domingo, 25 de dezembro de 2022

The Killers – Pressure Machine (2021)

 

Em Pressure Machine, os The Killers regressam a Sam’s Town e revisitam a americana, como Bruce Springsteen.

Tenho um princípio de vida bastante simples: uma canção de Bruce Springsteen, que tenha Bruce Springsteen, se inspire em Bruce Springsteen ou soe vagamente a Bruce, é melhor do que outra canção qualquer na maioria das vezes. Como disse: é simples, prático e razoavelmente eficaz na ótica do consumidor (que sou eu), pois permite eliminar à partida cançõezinhas antes da ponte e do refrão.

Posta esta introdução em causa própria, The Killers. Bom, os norte-americanos lançaram dois álbuns em anos consecutivos, 2020 e 2021, chamados Imploding the Miracle e Pressure Machine. Sobre o primeiro, digo que tem duas, três canções muito dançáveis e bem-dispostas, com refrães agradáveis que conseguimos facilmente situar em produções anteriores da banda.

O segundo é coisa diferente: não tem purpurinas, confettis, lantejoulas, bolas de espelhos e não se ouve com vodka-laranja a acompanhar; bem pelo contrário, é seco, cru, palavroso e cheira a cerveja e a whiskey e, claro, está cheio de referências indesmentíveis a Bruce Springsteen.

Portanto, é bom; aliás, é muito bom.

Pressure Machine conta a história de uma pequena cidade onde passa um comboio que representa a fuga de um lugar mau, mas também a morte. É um exercício de storytelling em que áudios de gravações de gente da terra explica o que é viver ali precedem os primeiros acordes de cada canção.

São histórias de desespero, tragédia, suicídio, dependências várias e violência que Brandon Flowers canta embargado em cima de arranjos simples, folk-rock, naturalmente com os refrães pop que entram e nunca saem. É, se quisermos, uma aproximação a Sam’s Town, em que Flowers e companhia ensaiaram ir às raízes da Americana para de lá arrancarem uma obra que contrastava em tudo com o já mítico Hot Fuss. O texto das canções tem alguns lugares-comuns e chavões e fragilidades de alguém que parece, por vezes, não estar muito confortável na pele de cantautor, que precisa de maior arrojo e coragem; ainda assim, é assim que o prefiro ouvir e o esforço resultou em alguns temas fortes.

O que me parece, enfim, é que os The Killers podiam ter feito uma carreira diferente, menos aparatosa e teatral, mas ter-se-ão rendido à necessidade de encher espaços e entrar no mainstream, pois é no mainstream que estão as receitas.


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