sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

ESQUINA PROGRESSIVA

 

Big Big Train - Grimspound (2017)



Em se tratando dos últimos anos a Big Big Train tem sido sem dúvida alguma o principal nome no mundo do rock progressivo mundial, lançando discos de extrema qualidade que a alavancaram a outro patamar, provavelmente o mais elevado desse século. Eles realmente têm um som muito acessível e que responde aos desejos principalmente aos fãs do Genesis era Peter Gabriel que sempre gostariam de saber o que seria nem que seja mais ou menos da banda se Phil Collins nunca tivesse assumido a liderança e a levando a um som mais calcado no pop 80’s.

Nos pelo menos últimos oito anos a cada lançamento a banda tem se tornado mais sólida no cenário mundial, conseguindo o que raras bandas principalmente dessa geração conseguem, definirem sua própria direção e som, construindo uma atmosfera única, universo sonoro deslumbrante. A musicalidade é sempre impressionante, demonstrando que o tempo, longevidade e um forte grupo colaborativo com a mesma ambição tem o poder de fazer com que a banda evoluía ilimitadamente.

O disco abre com “Brave Captain”, faixa que sem dúvida alguma nos faz imaginar que venha a ser a escolha de abertura dos concertos da banda a partir de agora. Um épico baseada em Albert Ball, um dos principais pilotos de caça inglês durante a Primeira Guerra Mundial. Trás uma introdução que pavimenta um clima atmosférico e assombroso antes de introdução de todos os instrumentos mostrando a cadencia principal da canção. A música possui toques encantadores de flauta e violino, David Longdon desempenha um vocal bastante expressivo e emotivo.

A segunda faixa é a instrumental, "On the Racing Line”. Carrega consigo uma influência de jazz/fusion, algo inclusive novo em se tratando do grupo, Nick D'Virgilio mostra aqui porque pode ser considerado tranquilamente como um dos melhores bateristas do mundo. Linda música.

“Expetimental Gentlemen” foi a faixa que logo na primeira escuta me fez perceber que a banda estava voltando ao seu som apresentado em trabalhos anteriores. A introdução é suave e pastoral dando ao ouvinte uma sensação de devaneio através de uma bateria suave que regimenta a canção enquanto um belo trabalho de piano e flauta dá o tom da canção. Possui guitarra de toque brilhantemente evocativo e descritivo. Por vezes o violino de Rachel Hall ocupa o centro da música auxiliada e encorajada por um teclado emotivo que dá uma sensação afetiva ao trabalho. Possui um lindo solo de guitarra que atrai a atenção antes que a calmaria e reflexão se assentem sobre uma seção de piano onde o som sutil do baixo de Greg Spawton se junta a bateria de Nick D'Virgilio e uma guitarra que assombra a música até chegar ao seu fim.

Em "Meadowland" o ouvinte é apresentado a um lugar onde as pessoas se reúnem para compartilhar seus pensamentos sobre as coisas que amam. Uma faixa requintadamente graciosa que emociona. De vocal sincero que traz uma sensação de nostalgia. A interação entre violino e guitarra é genial.

“Grimspound” tem uma introdução lenta e edificante onde sem demorar muito se instala em sua alma. Novamente apresenta vocais bastante emotivos. Uma canção que personifica muito bem a banda e a sua marca maravilhosa de rock progressivo pastoral. A música é cativante e suave com uma cadência linda, sobre tudo a linha elegantemente nómada de guitarra que só contribui pra deixa-la com mais classe e charme.

Em “The Ivy Gate” , David Longdon tem a parceria nos vocais da vocalista, Judy Dyble, fundadora da banda de folk Fairport Convention. A fusão deu bastante certo, mostrou um folk elegante e um rock progressivo mais pastoral. A introdução é através de um banjo atmosférico. A voz de Judy acrescenta drama e suspense à música e uma aura misteriosa envolve a canção, somada às grandes sequências de violino. Também apresenta uma erupção liderada por um baixo dinâmico dando mais força ao conjunto da obra. No fim, pode se dizer que trata-se de uma declaração musical extremamente poderosa.

Com mais de quinze minutos, “A Mead Hall In Winter” é a música mais longa do álbum. Uma peça musical bastante imersiva que parece pedir para que o ouvinte se envolva plenamente. David Longdon não é apenas o vocalista aqui, mas um trovador apropriado contando histórias através dos tempos e sua voz parece voltar na história para ecoar os primeiros dias da banda do disco The Different Machine em diante. Possui um coro cativante e viciante, os vocais harmonizados são assombrosamente memoráveis e os pequenos fragmentos de violino e guitarra são a cola que brilhantemente segura todos os outros instrumentos juntos e em uma perfeita engrenagem. Possui no meio outra seção instrumental fascinante. Vocais e instrumentais entrelaçam e se combina em uma entrega musical intrincada, mas ao mesmo tempo acessível. Um trabalho soberbo de órgão também merece menção assim como a investida de violino. Quinze minutos de prazer sonoro que chega ao fim com vocais sedutores sobre uma música apaixonante ressoando aos ouvidos. Sensacional.

O álbum finaliza através de “As The Crow Flies”. Provavelmente a faixa mais pessoal e melancólica. Possui um timbre profundo. Tem em sua abertura um ar meio sombrio. O trabalho de guitarra é exemplar, como se o instrumento estivesse falando com o ouvinte. O momento que a voz delicada de Rachel Hall se junta é uma coisa de graça etérea e acrescenta esperança e desejo de levantar o sentimento de perda que pairava sobre tudo. A natureza sentimental da música deixa uma grande marca no coração e alma de quem entende e sente a sua mensagem, finalizando o álbum de uma maneira que não poderia ser melhor.

Em última análise, é notório que eles nunca estiveram “mais banda” do que estão nesse disco. Um disco bastante aguardado de uma das bandas mais reverenciadas atualmente do rock progressivo. Apresentaram novamente canções que ratificam mais uma vez o porquê de terem a reputação que carregam hoje. Não se tratam apenas de músicas, mas histórias sejam factuais ou ficcionais, para entregar um espetáculo profundamente envolvente e fascinante. Um belíssimo “castelo de areia” que uma maré jamais levará.



Track Listing

1.Brave Captain - 12:37
2.On The Racing Line - 5:12
3.Experimental Gentlemen - 10:01
4.Meadowland - 3:36
5.Grimspound - 6:56
6.The Ivy Gate - 7:27
7.A Mead Hall In Winter - 15:20
8.As The Crow Flies - 6:44



Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

DISCOS QUE DEVE OUVIR - Mindless Sinner - Turn On The Power 1985 (Sweden, Heavy Metal)

  Mindless Sinner - Turn On The Power 1985 (Suécia, Heavy Metal) Artista:  Mindless Sinner De:  Suécia Álbum:  Turn On The Power Ano de lanç...