sábado, 14 de janeiro de 2023

Resenha Force Majeure Álbum dos Tangerine Dream 1979

 

Resenha

Force Majeure

Álbum de Tangerine Dream

1979

CD/LP

Na resenha do álbum 'Tangram', lançado exatamente um ano depois deste, mencionei que aquele disco provavelmente era o mais característico da banda, por conter amostras de todos os truques e ideias que ela desenvolveu ao longo das décadas. 'Force Majeure' também quase chega lá, não fosse pelo detalhe de ser muito mais rock do que eletrônico. 

Naquela altura, o TD estava firmemente estabelecido em seu domínio dos sequenciadores no baixo e melodia. Isso formava a base dos arranjos e inspirou incontáveis músicos eletrônicos das décadas subsequentes. Mas em 'Force Majeure' temos um baterista de verdade (Klaus Krüger, o mesmo de 'Cyclone'), e o maestro Edgar Froese preenche o álbum com solos e ornamentos de guitarra elétrica e acústica sobre os sequenciadores pilotados principalmente por Franke. A faixa principal ocupa um lado inteiro do LP original, sendo uma suíte em várias partes, e inclui trechos em estilo sinfônico (talvez referenciado pelo pedaço de um busto de Beethoven que aparece num detalhe da excelente arte da capa). 

A faixa do meio, 'Cloudburst Flight', é uma composição de Franke que contém um diálogo extraordinário entre o teclado deste e a guitarra de Froese, novamente integrando perfeitamente o baixo de sequenciador e a percussão. 

Considerado tudo isso, o álbum se caracteriza como uma obra de rock progressivo. Mas algo nos traz de volta ao domínio puramente eletrônico em 'Force Majeure'. É a épica segunda metade de 'Thru Metamorphic Rocks', a faixa de encerramento. A primeira parte é um rock competente, com uma melodia ensolarada, percussão acústica e um excelente solo de guitarra. Inesperadamente, na marca dos 4 minutos e meio a melodia some e em seu lugar aparece uma batida eletrônica quebrada, não muito diferente do que a banda já havia feito em 'Sorcerer'. Mas agora o timbre é sujo e ruidoso ao extremo, e uma nota mi no teclado bate com força a cada compasso. Não há mais melodia, apenas um acorde fixo com o ritmo insistente e agressivo variando o timbre constantemente, ao longo de 10 minutos. Um clima de pesadelo é sugerido por efeitos sonoros bizarros como sirenes de bombeiros, uivos de lobos e vozes humanas distorcidas, até que a música se encaminha ao final com uma série de pancadas macabras num piano elétrico. O contraste entre as duas partes da faixa é absoluto. A impressão final é de que a parte puramente eletrônica, que conceitualmente vai muito além da porção rock e reafirma o que o TD faz de mais particular e único, acaba sendo a obra-prima do álbum.

A versão remasterizada do álbum inclui ao final uma faixa de Chris Franke que só era conhecida por versões gravadas ao vivo e é um bom exemplo do estilo pop da banda naquela altura, ainda com uma sonoridade mais crua e atrevida em comparação ao que faria na década seguinte.

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