quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Resenha Mahandini Álbum de Dewa Budjana 2018


Resenha

Mahandini

Álbum de Dewa Budjana

2018

CD/LP

Dois anos após o lançamento de Zentuary, disco duplo com pouco mais de 100 minutos, o guitarrista indonésio, Dewa Budjana, entregou uma nova oferta, mas desta vez optou por um disco mais condensado e com músicas que tem um toque muito mais pesado. Diferentemente do seu antecessor, em Mahadini, Dewa trocou a fórmula com uma multidão de convidados diferentes e escolheu um trio fixo para interagir, formado por Jordan Rudess no teclado, Marco Minnemann na bateria e o jovem Mohini Dey  no baixo – o que não quer dizer que não há convidados no álbum. Inclusive, Dewa Budjana, mostra mais uma vez que sabe como ninguém escolher grandes músicos e também adaptar a música para tirar o melhor deles. 

“Crowded” é uma peça orientada basicamente para o rock, sendo tocada de forma descontraída, mas que ainda consegue mostrar alguns sombreamentos de jazz fusion. Marco Minnemann é sempre um show à parte e consegue ainda que em pequenos espaços mostrar um trabalho lindo de bateria. John Frusciante é o convidado fornecendo um vocal excelente, além de um pouco de guitarra. Gosto muito do refrão de da forma como ele soa com bastante emoção. “Queen Kanya”, o álbum então entra em esferas mais técnicas a ponto de em alguns momentos lembrar o metal progressivo – salvo as devidas proporções - feito pelo Dream Theater nos anos 90. Começa bastante suave antes de se tornar agressiva e com um forte aceno ao rock progressivo. Bastante melódica e jazzística, quem mais brilha é Jordan Rudess, tanto no piano, quanto nos sintetizadores, porém, não podemos deixar de mencionar a riqueza da seção rítmica. Vale destacar também as vocalizações kannakol – cantos semelhantes a tambores indianos - feitas por Mohini Dey e que basicamente dobram com a bateria de Minnemann criando um ritmo alucinante e viciante.  

“Hyang Giri”, aqui a cantora Soimah Pancawati é a convidada, inclusive, com uma voz linda, profunda e até mesmo soporífera. Possui solo de guitarra, piano e até de baixo, uma peça surpreendente. A música vai crescendo em intensidade e metralhando o ouvinte até que suaviza um pouco para que os vocais regressem. O final é bastante melancólico. Mais um número incrível. “Jung Oman” é sem dúvida a mais suave e delicada das faixas. O solo de piano clássico é o típico estilo de Jordan Rudess. Uma música que é quase um convite a um relaxamento e introspecção. A melodia constante da guitarra de Dewa é belíssima, até que ocorre uma ponte explosiva, mas que rapidamente silencia, deixando um violão por meio de um belo solo guiar a peça antes da volta da guitarra. Que música linda.   

“ILW”, aqui temos mais um convidado, sendo nesse caso ninguém menos que Mike Stern, guitarrista extremamente prolífico que em seu currículo de vários artistas com quem já trabalhou, se encontra nomes como Miles Davis, Jim Hall e Jaco Pastorius. Apesar de ser uma peça clássica de rock progressivo em que as guitarras experimentais de Mike e Dewa dão a direção, em momento algum elas conseguem silenciar a maneira talentosa com que se comporta o restante da banda. “Mahandini” possui uma melodia muito bonita e as linhas de bateria de Marco Minnemann sempre são um caso à parte, toda vez fico impressionado com  amaneira descontraída com que ele colore cada uma das músicas. O solo de baixo é magnífico, assim como o solo de teclado que vem em seguida. “Mahandini” é uma música de jazz-rock extremamente bem planejada para que todos mostrem o quão são incríveis em seus respectivos instrumentos. “Zone” é a última música do disco e a segunda que conta com a participação de John Frusciante. No sentido virtuoso, basicamente não tem nada demais, sendo um rock muito mais básico - apesar de chegar a ter um piano jazzístico que a tire da zona de conforto em alguns momentos. Enquanto isso, a seção rítmica, como sempre, é sólida como uma rocha dentro de suas nuances idiossincráticas. O trabalho de guitarra é excelente, mas é um som pra agradar muito mais um amante de rock alternativo do que de jazz-rock/jazz-fusion. 

Pode até parecer que Dewa Budjana não assume o papel de protagonista em seu próprio disco, dando a impressão de deixar seus convidados brilharem mais do que ele, mas as coisas não chegam a ser bem assim, o que acontece é que o guitarrista também é um grande regente dentro do disco, buscando sugar até a última gota do que cada um dos músicos que o acompanham podem tirar dos seus instrumentos para entregar a ele músicas confeccionadas exatamente como foram pensadas. Mahandini é um álbum repleto de ecleticismo que variam entre o jazz ocidental e tradições de rock que passam por um ótimo tratamento asiático. O resultado é uma mistura emocionante de passagens instrumentais ímpares, melodias marcantes e som único. 

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