Pode o punk ser eletrónico e disco e, aqui e ali, melancólico e introspetivo? A estreia dos LCD Soundsystem, projeto do mago James Murphy, é um sim tremendo à pergunta. E um portentoso trabalho que, felizmente, não foi ocasional tiro certeiro.
Há disco, rock, acid house, psicadelismo, punk. Os LCD Soundsystem são um festivo cocktail de influências geradoras de um todo que tem por base a pista de dança, é certo, mas que encaixa perfeitamente num festival de guitarras ou num qualquer fim de tarde soalheiro que se pretenda mais festivo.
LCD Soundsystem, a estreia, vinha já com embalagem garantida por um par de temas lançados nos meses anteriores, “Losing My Edge” à cabeça como momento maior. O álbum viria a não desiludir ninguém e a apresentar definitivamente ao mundo aquele que viria a ser, que é agora, que nunca deixou na verdade de ser após a entrada total em cena – mesmo com uma pausa nos trabalhos entre 2011 e 2017 – uma das melhores bandas do mundo.
O que impressiona nesta coleção de canções é o difícil mas bem superado desafio de trazer de volta memórias mas ter ainda a capacidade de potenciar muitas mais histórias no futuro. A década 2000-2010 trouxe para uma geração, em que o escriba se insere, muitos momentos de vida que tiveram como banda sonora uma legião de bandas – algumas o tempo tratou de relegar para o plano secundário, mas a história dos LCD Soundsystem é outra. O apreço por James Murphy e os seus tratados de bom gosto é, sempre será, apostamos, garantia de se estar no lado certo da fronteira.
Divertido, criativo, alternativo q.b. mas global e quase impossível de ignorar – nem que seja pela quantidade de anúncios que utilizaram “Daft Punk Is Playing at My House”: a estreia dos LCD Soundsystem apresentou-nos aquela que, 16 anos depois, continua a ser uma das bandas mais originais das últimas décadas. Todos os discos do grupo que vieram atestaram as primeiras impressões – está aqui uma banda que veio para ficar e que será recordada por muito e celebrativo tempo. Festejemos.
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