quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Crítica ao disco de Ángel Ontalva & Vespero - 'Live at the Astrakhan State Theatre of Opera and Ballet' (2020)

 Ángel Ontalva & Vespero - 'Ao vivo no Astrakhan State Theatre of Opera and Ballet'

(23 de junho de 2020, OctoberXart Records)

Ángel Ontalva & Vespero - Ao vivo no Astrakhan State Theatre of Opera and Ballet

Hoje temos a grata oportunidade de apresentar a terceira peça fonográfica da associação hispano-russa ÁNGEL ONTALVA & VESPERO, o álbum ao vivo “Live At The Astrakhan State Theatre Of Opera And Ballet”. Quase todo o material aqui contido provém daquele fabuloso disco de estreia da associação que foi "Carta Marina" (2018), juntando três temas que já figuravam num disco a solo do próprio ONTALVA: tudo isto foi gravado ao vivo durante a inauguração de uma exposição das obras de Ontalva no local mencionado no título, em 28 de fevereiro de 2019. As gravações adicionais subsequentes foram distribuídas entre os estúdios La Ratonera (Fuensalida, Espanha) e Astracán (Rússia). O álbum em questão foi editado pela editora OctoberXart Records a 23 de junho em co-produção do próprio ONTALVA e de Francisco Macías, embora se deva esclarecer que, literalmente falando, não se trata apenas de um álbum dele em conjunto com VESPERO. Em efeito,Natasha Blinova ao pé do cânion, assumindo a melódica e o piano em metade das canções contidas neste item fonográfico. Toda esta informação sonora é tratada com uma precisão imaculada que nos permite potenciar o sentido de conjunto projectado pelo conjunto, o que se traduz numa abordagem mais movida pela subtileza e por um espírito de engenharia na hora de concretizar o esquema psicodélico progressivo e experimental que é o marca desta casa multinacional. Claro que Ontalva está a cargo da arte gráfica, e o trabalho é impressionante, como sempre.

Os primeiros 14 minutos do álbum são ocupados pela dupla de 'Horrenda Charybdis Near Lofoten' e 'Giant Lobster Between The Orkneys And The Hebrides'. Ambas as peças, que estão entre as mais significativas da associação entre ONTALVA e VESPERO, apresentam dois exercícios de elegante e refinada musicalidade jazz-progressiva com inegáveis ​​arestas crimsonianas e muitas outras enraizadas na fusão. O primeiro destes temas é expressão de uma extroversão deslumbrante no interior de uma engenharia sofisticada, enquanto o segundo privilegia a graça evocativa, estabelecendo-se num jogo de alternâncias entre passagens intensas e outras mais contidas. A proeminência do violino e as relevantes texturas do bandolim marcam um importante contrapeso ao senhorio imposto pelo duo rítmico. Pode-se afirmar desde já que quase todas as cartas do conjunto estão na mesa. Segue-se 'Satélites, uma peça que cumpre a função de explorar nuances serenas e contemplativas assentes num desenvolvimento temático que se mantém firme no âmbito da envolvente através das variantes que vão surgindo ao longo do percurso. A cadência particular da escaleta ajuda a reforçar uma aura de intimidade espiritual, tornando-se o cúmplice perfeito do violino, que, juntamente com a guitarra elétrica, se embebe de um lirismo cristalino. Imaginamos aqui o boletim meteorológico experimentado com os padrões de Canterbury. 'Sledges Crossing The Gulf Of Bothnia' é o item mais longo com quase 8 minutos e meio de duração, e a sua função é realizar uma nova exploração em ares fusionais dentro de um enquadramento sonoro inicialmente sustentado por uma suavidade meticulosamente elegante, e posteriormente, redireccionado para um groove mais vivo. Nesta nova situação, o conjunto adiciona cores space-rocker à sua paleta de sons. 'Never Again' retorna ao terreno do jazz contemporâneo, desta vez com ornamentos latinos herdados. Os majestosos floreios do piano são os principais recursos para ampliação e valorização do desenvolvimento temático. 'Carta Marina' estabelece o oposto do calor da peça anterior com a sua demonstração de densidade e tensão numa arquitectura sonora onde o avant-prog e o jazz contemporâneo se misturam. O piano de Blinova continua presente para reforçar o papel dos teclados no cenário geral,

'Sea Orm' – outro dos standards mais célebres deste projeto – resume uma engenharia musical coerentemente erguida sob uma roupagem prog-psicodélica onde o núcleo temático deixa claro o seu brilho e carisma essenciais. Tudo termina com a chegada de 'Eyes In The Mirror', uma peça que regressa plenamente ao discurso e groove típicos do jazz-fusion com uma orientação progressiva. O calor cativante que emana do encontro entre o violino e a melódica estabelece o corpo central de onde a guitarra eléctrica terá de partir para marcar um sistema de floreios que dinamizam uma fantasia extremamente notável. Talvez seja a melhor presença do violão em todo o evento. A jovialidade ágil que aqui impera faz desta peça o momento perfeito para uma despedida carinhosa. Em fim,


- Amostras de 'Live at the Astrakhan State Theatre of Opera and Ballet':

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