segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Marisa Monte – Portas (2021)


 

A diva está de volta! Saudemos a diva, abrindo as portas para o que ela nos oferece! Marisa está de regresso e o barulhinho, para não variar, é bom.

Os fãs de Marisa Monte desesperavam há muito. Uma década, mais coisa menos coisa, é tempo suficiente para que se perca a paciência e se exija o regresso daqueles de quem se gosta, mesmo que, de quando em vez, um ou outro álbum com a participação da carioca surgissem para atenuar as distâncias temporais. Ao vivo, coletâneas, com os amigos Tribalistas, mas faltava um disco em nome próprio, um álbum com canções inéditas, de acordo com o figurino. Esse momento tardava e as esperanças iam diminuindo. Até que, de forma inesperada, Marisa Monte deu um profundo ar da sua graça e abriram-se as portas para o tão esperado regresso. Talvez tenha sido melhor assim. Quando da aridez do silêncio surge a magia do som, então passa a estar tudo certo, tudo muda, já não se pensa no vazio de anos, o que vale é o momento presente. Em tempos de reclusão, Marisa Monte reuniu uma boa dose de canções, de amigos novos e outros de longa data, e voltou para encantar um pouco mais as nossas vidas.

Portas foi o título escolhido para o grande regresso. Título do álbum, mas também de uma das canções mais orelhudas do disco. Fazer este trabalho demorou tempo e foi um enorme desafio. Unir músicos e produzir canções que passaram pelo Rio de Janeiro, naturalmente, mas também por Lisboa, Madrid, Barcelona, Los Angeles e Nova Iorque não terá sido fácil. No entanto, foi esse o caminho que Marisa Monte foi trilhando devagar, sem grandes pressas, montando-se assim as peças do puzzle geográfico na base de Portas.

O álbum abre com o tema-título e, não tenhamos dúvidas, é Marisa Monte dos pés à cabeça. Feito com Arnaldo Antunes, parceiro habitual, e com Dadi, também um velho conhecido, funciona como uma excelente abertura para o que se segue. Com Chico Brown, filho do tribalista estranhamente ausente de todo o álbum, “Calma” soa, mesmo assim, a esse seu importante projeto paralelo, mas também, e muito, a Jorge Benjor. É um ótimo e orelhudo single. Saltitando por outros momentos de Portas, há várias paragens obrigatórias, como em “Quanto Tempo”, que vai ficando aos poucos nos ouvidos, ganhando o seu espaço, assim como em “Medo do Perigo”, lindíssimo tema pontuado pelo piano de Chico Brown (uma das figuras maiores do álbum), neto do velho Buarque, também ele Chico, como bem sabemos. Marcelo Camelo, o nosso eterno hermano, contribui com “Espaçonaves”, “Você Não Liga” e “Sal”, esta última temperada com um bonito swing, ensolarada, perfeita para um final de tarde. “Vagalumes” é também muito bonita, algo nostálgica, com o verso mais bonito de todo o disco (“Uma coisa tão pequena pode transformar a vida”). Depois, quando já nos aproximamos do fim, chegam ecos da Portela, mítica escola de samba do Rio de Janeiro, através da brasileiríssima “Elegante Amanhecer”. Samba no pé não poderia faltar, pois então. A já referida “Você Não Liga” é outro momento grande do álbum (e aqui retomamos o que se disse no início deste texto, apenas substituindo o nome de Marisa Monte pelo de Marcelo Camelo), um belo samba-rock, que mexe até, mesmo que subtilmente, com as ancas do ouvinte mais empedernido. E, por fim, “Quando você pensa que está tudo errado e negativo / E que ainda vai pioar, piorar / … / Lá vem o sol / Para derreter as nuvens negras / … / Pra fazer você encher o peito e cantar”. Este último tema é uma feliz parceria com Seu Jorge e com Flor, filha do autor de “Burguesinha”, e uma sorridente e esperançosa maneira de fechar a última porta do disco.

Marisa Monte continua dona do seu pedaço, até porque este Portas, na sua essência, não avança nem recua em termos do que a artista vem produzindo desde o longínquo Mais, o seu primeiro disco de estúdio. E isso, entenda-se, nada tem de negativo. Portas é um fresco e leve resumo daquilo que nos leva a gostar tanto de Marisa Monte. Ela continua a ser rainha, continua a ser poderosa no que faz, no que canta, no bom gosto que imprime ao seu trabalho. E agora que temos dela um novo registo, continuaremos à espera de a ver e ouvir ao vivo, num qualquer espaço futuro que a receba, como nós, de braços abertos.


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