Washing Machine é Sonic Youth a trocar a experimentação mais pura e dura pelo jamming com notas jazz.
Começo esta crónica com uma partilha honesta e humilde – ouvi mais vezes este disco esta última semana, para preparar o texto, do que no resto da minha vida antes disso. Sim, apercebi-me da grandeza desta banda desfasado da altura em que lançaram os seus grandes discos, indo no entanto ainda a tempo de me deliciar com Murray St., de me espantar mas também me divertir a tocar “Incinerate”, do Rather Ripped no Guitar Hero, e de os ver ao vivo na tour do seu último disco, The Eternal nas Portas de Santo Antão. Claro que me recordo de “100%” passar vezes sem conta na MTV, mas pouco mais me ficou nas entranhas dos Sonic Youth deste período entre 88 e 92, quando editaram os meus hoje tidos como sagrado Olimpo, Daydream Nation, Goo e Dirty.
Chegados a 1995 os Sonic Youth encontravam-se numa espécie de transição – já tinha brincado ao mainstream e o fim de festa que é retratado no disco anterior levou-os para outros caminhos, para um rock and roll mais intuitivo, e ao mesmo tempo mais solto. Neste álbum Kim Gordon trocou o baixo pela guitarra, resultando em texturas sonoras mais abertas, criando aqui uma obra que pode ser vista como uma boa porta de entrada para quem quer conhecer os Sonic Youth, até porque abandonaram um pouco a experimentação mais pura e dura, substituindo-a pelo jamming com notas jazz. Isto, claro está, dentro do universo da banda, porque ainda assim foram muito mais experimentais do que a maioria das bandas que lançaram discos em 1995, isso é inquestionável. Ter como música para encerrar o disco “The Diamond Sea”, com a duração de 20 minutos, não é para qualquer um. Lançá-la como single então, menos ainda. São os Sonic Youth a ser Sonic Youth, em todo o seu esplendor.
“Becuz”, canção de abertura tem uma estrutura básica, refrão repetido até à exaustão por Kim Gordon, bateria a agarrar sempre as pontas, e um devaneio ou outro mas controlado. “Little Trouble Girl” é uma espécia de lullaby, que junta as duas Kim, Deal e Gordon, históricas na sua homonimia e presença em banda alternativa. “Washing Machine” são nove minutos onde tudo acontece e “Unwind” é se calhar ocasião única na discografia da banda onde a tranquilidade prevalece sobre a cama de ruído em que é maturada.
Em resumo, Washing Machine é um belo disco, com todos os elementos que tornam esta banda diferente de todas as outras, com o seu equilíbrio perfeito entre melodia e dissonância, entre barulho e contenção, entre devaneios à la free jazz e a beleza de uma canção estruturada, tocando no âmago de um discípulo crédulo da magia do rock.
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