Escrever sobre esta banda que tanto amo não está sendo fácil nesses dias sombrios após o falecimento do mestre Neil Peart. Quem ama sabe como é doloroso a perda de um ídolo e de um dos melhores músicos que já passaram por esta terra. No entanto, o legado fica e deve ser exaltado sempre; a maior homenagem que podemos fazer é lembrar e falar de sua obra. Então, vamos lá!!!
A chegada dos anos 80 para o Rush pode ser considerada como um ponto de transição para a banda, em vários aspectos. Após as tensas e exaustivas gravações do fantástico Hemispheres, de 1978, o Rush passou 1979 em branco, sem lançar nada – algo inédito na carreira do grupo até então – para recarregar as baterias e observar o que estava acontecendo na música à época.
E é sob esta óptica que PERMANENT WAVES, sétimo álbum de estúdio da banda, chegava às lojas logo no início de 1980, já mostrando as mudanças esperadas. No entanto, ainda com muito talento e virtuosismo, marca registrada do trio canadense. O clima estava mais leve, a banda voltou ao Canadá (o disco anterior foi gravado no País de Gales), estavam perto da família, reduziram os tempos das músicas e mergulharam de cabeça na sonoridade oitentista, com influência da New Wave e até mesmo do Reggae, além, é claro, do bom e velho Rock and Roll que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart sempre fizeram.
O álbum alcançou o terceiro lugar da parada canadense e americana e o quarto lugar na parada inglesa, além de atingir status de disco de platina e disco mais vendido da banda até então. O Rush estava caminhando para o seu ápice, com menos pressão e com inspiração e liberdade de sobra para compor o que quisessem.
Logo na abertura com ”The Spirit Of Radio” ficou claro a quebra de paradigma das progressivações complexas para uma canção altamente radiofônica que mistura Rock, Pop, New Wave, Reggae tudo em uma coisa só. Música quase que obrigatória em todos os shows da banda. Ainda assim, com um alto nível instrumental e com o título da música fazendo referência a uma estação de rádio local.
Mas não pense que não haverá complexidade em um disco do Rush, muito pelo contrário. ”Freewill” está aí para provar isso; o que parece simples de início, com um riff absolutamente ‘cantável’, se transforma num verdadeiro caos sonoro, com os três integrantes solando em cada um dos seus instrumentos. Uma banda qualquer poderia estragar uma música com isso, o Rush fez com que todas as vezes que essa música foi tocada ao vivo a plateia levante-se e aplauda, tamanho talento e precisão cirúrgica destes três músicos monstruosos. ESPETACULAR!
”Jaccob’s Ladder” uma música altamente climática, com várias camadas. Jacob’s Ladder (Escada de Jacó) refere-se à uma conhecida passagem da Bíblia, localizada mais precisamente no Antigo Testamento. Em Gênesis 28:10-22 ocorre o relato de um sonho do personagem Jacó, no qual uma grande escada deixada na terra surgia, cujo topo levava ao céu. ”Entre Nous” uma música simples, porém com uma melodia e letras lindíssimas vão conduzindo o disco de maneira agradabilíssima a qualquer ouvido. A linda balada ”Different Strings” prepara o terreno para o Grand Finale. E QUE FINAL, selo Rush de qualidade.
Tenho até dificuldades de falar sobre ”Natural Science”, a maior música do disco, com duração de 9 minutos e meio. Letras sobre ficção científica (grande paixão de Neil Peart), vários andamentos, trocas de compassos, climas espetaculares, um dos melhores solos de guitarra de Lifeson, Geddy Lee destruindo nas 4 cordas e Neil Peart mostrando o porquê ser o melhor baterista da sua geração (na minha humilde opinião). Simplesmente fenomenal, o disco não poderia terminar de forma mais bela. QUE MÚSICA, senhoras e senhores!
Este disco serviu como o precursor do que viria a ser, até hoje, o disco mais famoso e mais aclamado da banda, o clássico Moving Pictures. Todavia, eu, como um fã ardiloso do Rush, considero Permanent Waves o melhor trabalho da banda. A escolha não é fácil, muitos concorrem a este posto, mas minha mente já está feita com relação a isso. Um disco que abre os anos 80 deixando bem claro que o Rush não estava para brincadeiras.
E fica aqui mais uma vez a minha singela homenagem a uma banda que nunca cansarei de honrar e homenagear. Os prantos e a tristeza com a perda de um ídolo transformam-se em alegria e satisfação ao relembrar as maravilhas que Neil Peart deixou, ainda mais para quem toca bateria e sabe a importância que este cara teve para o instrumento.
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