Resenha
Souls At Zero
Álbum de Neurosis
1992
CD/LP
Conheci Neurosis ainda na segunda metade dos anos 90 por meio de um amigo de sala de aula, ele falava com um afinco tão grande em relação a banda, que mesmo com o próprio nome dela – ou o simplesmente o gosto musical dele que eu já conhecia - já me fazendo imaginar um tipo de som que na época não era a minha praia, a curiosidade em conhecê-la acabou sendo maior. Ele me emprestou Souls At Zero, disco da banda que hoje pode ser visto como um dos seus pelo menos 3 maiores feitos. Souls At Zero é o terceiro disco da banda e sem dúvida um salto musical incrível em relação aos dois primeiros que são basicamente um thrash-hardcore completamente sem brio ou interessante o suficiente para serem escutados mais de uma vez. São pouco mais de uma hora de duração dividida em dez faixas, onde posso dizer que há uma necessidade de um certo investimento para que o ouvinte entenda com clareza do que se trata todo o barulho produzido pela banda. É possível perceber uma sensação de angústia e ansiedade pairando no centro de cada uma de suas músicas, com o disco entregando peças extremamente intensas uma após a outra. Um álbum que certamente na época levou o metal a territórios novos e emocionantes, adicionando instrumentos não metálicos como violinos e samples e fundindo diversos estilos como hardcore, thrash, pós-punk, música industrial e pós-rock. Você já ouviu algum disco em que além de sombrio, a sua sonoridade pode ser descrita até mesmo como claustrofóbica? Se não, este é um exemplo clássico. Músicas que nunca perdem a sua impetuosidade, com isso, mesmo nos seus momentos em que tudo fica mais calmo e limpo, algo permanece tocante. Mesmo que em alguns momentos as músicas sejam esticadas e repetitivas, parece que elas não funcionariam de outra forma. Digo que a maior força do álbum, além da forte musicalidade, produção poderosa e sonoridade incrível, é o quão bem a banda conseguiu combinar a sua agressividade com riffs e ritmos lentos de doom, ideias experimentais/progressivas e momentos atmosféricos sombrios, sendo que tudo isso acontece de uma maneira sempre autêntica e natural, passando longe de qualquer artificialidade. Por fim, Souls At Zero é um lançamento relativamente único na discografia da banda, porém, eu não digo isso apenas porque é o primeiro dentro de uma nova direção musical que a Neurosis embarcaria, uma trilha mais pesada, além de experimental/progressiva, mas também porque ainda se nota um som imaturo e cru em muitos aspectos, como se de certa forma tudo ainda estivesse estilisticamente “inacabado”, algo que, inclusive, no fim torna o disco extremamente charmoso.
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