Resenha
Fauna
Álbum de Haken
2023
CD/LP
Fauna, sétimo disco da banda inglesa, Haken – novamente um álbum de nome solo -, será lançado somente no dia 3 de março, mas o 80 minutos teve a honra de receber o material com mais de um mês de antecedência para ser avaliado, e devo confessar, pode até ser o disco mais “sem brilho” da banda até hoje, mas passa longe de algo descartável como um todo, e tem sim vários ótimos momentos. Fauna pode ser considerado um disco conceitual, onde cada uma de suas músicas tem um animal atribuído a ela. Em relação as músicas do álbum, Ross Jennings, vocalista da banda, disse, “ao compor e apresentar os esboços iniciais da música, tínhamos uma mentalidade de 'vale tudo' e, embora soasse atipicamente Haken, era uma peça que nos entusiasmava explorar e integrar em nosso cânone de música. No que diz respeito às letras, apoiei-me fortemente em um dos meus escritores favoritos, Philip K Dick, para me inspirar. Mantendo em mente nosso conceito vago de animais espirituais, reli Androids Dream Of Electric Sheep? (Que mais tarde seria adaptado para o filme Blade Runner de 1982) sabendo simbolicamente que os animais tiveram um papel fundamental na história. Isso, além de revisitar os dois filmes da franquia Blade Runner, abrindo alguns tópicos filosóficos mais profundos sobre a natureza da identidade que serviram de espinha dorsal para o conteúdo lírico.” Em Fauna, a banda conta com um novato que não é tão novato assim, Peter Jones, que já havia trabalhado com a banda em Vector, onde desempenhou a função de bateria eletrônica, porém, sua vaga em Fauna é nos teclados, vaga desocupada por Diego Tejeida, que saiu amigavelmente do grupo por conta de visões musicais diferentes entre o que a banda estava tomando e ele estava interessado em fazer. “Taurus” é a faixa que inicia o disco. Uma peça que possui um bom refrão, riffs djent e, de certa forma, alguns acenos aos discos anteriores, Vector e Virus. No geral, um ótimo e animador começo de álbum. “Nightingale” é uma combinação clássica do antigo Haken com o mais novo, sendo esse segundo tendo uma maior predominância no resultado final. Bastante pesada, mas ao mesmo tempo de linhas jazzísticas - incluindo o teclado inicial -, não vejo motivo para que não agrade todo tipo de fã da banda. “The Alphabet of Me” inicialmente tem um teclado bastante simples e que grudou na minha cabeça de tal forma que achei que eu não fosse parar de cantarolar ele nunca mais. Confesso que a bateria eletrônica não me agradou muito. Após alguns versos sendo cantados apenas com o teclado citado ao fundo, Ross canta os versos seguintes da peça de uma maneira extremamente rápida. No fim, é uma boa mistura de seguimentos e elementos mais suaves com outros mais pesados e enérgico. “Sempiternal Beings”, começa por meio de uma bateria suave e de tempo quebrado, além de um teclado bastante tímido que ambienta serenamente o fundo da música com Ross cantando de forma melódica, até que por volta de 1:25, toda a banda entra primeiramente em uma explosão instrumental e depois se estabelece em um ritmo e peso médio. No geral, as partes mais pesadas estão nos refrãos. Um dos destaques do disco. “Beneath the White Rainbow”, começa com muita agressividade, mas logo nos 20 segundos silencia e a faixa então entra em um ritmo muito mais lento, porém, não demora muito para mudar o ritmo novamente, sendo uma das músicas com a melodia mais diversificada do álbum. Gosto muito do refrão, bastante marcante. “Island in the Clouds” começa com a seção rítmica tocando de uma maneira bastante marcante sob alguns vocais melódicos. Quando as guitarras entram, a peça ganha mais peso. Em seu núcleo, a música fica mais lenta e os vocais de Ross ficam distorcidos, então que a faixa vai crescendo até atingir um clima sinfônico e silenciar em seguida pra preparar o ambiente para o refrão regressar à peça e encaminhá-la para o final. “Lovebite”, com menos de 4 minutos é a peça mais curta do disco. É mais uma música que começa de forma bastante pesada e frenética, mas novamente na hora de Ross cantar pela primeira vez, diminui a agressividade e entrega um clima mais suave. Se trata de uma balada, porém, não muito melódica - exceto pelos vocais nos refrãos que soam melódicos. Confesso que mesmo sendo curta, achei uma música bem cansativa, provavelmente vou ter o hábito de pulá-la sempre que ouvir o álbum. “Elephants Never Forget”, se a faixa anterior é a menor do disco, aqui estamos diante da maior delas, com os seus pouco mais de 11 minutos. Primeiramente, o piano aparece isoladamente, logo depois, os demais instrumentos vão entrando na música até desenvolverem um ritmo bastante suingado, com Ross cantando de uma maneira muito influenciada pelos vocais do Gentle Giant – o próprio suingue da banda também é influenciado pela banda inglesa dos irmãos Shulman. Em seu decorrer, possui ótimas mudanças de andamentos, solos de guitarra e teclados, diferentes humores e um peso instrumental bastante característico da banda, minha preferida do disco. Próximo do final a música, é repetido o tema instrumental do início. “Eyes of Ebony”, quando eu li o nome dessa música pela primeira vez, foi impossível de não lembrar de “Ebony Eyes”, do finado Rick James, e grande sucesso nos anos 80. Mas enfim, vamos à música aqui em questão. É a faixa que fecha o disco. Baixo e bateria em destaque junto de uma guitarra tímida e vocais suaves começam a música, que ganha um peso por volta dos 1:57, mas não demora muito para silenciar, ficando só uma linha de baixo bastante limpa e isolada, então os demais instrumentos vão se agregando, com os vocais sendo o último a aparecer, fazendo com que aos poucos, tudo vá se tornando cada vez mais enérgico, porém, silenciando mais uma vez, criando um clima atmosférico, com Ross entrando com vocais serenos e guiando a música para o seu final e que também é o final do disco. Mas então, vem aquela pergunta, o que Fauna representa dentro da discografia do Haken? Bom, mostra uma banda que não tem medo de mudanças, mesmo sabendo que certamente vai desagradar os mais puristas e que ainda hoje esperam algo que soe igual a Aquarius, Visions e The Mountain, os três primeiros e mais aclamados álbuns da banda. Fauna é diferente, porém, divertido, inovador – ainda que não da forma que muitos esperam – e conceitualmente admirável.
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