Resenha
Tangram
Álbum de Tangerine Dream
1980
CD/LP
Tangerine Dream tem cinco décadas de trabalho ininterrupto e mais de 100 discos lançados. No entanto, é uma "banda para músicos", no sentido de que muitos membros da cena musical do rock progressivo e do eletrônico os conhecem, sua influência tem alcance gigantesco, mas o público de massas jamais os seguiu de perto. Mas quando se é fã do TD, a admiração vai a extremos. Como fazer para introduzir ao ouvinte uma banda tão cult? Talvez através do mais cult dos seus discos, aquele que resume toda a proposta artística da banda. Críticos dizem que o LP mais importante da carreira deles é Phaedra, mas esse apenas inaugurou o estilo mais básico do grupo, não reunindo todos os ingredientes característicos do seu som. Minha aposta é de que o disco mais "típico" do TD é Tangram, lançado em maio de 1980. Com Tangram e o LP ao vivo Quichotte/Pergamon, registrado simultaneamente, começou a "era Schmoelling", período considerado pela maioria dos antigos fãs como o melhor da biografia da banda. Duas coisas importantes aconteceram aqui: a estreia do citado músico, que influenciou muito o processo criativo do grupo, e a expansão do arranjo básico de sequenciador, Moog, Mellotron e guitarra com máquinas de ritmo, efeitos sonoros, outros teclados e samplers. A estrutura do álbum é uma sequência de partes feita de forma fluida, sem pausas. Em regravações posteriores essas seções foram separadas e receberam nomes próprios, mas a versão original é superior por formar uma progressão narrativa. As duas suítes são movimentadas demais para serem chamadas de ambiente ou de música de fundo. Várias passagens soam exatamente como as trilhas sonoras de filmes de ação que o grupo produziu na década de 1980 e instigou um exército de imitadores (Jan Hammer vem à mente). A primeira parte é muito menos integrada, incluindo um solo de piano e uma viagem de trem figurada a bordo do sequenciador, com momentos de indecisão ou mistério, e fecha com uma bizarra melodia barroca, sem nunca pegar embalo de verdade nem apresentar um clímax claro. A segunda parte é muito mais satisfatória, pois é inteiramente criada em torno de uma frase grudenta no sequenciador, uma melodia simples em baixo ostinato, acompanhada de um estranho tique-taque no ritmo e de uma sequência impressionante de solos de teclado, cada um mais expressivo que o anterior. Essa faixa cresce em intensidade até desaguar em nada menos que três clímaxes, sendo o último deles quase aterrorizante, evocando o clima de um filme sério como 2001 ou Solaris. Em resumo, o que torna o som do Tangerine Dream especial e único é bem demonstrado no LP Tangram, em particular na sua segunda parte. O LP ao vivo Quichotte/Pergamon contém um desenvolvimento diferente da mesma música, por isso forma uma dupla com o álbum de estúdio. (Quichotte contém o concerto completo e Pergamon é um relançamento que troca duas das três faixas por uma inédita do mesmo período, só que feita em estúdio.)
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