segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Nick Cave and The Bad Seeds – No More Shall We Part (2001)


No More Shall We Part coloca um ponto final ao mais fértil período de criação de Nick Cave. E fecha-o da melhor maneira possível, apresentando-nos mais um indiscutível clássico. Está como sempre esteve: deslumbrante!

No More Shall We Part continua absolutamente admirável. Não se encontra nele uma única ruga melódica, um único som que pareça perdido no tempo, desajustado, que se pudesse lamentar, mesmo que a contragosto. Dir-se-á que não se espera outra coisa de um clássico, é certo, mas o que encontramos neste disco adulto (tem já vinte anos de idade), ultrapassa o limite expectável. Agora que tivemos de voltar a ele, havia (há sempre, se formos sinceros) algum receio na forma como o encontraríamos ao fim de tanto tempo sem o ouvirmos. Os receios foram, felizmente, infundados. Gostamos que o amor aos discos que amamos se mantenham inalterados, e foi esse o caso. Durante pouco mais de uma hora que estivemos com ele e com a sua dúzia de canções, o tempo parou. Voltámos a 2001 e à magia das suas primeiras audições, glorificando pormenores (aquele piano de “As I Sat Sadly By Her Side”, meu Deus!), sussurrando versos de olhos evocativos e fechados (“I hold this letter in my hand / A plea, a petition, a kind of prayer”), ouvindo as vozes sonhadoras de Kate e Anna McGarrigle no final de “Hallelujah”…

No More Shall We Part marca o fim de um ciclo na discografia de Nick Cave and The Bad Seeds. Ou melhor, encerra o mais perfeito dos seus períodos musicais, que foram vários até hoje e de enorme coerência. Este contemplou quatro álbuns históricos, todos eles rasantes à ideia de perfeição. Começou no distante ano de 1994 com o poderoso e ainda visceral Let Love In, passou por Murder Ballads (1996) e por The Boatman’s Call, no ano posterior, terminando com mais esta obra-prima (a quarta seguida) que é No More Shall We Part. Ironicamente, a separação deu-se com o frágil disco seguinte, um dos menos conseguidos trabalhos do bom australiano e da sua trupe, Nocturama (2003).

Mas voltemos ao álbum e às suas canções. Voltemos a ele para que possamos lembrar-nos de todos os seus temas, retirando-os do eventual esquecimento a que poderão ter estado sujeitos em muitos de nós. O disco abre com, pelo menos, seis clássicos de rajada, o que não é, convenhamos, coisa para todos. Para além de “As I Sat Sadly By Her Side”, a enxurrada de diamantes continua com “And No More Shall We Part”, “Hallelujah”, “Love Letter” (das mais brilhantes composições de sempre de Nick Cave), “Fifteen Feet of Pure White Snow” (o piano, mais uma vez o riff do genial piano de Cave) e “God Is In The House”. Todas estas composições são perfeitas, convém recordar, sendo que o album contém ainda outras tantas, que mesmo não tendo o impacto da primeira meia-dúzia, são objetos sonoros de beleza suficiente para voltarmos a elas com o mesmo agrado da primeira vez, sublimando as suas múltiplas virtudes. No entanto, talvez estejamos a ser um pouco ingratos por não incluirmos “Oh My Lord” no fabuloso lote inicial. Que Deus nos perdoe… E ainda há “Sweetheart Come” e o desconcertante violino de Warren Ellis lá pelo meio, a divagar, traçando no ar rasgos maravilhosos de gentilezas sonoras. Mas não se fica por aqui o disco, terminando com “The Sorrowful Wife”(e de novo o piano, esse grande protagonista, a segredar-nos coisas maravilhosas, tão maravilhosas como a letra cantada até à explosão final!), “We Came Along This Road”, “Gates To The Garden” e “Darker With The Day”.

Feitas as contas, No More Shall We Part terá sido o último disco de um certo Cave que, diga-se em abono da (nossa) verdade, não mais voltou a ser assim até aos dias de hoje. Com isto, não queremos dizer mais do que o que vai escrito. O tempo passou, e com ele Nick Cave avançou sempre de peito aberto, incansável na busca da sua verdade artística. Ainda bem que assim foi. Ainda bem que assim é. Ainda bem que o temos connosco até hoje.

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