Servindo de banda sonora para dois filmes de Manoel de Oliveira, o último disco dos Sensible Soccers vê a banda portuense a expandir a sua palete sonora.
Em que consiste uma música de Sensible Soccers? Guitarras a fazerem contraponto com o seu próprio delay? Tons de sintetizador como não se encontram em mais lado nenhum? Estruturas musicais variadas? A resposta a estas perguntas foi-se tornando mais complicada com a passagem dos anos e as trocas de membros. Hoje em dia, os que sobram da formação que gravou o importantíssimo 8, de 2014, são Hugo Gomes e o Manuel Justo.
Já em Aurora se conseguia vislumbrar uma mudança no som da banda. Mais tradicionalmente eletrónico, a apoiar-se mais em texturas sintetizadas e com uma boa dose de poliritmos. Manoel, compilado a partir da sonorização de dois filmes de Manoel de Oliveira, mantém esta tendência e expande-a. Talvez pelo facto destas músicas terem sido criadas para os filmes, há mais nuance nas ambiências criadas pelo grupo, com a adição de flautas e saxofones em algumas das músicas. “Avenida Brasil”, por exemplo, troca os sintetizadores por um piano elétrico e um saxofone, dando à música uma atmosfera tão terrena que nos faz esquecer brevemente que isto é um disco de Sensible Soccers.
O trabalho de teclas continua a ser exemplar, e a seleção de timbres dos sintetizadores foi feita com o bom gosto a que a banda nos habituou desde o início, como por exemplo o teclado fantasmagórico que dá início a “Praia da Memória” cujo título não podia ter sido melhor escolhido. Que não se pense, no entanto, que por ser uma banda sonora, que não há grooves esmagadores neste disco: “23:16”, “A Noite Inteira (Karamu)” e “Bali Hai” impõem os seus ritmos, convidando até os mais tímidos a aventurarem-se na pista de dança. A adição de steel drum, para além da novidade, dá à terceira música uma atmosfera de festividade caribenha.
Apesar do seu conceito não parecer necessariamente conducente a um bom disco, os Sensible Soccers provaram-se mais uma vez como músicos de excelência no panorama musical nacional. Manoel pode não ser tão “épico” no seu pathos como 8, nem tão dançável como Aurora mas, em termos formais, é um disco irrepreensível de Sensible Soccers. E isso é bom o suficiente.
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