seunda-feira, 29 de abril de 2019
PRISTINE
Mais uma pancada nas 'orêia' desferida pela banda liderada pela incendiária ruivinha norueguesa, Heidi Solheim, recém-saída do forno. E, de tão fodástico, periga ser o melhor trabalho já lançado por esta banda de blues rock que veio do frio. Mas uma coisa é incontestável: é o mais pesado!
A abertura com 'Sinnerman' já deixava pistas disso, com Solheim emulando uma Grace Slick impregnada de metanfetamina. E a quase stoner faixa-título, na sequência, confirmaria o prognóstico. Mas com achegada de 'Aurora Skies' traz de volta a lisergia, agora com pitadas de folk e. até mesmo. trip hop. Já em 'Blind Spot' a veia zeppeliniana dá as cartas de forma brilhante -algo que uma banda medíocre como a Greta Van Fleet jamais conseguirá absorver. Mas a cereja do bolo é, definitivamente, a pequena obra-prima 'Cause & Effect', um dos melhores exemplares de blues contemporâneo que tive a oportunidade de conhecer. Sua primeira audição me trouxe lágrimas aos olhos...e a segunda também.
E a incansável Heidi Solheim e seus irmãos em blues seguem com mais uma irrepreensível compilação de inéditas. E 'Ninja' é um legítimo e digno sucessor para 'Reboot', apesar de não ser uma continuação pura e simples daquele que é considerado seu melhor trabalho. Antes de mais nada, 'Ninja' é uma sequência natural, além de celebrar uma pluralidade de dinâmicas nunca antes apresentada pela banda. Da abertura com o groove, com direito a um clavinet, de 'You Are The One', à placidez da belíssima 'Forget' (como Heidi me lembrou Karen Carpenter, aqui...), é perfilado um leque em que cabem a quase heavy 'The Rebel Song', a psicodelia de 'Jekyll & Hyde', uma zeppeliniana 'Ghost Chase', o blues minimalista de 'Perfect Crime' e, até mesmo, 'Ocean', um spiritual contemporâneo como poucos.
Se você gostou da Pristine até aqui, não faltarão motivos para comemorar o lançamento de 'Ninja'.
Quase que já se convencionou afirmar que o melhor rock da atualidade vem do frio escandinavo, notadamente da Suécia. Mas não faltam excelentes exemplares sob os domínios de seus vizinhos de porta. Mais voltados para o metal em todas as suas vertentes, o stoner e o prog, a Noruega surpreende com Pristine. Como o próprio nome sugere, Heidi Solheim (vocais), Espen jalobsen (guitarras), Anders Oskal (Hammond B3/teclados/pianos), Asmund Eriksson (baixo) e Kim Karlsen (bateria) reuniram-se em 2006 com o firme propósito de moldar um blues rock recheado de r&b, funk, soul, porém pesado, sujo e com muita psicodelia na receita. Um som único, imaculado, puro...livre das amarras do mercado.
E, já em seu primeiro trabalho, com o sugestivo título de 'Detoxing' (2011), elevaram esta proposta à enésima potência. Com riffs matadores, a poderosa voz de Heidi e longas jams. Totalmente registrado ao vivo em estúdio, a qualidade de todos os integrantes é flagrante, apesar da crueza próxima de uma demo. Destaca-se também a excelente presença do B3 de Oskal, um mix estilistico de Ray Manzarek e Gregg Rolie. e ainda uma interpretação arrasadora de Heidi para 'Whipping Post'. O impacto de 'Detoxing' foi imediato e participações em festivais eurpeus e norte-americanos, e até mesmo pequenas turnês, aumentaram em proporções geométricas.
E 'No Regret', de 2013, confirma tudo o que se esperava da banda. Um tanto mais polido, mas ainda privilegiando as longas (pero no mucho) jams, trouxe o primeiro hit da banda, 'Carry Your Own Weight'. E as oportunidades e premiações não cessaram.
Em 2016 mantém sua fórmula de sucesso imaculada frente à forte pressão da indústria (sim, continuam independentes através da Pristine Music) e 'Reboot' vem à tona recheado de belíssimas surpresas, a começar pela alternância climática da faixa título, quase um progressivo, com mais um primoroso trabalho de Anders Oskal no B3 carregado de Leslie. A não menos surpreendente 'The Middlemen' vem em seguida e nos enche de esperanças em dias melhores para o rock. Mas é claro que os riffs pegajosos não poderiam ficar ausentes e 'Derek' abre os trabalhos sem deixar dúvidas a este respeito, passeia pelas veias do punk em 'Bootie Call' e entrega o fechamento à beleza quase pastoral de 'The Lemon Waltz'. Em resumo, 'Reboot' não é apenas o trabalho mais maduro da discografia da banda até o momento mas, também, uma pequena gema preciosa do rock, como poucos na atualidade. E acredito que será difícil à própria banda superá-lo um dia...espero, sinceramente, que consigam. Afinal, ganharíamos todos.
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