Markus Reuter - 'Truce 2'
(12 de janeiro de 2022, MoonJune Records)
Hoje temos o enorme prazer de apresentar “Truce 2”, a nova obra fonográfica solo de MARKUS REUTERque foi lançado pela gravadora MoonJune Records na segunda semana de janeiro de 2022. Certamente, não é um álbum solo no sentido mais estrito do termo, já que REUTER, que assume as Touch Guitars, o sintetizador, as paisagens sonoras e os efeitos , foi acompanhado do início ao fim por dois magistrais acompanhantes como Fabio Trentini (baixo com e sem cordas, contrabaixo elétrico e sintetizador de baixo) e Asaf Sirkis (bateria e percussão). E não é só isso: verifica-se também que todo o material aqui contido foi escrito e arranjado pelos três, assim como no álbum "Truce" de 2020. As gravações de "Truce 2" aconteceram no Ritmo&Blu Studio, localizado na cidade italiana de Pozzolengo, entre 3 e 5 de julho de 2021. Esse mesmo estudo foi usado para o processo de mistura, no último terço do mês de agosto seguinte, e posteriormente ocorreu a masterização. Para essas duas últimas fases, a presença de Trentini como parceiro constante da REUTER (além de Stefano Castagna) foi fundamental.
Este álbum, como dissemos acima, exala vigor e distinção em partes iguais, e basta prestar atenção à dupla inicial de 'The Rake' e 'Rounds Of Love'. A primeira dessas faixas começa com uma tentativa de exibição de sonoridades explosivas aleatórias antes do trio se concentrar em um motivo vigoroso articulado apropriadamente. Os grooves são complexos no mais puro estilo progressivo, mas dá para perceber que já possuem linhas bem definidas; com o aparecimento estratégico de alguns interlúdios etéreos, a peça adquire um domínio extra. No meio do caminho, o grupo incorpora nuances herdadas do free jazz em sua exibição contundente de psicodelia pesada progressiva, que se concentra ainda mais impetuosamente em sua própria tensão essencial. Quanto a 'Rounds Of Love', O trio dedica-se a explorar swings de fusão para conferir uma agilidade renovadora à expressividade persistentemente ígnea que delineia com mão firme o amálgama dos instrumentos participantes. É como se uma partitura perdida de um dos dois últimos álbuns de estúdio do STICK MEN tivesse chegado às mãos da última geração do KING CRIMSON com a missão de explorar os padrões punk-jazz. Além de ter aqui um dos solos mais eletrizantes de Touch Guitar, há também um brilho muito marcante que é abastecido pela agilidade já mencionada. Nós desfrutamos de um começo poderoso para o álbum e um momento climático dele, sucessivamente. Na terceira música do repertório, que responde ao título 'Barren', o grupo investe um bom tempo na sua faceta mais propriamente voltada para o caminho avant-progressive; a densidade cósmica e o parcimonioso halo de mistério são as coordenadas sob as quais se desenvolve esta peça marcada por uma nebulosidade esotérica. Um cruzamento peculiar entre o jazz experimental e o RIO opera aqui. Já na segunda metade, a bateria muda para um groove mais decidido, que empurra a música para um clímax final ardente.
Com uma duração de 10 minutos e pouco, 'Melomania' assume-se como a peça mais longa do repertório, o que nos prepara para uma exibição de magnificência magistral do conjunto. Tudo começa com uma espécie de retomada da densidade voraz estilizada que marcou boa parte da peça anterior, embora com um vigor mais contido. A bateria, totalmente focada em vibrações avant-jazz, brilha ao guiar os demais instrumentos nessa jornada que demora a desenvolver texturas furtivas de teor psicodélico-sideral. Quando a dupla rítmica para, o campo se abre para um solo sonhador de Touch Guitar em meio a camadas e efeitos cósmicos; já com o regresso daquele, o trio volta a elaborar um sólido exercício de jazz experimental combinado com prog crimsoniano, o que implica outra nova amostra de ferocidade imponente. Agora a Touch Guitar se torna uma embaixadora do Vulcano e a dupla rítmica está reforçando sua nova agilidade para sustentar a engenharia incendiária em andamento de maneira solvente. Que grande zênite do álbum!, por Deus! Quando chega a vez de 'Consolation', o grupo se prepara para explorar uma dimensão melancolicamente torturada da psique humana dentro de um quadro sonoro onde a garra do avant-rocker é manejada com relativa sobriedade. O fraseado extenso e expansivo que ocorre no solo maratona de Touch Guitar é convenientemente apoiado pelo sofisticado trabalho da dupla rítmica. 'River Of Things' segue, em grande parte, a estratégia criativa da faixa #2, mas com uma dose menor de densidade e um punch rock mais pronunciado. A inerente vitalidade da peça adquire uma tonalidade especial quando a dupla rítmica utiliza uma arquitetura que em muitos momentos se baseia em jogos sincopados. Perto do final, o bloco sonoro assume uma garra semelhante às das duas peças anteriores. O fechamento do repertório vem da mão de 'One Cut Suffices', que é autenticamente a peça mais serena dele. Com uma duração de quase 8 minutos e quinze, o conjunto deposita neste tema uma auscultação de atmosferas e nuances introspectivas que se deixa envolver por uma tensão arcana vinda de fora. Podemos imaginar que o que acontece aqui é uma reformulação do paradigma carmesim do novo milênio em um fogo cruzado entre os padrões de Ray Russell e Allan Holdsworth.
Assim se completa a experiência de “Truce 2”, uma das obras mais majestosamente amadurecidas da cena progressiva internacional do corrente ano de 2022. O craque MARKUS REUTER exibiu uma coisa escandalosa junto com seus mais ilustres companheiros de viagem. Implacável e extremamente talentoso, ele, Trentini e Sirkis nos forneceram um catálogo estupendo de música progressiva aventureira e de vanguarda. 300% recomendável (100% para cada músico envolvido nesta nova façanha exaltada na arte do som).
- Amostras de 'Truce 2':
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