sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

“Blood Sugar Sex Magik”(1991), Red Hot Chili Peppers

 


Até 1990, os Red Hot Chili Peppers eram tão somente uma banda californiana de rock com quatro álbuns no currículo formada por quatro integrantes malucos e desbocados. Haviam alcançado uma projeção razoável com o álbum Mother's Milk, que bateu a casa das 5 milhões de cópias vendidas, puxado pelo hit "Higher Ground", uma regravação de um antigo hit de Stevie Wonder. Apesar de toda a porra-louquice, os membros da banda não estavam nada satisfeita com a sua então gravadora, a EMI. Queixavam-se do patrulhamento, da pouca liberdade que tinham pra criar e produzir.

Daí que no momento da renovação de contrato, decidiram cair fora e procurar uma nova gravadora. Chegaram a conversar com Virgin, a Sony Music, a Geffen, mas acabaram acertando com a Warner Music. A nova gravadora não só deu à banda a tão sonhada liberdade de criação, como também um bom tempo para compor e produzir, além de um orçamento bem "gordo" para custear a produção do novo álbum, muito maior do que a antiga gravadora costumava oferecer.

Para a produção do novo e primeiro álbum pela Warner Music, recrutaram o produtor Rick Rubin, profissional que já havia produzido artistas do quilate de Beastie Boys, Slayer, Run-DMC, The Cult, LL Cool J. Rubin gostava de punk rock, rap, heavy metal e funk, ou seja, a mesma preferência musical dos Red Hot Chili Peppers. Rubin caiu como uma luva para as pretensões do quarteto californiano.

Ao contrário dos produtores dos outros discos, que tentavam moldar o som da banda à revelia de seus integrantes, Rubin buscou dar aos Red Hot Chili Peppers a liberdade criativa e extrair de cada integrante, o que de melhor eles podiam oferecer. Para tanto, Rubin convenceu a banda a se mudar para uma antiga mansão que ele havia transformado em estúdio de gravação, em Los Angeles, Califórnia. Os Red Hot Chili Peppers e o produtor se mudaram de mala e cuia. Construída em 1918, a mansão até hoje tem fama de mal assombrada. No entanto, desde que se tornou um local para gravação e produção musical, diversos artistas já passaram por lá. E os Red Hot Chili Peppers foram os primeiros.

A banda e o produtor se enclausuraram durante o mês de maio e junho de 1991, compondo e gravando material para o novo álbum. Rubin deu orientações e sugestões no processo de composição e arranjos das faixas, sem no entanto interferir na liberdade criativa do quarteto californiano. 

A velha mansão onde os RHCP gravaram Blood Sugar Sex Magic
A experiência em gravar o álbum num lugar um tanto quanto inusitado, foi profícua. Gravaram ao todo 25 músicas, e dessas, 17 foram parar no novo e duplo álbum Blood Sugar Sex Magik, uma obra diversificada e ao mesmo tempo coesa. O álbum mostra que a banda conseguiu aprimorar o seu funk rock, estilo que o Red Hot Chili Peppers vinha perseguindo desde os primeiros discos, porém, mal resolvido. Conseguiram chegar perto do objetivo com Mother's Milk, o álbum anterior, mas é em Blood Sugar Sex Magik que consolidaram o estilo, com o baixo de Flea mais virtuoso e suingado, dialogando bem com a bateria de Chad Smith. A guitarra de John Frusciante se mostra inspiradíssima nos sons de Jimi Hendrix e Sly & The Family Stone, mestres que lá no passado já experimentavam a mistura de rock e funk. Frusciante, um “devoto” desses caras, apenas trouxe essas referência à luz do rock alternativo dos anos 1990. Anthony Kiedis, dá mais vasão a seu lado rapper, conciliando com sua condição de vocalista de banda de rock. O saldo final é que fica claro que a parceria da banda com Rick Rubin foi fundamental, e a escolha como produtor do álbum se mostrou a mais acertada.

Frusciante e Flea zoando nos intervalos
das gravações.
Nas 17 faixas de Blood Sugar Sex Magik, o funk rock é a linha mestra do álbum, apesar do grupo passear por outros estilos. "The Power Of Equality" abre escancarando o álbum falando de racismo, preconceito e desigualdade, seguida da hendrixiana "If You Have To Ask". A romântica “Breaking The Girl", surpreende os fãs com a sua pegada eletro-acústica comprovando que o Red Hot Chili Peppers não é só groove e distorção. “Funcky MonKs” remete aos funks dos anos 1970. Se em "The Righteous & The Wicked", os quatro pedem paz imediata no mundo,  em faixas como “Suck My Kiss”, "Blood Sugar Sex Magik" e "Sir Psycho Sexy" eles querem é sexo e sacanagem. "My Lovely Man" é uma evidente homenagem a Hillel Slovak, guitarrista da formação orginal dos RHCP morto por overdose de heroína em 1988. "Give It Away" é a “irmã funk” de “Come Together”, dos Beatles. “Under The Bridge" é um pouco da vida de Anthony Kiedis, falando de um período de solidão quando esteve abstinente de drogas.

Blood Sugar Sex Magik chegou às lojas em 24 de setembro de 1991. Foi muitíssimo bem acolhido pela crítica, e teve uma ótima recepção do público. Puxado pelo hit “Give It Away”, o álbum após seis meses de lançado, já havia conquista disco de platina pela marca de 1 milhão de cópias vendidas e rendeu cinco singles. Na turnê de lançamento, os Red Hot Chili Peppers excursionaram com o Nirvana e o Smashing Pumpkings pelos Estados Unidos. Além de "Give It Away", o album emplacou outros hits. “Under The Bridge" fez um sucesso estrondoso no radio e na TV em todo o mundo. “Suck My Kiss", "Breaking The Girl", "If You Have To Ask" e a faixa-título também viraram hits.

Flea, Chad Smith, John Frusciante e Anthony Kiedis
O sucesso arrebatador de Blood Sugar Sex Magik levou os Red Hot Chili Peppers para o estrelato. As altas vendagens do álbum passaram a incomodar John Frusciante, que logo começou a ter conflitos. Seu vício com o uso de drogas fugiu do controle e sua insatisfação com o sucesso do álbum era grande, o que o fez deixar a banda durante a turnê de Blood Sugar Sex Magik. Arik Marshall assumiu o posto para completar a turnê, sendo substituído depois por Dave Navarro como membro efetivo.

Com Blood Sugar Sex Magik, a Red Hot Chili Peppers se consolidou como estrela de primeira grandeza no mainetream do rock mundial. Ao longo do tempo, o álbum bateu a marca de mais de 19 milhões de cópias vendidas.  Após o sucesso avassalador do álbum duplo e de uma turnê estafante, a banda só viria lançar um novo álbum de inéditas em 1995, One Hot Minute, que não tinha a irreverência e nem o impacto de Blood Sugar Sex Magik. A banda só iria se redimir em 1999 com Californication, que iria superar comercialmente Blood Sugar Sex Magik. Mas isso é um capítulo à parte, uma outra história.

Todas as faixas foram compostas pelos Red Hot Chili Peppers, exceto a faixa 17, de autoria de Robert Johnson.
Faixas:

1. "The Power of Equality" 4:03
2. "If You Have to Ask" 3:37
3. "Breaking the Girl" 4:55
4. "Funky Monks" 5:23
5. "Suck My Kiss" 3:37
6. "I Could Have Lied" 4:04
7. "Mellowship Slinky in B Major" 4:00
8. "The Righteous and the Wicked" 4:08
9. "Give It Away" 4:43
10. "Blood Sugar Sex Magik" 4:32
11. "Under the Bridge" 4:24
12. "Naked in the Rain" 4:26
13. "Apache Rose Peacock" 4:43
14. "The Greeting Song" 3:14
15. "My Lovely Man" 4:39
16. "Sir Psycho Sexy" 8:17
17. "They're Red Hot" 1:11


"Give It Away"


"Unde The Bridge"


"Suck My Kiss"


"Breaking The Girl" 


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