sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Elegy em dose tripla no Brasil pela Hellion Records


“The Grand Change”, música de abertura de Labyrinth of Dreams, primeiro álbum do Elegy, poderia tranquilamente estar em Operation: Mindcrime, clássico do Queensrÿche e um dos discos definidores do prog metal. A estreia da banda holandesa foi lançada originalmente em 1992, enquanto o álbum do Queensrÿche é de 1988. Esse intervalo de quatro anos provavelmente impediu o Elegy de alcançar o mesmo status que o quinteto liderado pelo vocalista Geoff Tate, pois o grupo estreou em uma época onde o tipo de som que fazia perdia espaço a cada dia para a avalanche grunge.

Labyrinth of Dreams segue todo nessa pegada, unindo a melodia com andamentos quebrados, porém acessíveis, e com doses equilibradas de peso. Devidamente remasterizado a trazendo músicas bônus, foi lançado no Brasil em uma edição slipcase pela Hellion Records, acompanhado de versões com o mesmo acabamento para os dois álbuns seguintes do Elegy, Supremacy (1994) e Lost (1995). Labyrinth of Dreams vem com um pôster com a capa do álbum e encarte de doze páginas com todas as letras.

Confesso que fiquei bastante impressionado com o disco de estreia dos holandeses, e admito que não conhecia a banda até ter o álbum em mãos nessa nova edição. O refinamento instrumental é evidente, com um excelente trabalho dos guitarristas Arno van Brussel e Henk van der Laars, ambos explorando timbres limpos. Martin Helmantel é um baixista elegante, enquanto o baterista Ed Warby tem uma pegada pesada mas sem abrir mão da técnica. O timbre de Eduard Hovinga é próximo ao de Tate, e o vocalista também traz trejeitos teatrais para suas interpretações.

O tracklist, que conta com dez faixas, me agradou muito e passeia por canções cativantes como “I’m No Fool” (dona de um refrão pra lá de grudento), “Take My Love”, a quebradeira das instrumentais “All Systems Go” e “Mass Hysteria” e o hard prog acessível de “Over and Out”. As músicas são todas niveladas por cima, o que tornou o resultado final bastante sólido e mostrou um disco de estreia muito promissor.


Em 1994 foi a vez de Supremacy, segundo álbum do quinteto, chegar às lojas. A banda apresenta duas mudanças na formação: o guitarrista Gilbert Pot entrou no lugar de Brussel, e Dirk Bruinenberg substituiu Warby, que assumiu a bateria no Gorefest e mais tarde entraria no Ayreon. Em Supremacy temos mais elementos de power metal e uma evidente influência dos clássicos Keepers, do Helloween. O som ficou mais rápido, com a bateria não economizando nos bumbos duplos e as guitarras entregando harmonias constantes, e passou também a ter mais elementos progressivos, o que levou a banda a ser apontada como uma das pioneiras do que passou a ser chamado de power metal progressivo.

Entre as canções, destaque para a abertura com “Windows of the World”, para a influência flamenca no prog power “Angels Grace” (com um bonito trabalho de violão de Laars), “Circles in the Sand” e a ótima música título. O álbum apresenta um trabalho de guitarras muito legal, com solos rápidos, bases criativas e harmonias super presentes, o que acentua a característica power, que é facilmente percebida. E claro, a capa merece destaque, criação do estúdio holandês Squad.


O Elegy retornou em 1995 com o seu terceiro disco, Lost, e transformado em um sexteto com a chegada do tecladista Gerrit Hager. Há um equilíbrio maior entre o frescor da estreia e o apelo mais power do segundo álbum, gerando um álbum que é bastante agradável e traz as guitarras evoluindo ainda mais e aproximando-se, mesmo que timidamente, até mesmo do estilo neoclássico. Porém, os vocais de Hovinga, que já caminhavam para um estilo mais exagerado em Supremacy, aqui embarcam de vez na pomposidade, o que acaba prejudicando um pouco o resultado final. A abertura com “Lost” é bem legal, “Always With You” é grudenta como todo metal melódico e “Spanish Inquisition” fecha o disco com guitarras rapidíssimas.

Após a turnê de Lost, em que a banda dividiu o palco com Yngwie Malmsteen, o Elegy sofreu um duro golpe com a saída de três integrantes: o vocalista Eduard Hovinga, o guitarrista Gilbert Pot e o tecladista Gerrit Hager. Isso levou a um recomeço e marcou o fim da primeira fase do grupo, que permanece na ativa até hoje, agora como um quarteto e com o baixista Martin Helmantel como único integrante original.

Como já dito, as edições lançadas no Brasil pela Hellion Records, e que foram chamadas de “edições definitivas”, vêm todas em CDs slipcase com pôsteres, encartes com letras e músicas bônus – no caso, duas faixas extras para cada álbum.

Um grande resgate e uma ótima oportunidade para ter esses CDs na coleção. 

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