O MORKT TRE (ou MØRKT TRE) outro bom nome oriundo da cena black metal do leste europeu, lançou no finalzinho de 2022 um curto, mas ótimo registro.
Disponibilizado de forma independente e virtual, o EP “Марення Осені” (2022), sucessor do impronunciável “Земля забута богом і людьми” (2020) chama atenção pela sua fúria, bom uso de teclados e passagens mais viajantes.
Quanto ao grupo, não há muitas informações a passar aos leitores: MORKT TRE, apesar de ser um grupo ucraniano, significaria o equivalente em norueguês a “árvore escura” ou “madeira escura”. A formação no Bandcamp indica quatro membros, mas sua página no Facebook, indica que seria uma dupla - e ainda assim, os nomes não coincidem. A habitual aura de mistério do black metal...
“Марення Осені” (2022) contém apenas nove faixas, sendo que quatro delas aparecem como “mix” das versões originais - particularmente, gostei mais das faixas originais, seu som soa mais denso e combina melhor com o estilo do grupo. “Мить Nіта” é uma linda música, com andamento lento e uma linha de baixo espetacular; “Зима” é uma típica música de black metal: pesada, com passagens rápidas e batera a milhão alternando com trechos mais viajantes, além de teclados bem carregados; “Стихія” tem toques de thrash metal, mais teclados e termina magistralmente com um furioso e matador solo; “Мряка” é a faixa mais bruta do disco e a instrumental “Присутній”, tocada pelo músico sueco SWARTADAUÞUZ (esse cara tem tanta banda ativa e participações em outros grupos que faltaria espaço aqui para citar sequer a metade deles), é a única que não aparece duas vezes.
Dois fatos curiosos: “Марення Осені” (2022) foi “improvisado e gravado durante um dia, em novembro de 2020”, sendo que seu lançamento só ocorreria em primeiro de dezembro de 2022, Todas as suas letras e a voz da faixa de abertura são de Yuriy Ruf, poeta, escritor e cientista ucraniano morto aos 41 anos durante combate na guerra contra a Rússia, em abril de 2022. Pode ser que o EP tenha sido lançado como uma homenagem a Yuriy...pode ser, pois tudo sobre o grupo é nebuloso e vago.
Recentemente, o MORKT TRE anunciou sua participação no tributo “Echoes Of Wizard's Chamber” dedicado ao norueguês MORTIIS com a faixa “Імператор незвіданого світу".
Fauna, sétimo disco da banda inglesa, Haken – novamente um álbum de nome solo -, será lançado somente no dia 3 de março, mas o 80 minutos teve a honra de receber o material com mais de um mês de antecedência para ser avaliado, e devo confessar, pode até ser o disco mais “sem brilho” da banda até hoje, mas passa longe de algo descartável como um todo, e tem sim vários ótimos momentos. Fauna pode ser considerado um disco conceitual, onde cada uma de suas músicas tem um animal atribuído a ela.
Em relação as músicas do álbum, Ross Jennings, vocalista da banda, disse, “ao compor e apresentar os esboços iniciais da música, tínhamos uma mentalidade de 'vale tudo' e, embora soasse atipicamente Haken, era uma peça que nos entusiasmava explorar e integrar em nosso cânone de música. No que diz respeito às letras, apoiei-me fortemente em um dos meus escritores favoritos, Philip K Dick, para me inspirar. Mantendo em mente nosso conceito vago de animais espirituais, reli Androids Dream Of Electric Sheep? (Que mais tarde seria adaptado para o filme Blade Runner de 1982) sabendo simbolicamente que os animais tiveram um papel fundamental na história. Isso, além de revisitar os dois filmes da franquia Blade Runner, abrindo alguns tópicos filosóficos mais profundos sobre a natureza da identidade que serviram de espinha dorsal para o conteúdo lírico.”
Em Fauna, a banda conta com um novato que não é tão novato assim, Peter Jones, que já havia trabalhado com a banda em Vector, onde desempenhou a função de bateria eletrônica, porém, sua vaga em Fauna é nos teclados, vaga desocupada por Diego Tejeida, que saiu amigavelmente do grupo por conta de visões musicais diferentes entre o que a banda estava tomando e ele estava interessado em fazer.
“Taurus” é a faixa que inicia o disco. Uma peça que possui um bom refrão, riffs djent e, de certa forma, alguns acenos aos discos anteriores, Vector e Virus. No geral, um ótimo e animador começo de álbum. “Nightingale” é uma combinação clássica do antigo Haken com o mais novo, sendo esse segundo tendo uma maior predominância no resultado final. Bastante pesada, mas ao mesmo tempo de linhas jazzísticas - incluindo o teclado inicial -, não vejo motivo para que não agrade todo tipo de fã da banda.
“The Alphabet of Me” inicialmente tem um teclado bastante simples e que grudou na minha cabeça de tal forma que achei que eu não fosse parar de cantarolar ele nunca mais. Confesso que a bateria eletrônica não me agradou muito. Após alguns versos sendo cantados apenas com o teclado citado ao fundo, Ross canta os versos seguintes da peça de uma maneira extremamente rápida. No fim, é uma boa mistura de seguimentos e elementos mais suaves com outros mais pesados e enérgico. “Sempiternal Beings”, começa por meio de uma bateria suave e de tempo quebrado, além de um teclado bastante tímido que ambienta serenamente o fundo da música com Ross cantando de forma melódica, até que por volta de 1:25, toda a banda entra primeiramente em uma explosão instrumental e depois se estabelece em um ritmo e peso médio. No geral, as partes mais pesadas estão nos refrãos. Um dos destaques do disco.
“Beneath the White Rainbow”, começa com muita agressividade, mas logo nos 20 segundos silencia e a faixa então entra em um ritmo muito mais lento, porém, não demora muito para mudar o ritmo novamente, sendo uma das músicas com a melodia mais diversificada do álbum. Gosto muito do refrão, bastante marcante. “Island in the Clouds” começa com a seção rítmica tocando de uma maneira bastante marcante sob alguns vocais melódicos. Quando as guitarras entram, a peça ganha mais peso. Em seu núcleo, a música fica mais lenta e os vocais de Ross ficam distorcidos, então que a faixa vai crescendo até atingir um clima sinfônico e silenciar em seguida pra preparar o ambiente para o refrão regressar à peça e encaminhá-la para o final.
“Lovebite”, com menos de 4 minutos é a peça mais curta do disco. É mais uma música que começa de forma bastante pesada e frenética, mas novamente na hora de Ross cantar pela primeira vez, diminui a agressividade e entrega um clima mais suave. Se trata de uma balada, porém, não muito melódica - exceto pelos vocais nos refrãos que soam melódicos. Confesso que mesmo sendo curta, achei uma música bem cansativa, provavelmente vou ter o hábito de pulá-la sempre que ouvir o álbum. “Elephants Never Forget”, se a faixa anterior é a menor do disco, aqui estamos diante da maior delas, com os seus pouco mais de 11 minutos. Primeiramente, o piano aparece isoladamente, logo depois, os demais instrumentos vão entrando na música até desenvolverem um ritmo bastante suingado, com Ross cantando de uma maneira muito influenciada pelos vocais do Gentle Giant – o próprio suingue da banda também é influenciado pela banda inglesa dos irmãos Shulman. Em seu decorrer, possui ótimas mudanças de andamentos, solos de guitarra e teclados, diferentes humores e um peso instrumental bastante característico da banda, minha preferida do disco. Próximo do final a música, é repetido o tema instrumental do início. “Eyes of Ebony”, quando eu li o nome dessa música pela primeira vez, foi impossível de não lembrar de “Ebony Eyes”, do finado Rick James, e grande sucesso nos anos 80. Mas enfim, vamos à música aqui em questão. É a faixa que fecha o disco. Baixo e bateria em destaque junto de uma guitarra tímida e vocais suaves começam a música, que ganha um peso por volta dos 1:57, mas não demora muito para silenciar, ficando só uma linha de baixo bastante limpa e isolada, então os demais instrumentos vão se agregando, com os vocais sendo o último a aparecer, fazendo com que aos poucos, tudo vá se tornando cada vez mais enérgico, porém, silenciando mais uma vez, criando um clima atmosférico, com Ross entrando com vocais serenos e guiando a música para o seu final e que também é o final do disco.
Mas então, vem aquela pergunta, o que Fauna representa dentro da discografia do Haken? Bom, mostra uma banda que não tem medo de mudanças, mesmo sabendo que certamente vai desagradar os mais puristas e que ainda hoje esperam algo que soe igual a Aquarius, Visions e The Mountain, os três primeiros e mais aclamados álbuns da banda. Fauna é diferente, porém, divertido, inovador – ainda que não da forma que muitos esperam – e conceitualmente admirável.
Tudo parecia estar bem com o Arena após a chegada do vocalista Paul Manzi. Com características bem distintas de seus antecessores, sua personalidade trouxe nova cara à banda, sendo que lançaram três álbuns que estão entre os meus favoritos do grupo britânico. E não é que Manzi resolveu sair?
Mais uma vez, a banda viu-se em uma nova situação de mudança de formação. Depois de um tempo, conseguiram enfim recrutar seu quinto vocalista com um nome de peso dentro da cena prog: Damian Wilson, já conhecido por fãs do estilo principalmente pelas participações nos projetos de Arjen Lucassen (Ayreon, Star One, etc.) e na banda Threshold. E mais uma vez, foi escolhido um vocalista com características diferentes do anterior, algo que, para nossa alegria, resultou em mais um grande acerto.
Damian Wilson chegou na pandemia e a banda foi meio que obrigada a dedicar-se ao novo álbum de estúdio. Geralmente funciona melhor quando a nova formação é testada na estrada primeiro, principalmente para ganhar entrosamento. Mas, assim que conseguiram pisar novamente em um palco juntos, os fãs estavam lá, prontos para recepcionar Damian. E deu tudo certo.
O Arena já vinha desfrutando do sucesso de "Double Vision", o melhor da fase Manzi. Com um bom material em mãos e tempo para pensar, "The Theory of Molecular Inheritance" não veio como continuidade apenas para cumprir tabela. É de fato uma evolução do som da banda, agora com um vocalista que consegue ainda mais explorar todas as facetas do Arena, seja quando o som é pesado ou quando é mais suave e dramático. É possível encontrar aqui passagens que remetem a todas as fases da discografia, com John Mitchell inspiradíssimo, seja com riffs ou solos de guitarra, e principalmente Clive Nolan, que resgatou o seu bom gosto pelos timbres de sintetizadores da década de 70. É neo, é clássico, é moderno, e tudo muito bem pensado e combinado. Só não é virtuoso, mas quem é fã da banda já sabe que não é aqui que você encontrará essa característica.
"The Theory of Molecular Inheritance" soa como álbum conceitual. Não consegui identificar se de fato conta uma história no decorrer do tracklist, mas as canções certamente discutem um mesmo tema, que tem a ver com genes, nosso organismo e a hereditariedade. Damian Wilson precisa ser merecidamente mencionado neste parágrafo que trata o tema lírico, já que é todo seu o mérito de entregar toda a interpretação que cada faixa pede, seja em momentos mais pesados ou naqueles mais suaves e dramáticos. Se as faixas de abertura "Time Capsule" e "The Equation (The Science of Magic)" permitem com que o fã se sinta em casa, é nas maravilhosas "Twenty-One Grams", "The Heiligenstadt Legacy" e "Under the Microscope" que o nível sobe e impressiona. "Integration" é de arrepiar e merece a menção, já que mescla um início doce com uma linda passagem instrumental, feita exclusivamente para os fãs de Genesis e da primeira fase do Marillion. Já as demais, são complementos de altíssimo nível e também merecem a atenção do ouvinte.
Como uma fênix, o Arena mostra, aqui em seu impressionante novo álbum, que mesmo com os percalços e as recorrentes trocas de vocalistas, é em seu talento musical que está a sua força, e "The Theory of Molecular Inheritance" está aí para comprovar.
Faixas:
1. Time Capsule (5:30)
2. The Equation (The Science of Magic) (6:28)
3. Twenty-One Grams (6:34)
4. Confession (2:20)
5. The Heiligenstadt Legacy (5:42)
6. Field of Sinners (6:27)
7. Pure of Heart (6:18)
8. Under the Microscope (6:51)
9. Integration (4:48)
10. Part of You (5:54)
11. Life Goes On (5:11)
Total Time 62:03
CD2 (Deluxe Edition Ear Book Only)
1. Vindication
2. The Equation (The Science of Magic) (Acoustic Version)
3. Pure of Heart (Acoustic Version)
4. The Heiligenstadt Legacy (Acoustic Version)
5. Life Goes On (Acoustic Version)
6. Twenty-One Grams (Instrumental Version)
7. Field of Sinners (Instrumental Version)
8. Part of You (Instrumental Version)
Insanidade anuncia lançamento de novo álbum “Dogs Of The Subway” em fevereiro
“Dogs Of The Subway” é o quarto álbum da Insanidade e o terceiro de estúdio. O álbum possui nove faixas e foi produzido pelo o nosso baixista e produtor Gustavo Vázquez no estúdio RockLab em Anápolis/Go. A banda anuncia o lançamento do disco em fevereiro. O quarteto se encontra dando os retoques finais ao material e em breve irá divulgar a data de lançamento.
“Dogs Of The Subway” trás praticamente todas as influências bandas, sons que vão do tradicional Rock n Roll, tem Punk, Trash Metal, Stoner/Doom, Hard Rock. Apesar da banda misturar quase todas as suas influências, é um álbum pautado no Rock n Roll bebendo na fonte de The Stooges, MC5 e The Hellacopters. São 9 sons que todo de pura roqueragem.
A capa do álbum ficou encarregado mais uma vez pelo Victor Jam (Bicicleta sem Freio) ele que já fez a capa do nosso primeiro álbum “Hello Suckers” e do álbum “Ao Vivo”.
Cê representou uma ruptura significativa na discografia do cantor e compositor baiano Caetano Veloso. Desde a década de 1990 até o lançamento de Cê, o repertório dos discos de Caetano era baseado na MPB, nos ritmos latinos e afro-baianos como axé music e o samba-reggae. Em abril de 2004, Caetano lançou AForeign Sound, um álbum em que ele regravou clássicos do cancioneiro americano, todos cantados em inglês.
Depois de A Foreign Sound, Caetano planejava gravar um álbum apenas de samba com canções inéditas compostas por ele. Mas a ideia do disco de samba se perdeu após conversas bastante estimulantes entre Caetano Veloso e o guitarrista Pedro Sá sobre rock, sobre tudo a respeito de discos de bandas alternativas do gênero que eles estavam ouvindo na época, como Pixies, Pavement, Artic Monkey e Arcade Fire. Pedro Sá já trabalhava com Caetano desde o disco Noites do Norte, lançado pelo cantor em 2000. A ideia de gravar um disco com uma levada rock foi ganhando corpo e seriedade, e em pouco tempo, já contava com uma banda de apoio para as gravações, o power trio batizado como Banda Cê formada por Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria). Uma banda enxuta, apenas o básico necessário para acompanhar Caetano Veloso nessa nova e ousada empreitada em sua carreira.
Caetano Veloso e a Banda Cê, ao fundo, da esquerda para a direita: Marcelo Callado, Ricardo Dias Gomes e Pedro Sá.
Produzido por Pedro Sá e Moreno Veloso (filho de Caetano Veloso) – os dois amigos de infância, inclusive - Cê é um trabalho em que Caetano deixou de lado os arranjos elaborados do maestro e arranjadorJaques Morelenbaum dos seus discos anteriores, e direcionou-se para uma sonoridade mais crua, simples, minimalista, inspirada no indie rock. O resultado é um frescor e jovialidade na musicalidade de Caetano Veloso.
Na época da concepção de Cê, o relacionamento de 19 anos de Caetano Veloso e Paula Lavigne havia chegado ao fim. Algumas faixas do álbum refletem esse momento difícil na vida do cantor, expondo através de versos as suas dores e ressentimentos, de maneira clara, direta e até mesmo agressiva em alguns momentos.
O fim do relacionamento conjugal do cantor aparece já na primeira faixa do álbum, “Outro”, que traz nos versos um desabafo do artista, onde reconhece os seus erros, mas que dará a volta por cima, e que quando passar por ela, ela não irá reconhecê-lo. Oposta ao ritmo frenético de “Outro”, “Minhas Lágrimas” é lenta, arrastada e melancólica.
Paula Lavigne e Caetano Veloso: fim de relacionamento inspirou algumas faixas do álbum Cê.
“Rocks” é uma faixa essencialmente rock’n’roll, faz jus ao título que possui e é mais uma das faixas em que Caetano se inspirou na sua separação com Paula Lavigne. No refrão, Caetano manda um recado direto, sem rodeios: “Você foi mó rata comigo”. A base instrumental é forte, agressiva e corresponde à crueza da letra.
Em seguida, os ânimos se acalmam com “Deusa Urbana”, uma balada carregada de erotismo nos versos, nos quais Caetano demonstra uma completa devoção erótica ao corpo feminino. “Waly Salomão” é uma canção em que Caetano Veloso presta homenagem ao poeta baiano tropicalista que dá nome à música, falecido em 2003: “Meu grande amigo / desconfiado e estridente / eu sempre tive comigo / que eras na verdade / delicado e inocente”.
“Não Me Arrependo” é a melhor faixa do disco, e é também mais uma das canções do disco que tocam na separação conjugal de Caetano e Paula. Aqui, o tom confessional do cantor é mais ameno. Caetano faz uma espécie de análise do relacionamento que vivenciou com a ex-mulher e, apesar de tudo, para ele a história que viveram juntos permanecerá: “Não, nada irá neste mundo / Apagar o desenho que temos aqui / Nem o maior dos seus erros / Meus erros, remorsos / O farão sumir...”.
Seduzido pela beleza da modelo Ilde Silva, Caetano Veloso compôs “Musa Híbrida”. O título faz referência à miscigenação racial da modelo baiana, retratada na letra da canção: “A minha voz tão fosca / brilha por teus lábios bundos / a malha do teu pelo / dongo, congo, gê, tupi, batavo, luso, hebreu e mouro / se espalha pelo mundo / vamos refazer o mundo / teu buço louro / meu canto mestiçoso”. Após o fim do seu relacionamento com Paula Lavigne, Caetano teve um breve romance com Ilde Silva.
Musa inspiradora: a modelo baiana Ilde Silva foi a inspiração para Caetano Veloso compor "Musa Híbrida".
“Odeio” também reflete o fim da relação conjugal de Caetano e traz um refrão direto, claro e cheio de raiva: “Odeio você, odeio você”. A irônica “Homem” trata sobre a masculinidade, onde Caetano diz que das mulheres, inveja apenas a “longevidade e os orgasmos múltiplos”. Em “Porquê?”, Caetano canta estranhamente versos repetitivos com sotaque português. “Um Sonho” é mais uma canção presente no álbum inspirada em mulher, e teria sido dedicada por Caetano à atriz e modelo Luana Pivani.
O álbum termina com “O Herói”, uma música que é mais declamada do que cantada. A letra é sobre um militante negro que se opõem à falsa “harmonia racial” brasileira, mas que depois se descobre um “homem cordial” e instaurador da “democracia racial”.
Lançado em setembro de 2006, Cê (expressão que é uma corruptela de “você”), surpreendeu o público e a crítica. Após um álbum como A Foreign Sound, ninguém imaginaria que Caetano lançaria um trabalho com uma proposta radicalmente diferente, completamente inspirado no indie rock, muito embora experiência do cantor baiano com o rock não fosse uma novidade. Desde o primeiro álbum solo, em 1968, passando pelo álbum Transa (1972) e Velô (1984), Caetano experimentou elementos do rock nas suas canções. Mas em Cê, Caetano já era um artista com 64 anos de idade, mas bebia em referências do rock contemporâneo e estava acompanhado de jovens músicos na faixa dos trinta e poucos anos. Essa virada musical de Caetano revigorou o seu trabalho e o aproximou ainda mais das novas gerações.
O lançamento do disco foi sucedido por uma turnê em que Caetano foi acompanhado pela Banda Cê, a mesma que gravou com ele o álbum Cê. Em setembro de 2007, foi lançado o CD e DVD Multishow ao Vivo: Cê, gravado ao vivo num show na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Ainda em 2007, Caetano foi premiado com o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Compositor” e a canção “Não Me Arrependo” ganhou na categoria “Melhor Canção Brasileira”.
Cê foi o início de uma trilogia que inclui os álbuns Zii e Zie (2009) e Abraçaço (2012), quando encerrou-se a parceria de Caetano Veloso e a Banda Cê.
Faixas
Todas as canções foram compostas por Caetano Veloso.
“Outro”
“Minhas Lágrimas”
“Rocks”
“Deusa Urbana”
“Waly Salomão”
“Não Me Arrependo”
“Musa Híbrida”
“Odeio”
“Homem”
“Porquê?”
“Um Sonho”
“O Herói”
Banda Cê: Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria).
Em 2005, Journey comemorou o trigésimo aniversário do lançamento de seu álbum de estreia. A água havia corrido por baixo das pontes, mas o time havia se estabilizado desde a saída de Steve Perry, substituído pelo ilustre Steve Augeri, e o grupo parecia ter se recuperado da perda do contrato na Columbia, tendo se refugiado na Europa com o Frontiers, que comercializou seu EP autoproduzido em 2002. Este, sombrio e bastante brutal, dificilmente foi do gosto dos fãs de AOR, e Journey parecia ter notado isso, porque Generations parece à primeira vista ter a visão oposta.
Como prova de boas intenções, após dois discos produzidos por Kevin Shirley, o Journey voltou a juntar-se a Kevin Elson, que, recordemos, co-produziu, entre outras coisas, dois dos álbuns mais famosos da banda: Escapee Frontiers . A produção, no entanto, não deixará de ser severamente criticada por alguns dos fãs, culpa talvez de um som de bateria muito seco. Em retrospecto, e tendo sofrido o mingau sonoro do novo álbum , ainda estamos inclinados a engolir nossas picuinhas sobre a produção deste Generations, e especialmente porque com títulos como "Faith In The Heartland" e "The Place In Your Heart", estamos bastante na festa. Essas músicas com melodias cativantes são mais ou menos as mesmas que reuniram tantos amantes da música em Journey nos anos 80. Steve Augeri, com sua voz tão próxima de Steve Perry (sem parecer falsificá-lo, ao contrário de seu sucessor), faz o trabalho e não deixa pedra sobre pedra, como a bela balada "Butterfly" mostra novamente. Você pode pensar que ele está sempre atrás do microfone em "A Better Life", uma peça interessante com uma atmosfera delicada e acolchoada, mas é o baterista Deen Castronovo que a pegou emprestada dele, com muita maestria.
E é a particularidade deste disco: cada integrante interpreta um título. A pílula passa sem problemas quando Jonathan Cain canta “Every Generation”, com suas insinuações nada desagradáveis de Bad English. Seremos menos elogiosos quanto à escolha de Neal Schon para interpretar "In Self-Defense", uma peça que evoca mais Van Halen do que Journey com o seu ritmo desenfreado e as suas constantes quebras melódicas, e para dizer a verdade bastante cansativa. Os elogios chegarão ainda menos à performance do baixista Ross Valory, que nos dá uma imitação bastante incongruente de Billy Gibbons na frenética boogie rock "Gone Crazy". Jornada teria perdido tanto o norte que agora se leva para o ZZ Top? Estes dois títulos integram-se no quarto sujo do álbum, completado por um hard rock vagamente bluesy interpretado por Steve Augeri, bastante alegre mas pouco inspirada (Better Together), à qual poderíamos acrescentar "Out Of Harms Way", uma composição com um ritmo pesado e espasmódico que Neal Schon originalmente pretendia para o projecto Planet Us com Sammy Hagar, prematuramente abortado (é também o caso de "Faith In The Heartland", mais surpreendentemente). Em um gênero muito mais suave, a balada soul "Knowing That You Love Me" não é mais memorável, nem mais do que "Beyond The Clouds", convencional demais para se mover.
Então, considerando tudo, há uma grande parte do álbum que dificilmente dá vontade de voltar a ela, e também gostaria de confessar para você concluir: dezessete anos se passaram desde o lançamento de Generations , e eu não não ouvia desde aquela época...
Títulos: 01. Faith In The Heartland 02. The Place In Your Heart 03. A Better Life 04. Every Generation 05. Butterfly (She Flies Alone) 06. Believe 07. Knowing That You Love Me 08. Out Of Harms Way 09. In Self-Defense 10. Better Together 11. Gone Crazy 12. Beyond The Clouds 13. Never Too Late (bonus)
Músicos: Steve Augeri: vocais, guitarra Neal Schon: guitarra, vocais (9), backing vocals Jonathan Cain: teclados, guitarra, vocais (4), backing vocals Ross Valory: baixo, vocais (11), backing vocals Deen Castronovo: bateria , percussão, vocais (3+13), backing vocals
Pouco mais de oito meses se passaram entre o lançamento do primeiro álbum e seu sucessor, este Countdown To Ecstasy, e ainda assim certos pontos essenciais já ficaram mais claros na banda. Primeiro, o cantor David Palmer - cujo papel foi gradativamente ficando obsoleto à medida que Donald Fagen se impôs nos vocais - Palmer, portanto, se aposentou no início das gravações deste segundo álbum, no qual Steely Dan começou a trabalhar antes mesmo de terminar sua turnê . Então, a dupla formada por Fagen e Walter Becker, que logo se tornaria Steely Dan por conta própria, afirmou-se definitivamente como o único provedor de trabalho criativo.
Nesta área, nenhuma surpresa: o ecletismo está mais uma vez no ponto de encontro, e esta variedade de influências expressa-se numa mesma peça, misturando constantemente jazz e rock, blues e pop, e também influências por vezes mais exóticas. Os anos 1940/50 renascem no saltitante “Bodhisattva” com seus sotaques bebop e solo de guitarra brilhante. Steely Dan joga tanto com atmosferas e tempos, e de "Razor Boy", o próximo título, levantamos os pés para adotar um ritmo tranquilo com sotaques latinos, servido por um requinte de percussão, vibrafone e marimba, e intercalado com aço violão que nos leva geograficamente um pouco mais ao norte. "The Boston Rag" nos levará um pouco mais longe, incluindo o clima em que a melodia de Fagen e os vocais arrastados nos imergem, feito de uma vaga melancolia, ou melhor, de um delicioso acesso de nostalgia; e é também o adjetivo que usaremos para descrever o solo soberbo e cheio de blues que Jeff Baxter solta, com aqueles impulsos, aquele brilhantismo de que ele tem o segredo. Encontramos em "Your Gold Teeth" uma sutil mistura de sotaques latinos, psicodelia, e um diálogo entre os solos jazzísticos de Fagen no piano elétrico e as idas e vindas de Baxter ou Denny Dias, às vezes transbordando de um blues cheio de delicadeza , às vezes brilhando com jazz.
A primeira parte do álbum termina, e mal a vimos passar. A continuação será do mesmo barril, se assim se pode dizer, porque os barris dos quais Steely Dan abre a canela são sempre tão numerosos. As estruturas são complexas, intercaladas com partes de solo giratórias e, no entanto, o qualificador geralmente depreciativo de “demonstrativo” nunca vem à mente. "Show Biz Kids" é feito de mais uma madeira. A sua essência parece indistinta, com coros femininos cantados em loop combinados com o onipresente chiado da slide guitar de Rick Derringer, tudo alimentando uma atmosfera um tanto estranha e hipnótica... "My Old School" nos traz de volta à terra seca, com um desses atmosferas que predispõem novamente à efusão, à memória de horas perdidas para sempre. O calor do bronze, os aromas vagamente emotivos que por vezes florescem aqui e ali tornam-no mais uma peça diferente das anteriores. E quando a guitarra de aço de Baxter ataca "Pearl Of The Quarter", pensamos que o grupo vai se reconectar com as tendências country que os viram emergir do nada na época de "Dallas", mas é mais do lado de uma balada pop a um pouco melancólico que você terá que tentar distinguir os contornos, nunca muito claros. O álbum termina em um tom um pouco mais rock com "King Of The World", mas, novamente, este título não pode ser resumido apenas nesta orientação... pensamos que o grupo se vai reencontrar com as inclinações country que os tinham visto emergir do nada na altura de "Dallas", mas é mais para uma balada pop com um toque de melancolia que será necessário tentar entrar no make os contornos, que nunca são muito nítidos. O álbum termina em um tom um pouco mais rock com "King Of The World", mas, novamente, este título não pode ser resumido apenas nesta orientação... pensamos que o grupo se vai reencontrar com as inclinações country que os tinham visto emergir do nada na altura de "Dallas", mas é mais para uma balada pop com um toque de melancolia que será necessário tentar entrar no make os contornos, que nunca são muito nítidos. O álbum termina em um tom um pouco mais rock com "King Of The World", mas, novamente, este título não pode ser resumido apenas nesta orientação...
Libertar-se de todo o conformismo musical mas ao mesmo tempo acessível a todos os ouvidos, esta é aparentemente a missão que Walter Becker e Donald Fagen se propuseram, e a experiência continua a valer a pena do ponto de vista artístico. Comercialmente, o assunto será mais complicado. Steely Dan lutará para impor um single em nível comparável aos sucessos de "Do It Again" ou "Reelin' In The Years" alguns meses antes, de modo que Countdown To Ecstasy, apesar de suas óbvias qualidades, não sairá do papel. a barriga macia dos rankings americanos apenas para desaparecer, com, ainda assim, um disco de ouro alguns anos após seu lançamento.
Títulos: 01. Bodhisattva 02. Razor Boy 03. The Boston Rag 04. Your Gold Teeths 05. Show Biz Kids 06. My Old School 07. Pearl Of The Quarter 08. King Of The World
Músicos: Donald Fagen: vocal, piano, piano elétrico, sintetizador Walter Becker: baixo, gaita, backing vocals Jeff Baxter: guitarra, pedal steel guitar Denny Dias: guitarra Jim Hodder: bateria, percussão, backing vocals ___ Lanny Morgan: saxofone Bill Perkins : saxofone Ernie Watts: saxofone John Rotella: saxofone Victor Feldman: vibrafone, marimba, percussão Ray Brown: baixo (2) Rick Derringer: slide guitar (5) Ben Benay: violão Sherlie Matthews: backing vocals Myrna Matthews: backing vocals Patricia Hall : backing vocals David Palmer : backing vocals Royce Jones : backing vocals James Rolleston : backing vocals Michael Fenelly: vocais de apoio