foi se perdendo. Então, começamos a perceber que existem vários fatores responsáveis pelo que estamos vivendo hoje. O principal motivo, porém não único, da perda do interesse pelo rock é exatamente o que foi encarado por alguns como esperança de popularização do movimento: a proliferação digital.
Depois que as músicas começaram a caber em um pen drive ou serem armazenadas em um computador, perdeu-se o momento lúdico e a audição perdeu a importância, onde atualmente se houve música por horas, seja lavando o carro, arrumando a casa, no trabalho ou durante uma viagem. Não há mais a necessidade de carregar consigo um álbum, de olhar a arte que acompanha o disco, de saber o nome das músicas e a ordem delas. A concepção de um álbum de rock perdeu o seu status a partir do momento que começou a ser armazenada junto a outros estilos musicais e de forma desordenada. O rock estava condenado à dissipação. Nos últimos 15 anos, as bandas de rock que surgem, além de descartáveis e sem novidades, apresentam sonoridade plastificada, com todas guitarras soando iguais, no mesmo volume, com baterias completas de replace, triggers, tudo quantizado, vozes super afinadas em AutoTunes da vida, baixos inaudíveis e produtores que metem a mão em tudo.
Mas a culpa deles é até pequena em comparação ao que os próprios ouvintes proporcionaram. Existem ainda produtores como o Kevin Shirley que salvam bandas, como os trabalhos que fez com o Rush e Mr. Big quando os fãs já haviam perdido as esperanças. Tive a oportunidade de assistir uma palestra do André Matos, importante vocalista do cenário nacional, na qual ele citava a ligação direta da qualidade musical com a quantidade de pessoas que tinham acesso a ela, citando desde os primórdios da música registrada e pautada até a atualidade. Brilhante maneira a qual ele abordou a fase da criação da música clássica e seu público até o bendito funk atual e seu respeitoso público: quanto maior a facilidade que a música chega até as pessoas que não tem a capacidade de entendê-la, pior ela se torna em um cenário amplo. Quanto mais desconhecedores tem acesso, mais ela se torna impura, digna. É como se fosse uma prostituição da música. Na minha época de adolescente, nas festas rolava rock nacional e estrangeiro, de vez em quando um pop. Hoje só rola o quê em festa de criança? FUNK! E ninguém toma providência…
Com a total ausência de novos talentos, seja solo ou em conjunto, é ao mesmo tempo MUITO empolgante ver uma banda como a Black Country Communion surgir e também é meio “já imagino o que vem” por conhecermos os integrantes. A voz mais impressionante do rock + uma lenda da guitarra blues + um tecladista de altíssimo nível + um baterista de sobrenome icônico… agora vai!! Glenn Hughes, Joe Bonamassa, Derek Sherininan e Jason Bonham com certeza vão tocar em todas as rádios, lotarão estádios e terão sua música eternizada, mas… peraí… também não acontece por quê? Eles tem todos pré-requisitos para fazerem boa música, assim como o Winery Dogs e já provaram por décadas que sabem fazer e… alguém compra o disco? Não, a maioria absoluta “baixa” o trabalho e está nem aí para a concepção do trabalho.
Os grandes discos clássicos do rock sempre abordaram histórias, o título era tema abundante nas músicas e assim caminhou a humanidade… até o fim do século passado. Talvez a resposta seja simples: não só o cenário mudou, mas O MUNDO todo mudou. Infelizmente a guitarra está com seus dias contados, os nossos ídolos (aqueles músicos que mudaram a história de seus respectivos instrumentos) estão morrendo, os estúdios de gravação estão acabando, estamos vendo lendas do rock tocando em clubes pequenos, sem qualquer tipo de apoio, com uma avalanche de turnês mundiais para lembrar o “disco tal mais bem sucedido da banda”. Não vou citar outros gêneros musicais ou questionar suas qualidades, mas está nítido que nunca mais surgirão outros Rush, ou um sopro de genialidade do Dream Theater (que, meu Deus, já tem mais de 30 anos de carreira!)… mas, realmente, será que nada surgiu de diferente nesses anos todos de escuridão?
Um comparativo magnífico que toma força cada vez mais é de que o rock é uma religião. Nunca foi tão fiel essa afirmação! Cada indivíduo está retendo sua fé em determinada banda ou estilo dentro do rock, os shows estão sendo feitos em locais do tamanho de igrejas, muitas dessas bandas lançam caça níqueis comparáveis a dízimos para os fãs, mesmo sendo questão de sobrevivência da dignidade artística. Sim, surgiram ótimas bandas nesse período, como a inovadora System of a Down, que teve sucesso e reconhecimento merecidos, e Foo Fighters, com uma qualidade de rock inquestionável, porém tenho lá minhas dúvidas se teria 1/3 do sucesso sem o Dave Grohl nos vocais. Temos também o Animal as Leaders, uma banda com um som inovador, super antissocial, instrumental, com duas guitarras e uma bateria, nada mais.
Essa sem dúvida não iria lotar estádios, mas tem sido extremamente prazeroso ver surgirem fãs fiéis, discos relevantes em sequência e um reconhecimento que realmente Javier Reyes, Tosin Abasi e Matt Garstka merecem. Quando o som é diferente, vira influência para outras bandas! Já se vê a influência que o Matt tem causado em alguns bateristas de rock, mesmo sabendo que o som não precisa ser bom pra ser copiado, vide Coldplay… mas quem tiver a oportunidade de ver o Animal as Leaders dia 29 no Carioca Club, não pode perder aquele último suspiro de qualidade no rock, de músicos competentes e influentes, ao vivo em São Paulo. E serve como registro e propaganda do Carioca Club porque é uma casa que passa tudo de bom que ainda vem ao Brasil.
Pois é, amigos. Jogo pra vocês a pergunta: num cenário tenebroso para a boa música como o atual (e vindouro), com a disseminação catastrófica do conceito de rock ao misturá-lo com todos outros gêneros indiscriminadamente, ainda será possível alguém salvar o rock?
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