É assim que os músicos de rock devem envelhecer!!!
Começar por referir que Dig, Lazarus, Dig!!! é o produto de um senhor de 50 anos, e isso é relevante sobretudo numa altura em que Cave já nada tinha a provar a ninguém, mas ainda assim soube dar mais um retoque na sua imagem (sim, falar em reinvenção seria ambicioso demais) – acrescentou um bigode de chulo mexicano, agarrou ele próprio numa guitarra, mostrou que o projecto paralelo Grinderman não era uma brincadeira e incorporou na sua discografia em nome próprio um disco de rock vivaço, com sangue na guelra.
Sim, os fãs mais antigos dizem que o disco não é nada por aí além. Sim, dizem que é pouco inspirado, e que está longe do seu auge de Let Love In e The Boatman’s Call. Mas porra, fossem assim os discos maus de muita banda que por aí anda a vender milhões e o mundo seria um lugar bem melhor para viver.
“Dig, Lazarus, Dig!!!” é uma poderosa canção que agarra pela repetição do pedido a Lázaro para escavar, mostrando em meros minutos o que é a persona Cave, sempre de volta de mitos bíblicos seja para glorificá-los ou para questioná-los. Porque a condição humana a isso obriga, acredite-se ou não, tenha-se fé ou não, não há como menosprezar o impacto que as crenças dos seres humanos têm na forma como levam a sua vidinha. Cave disseca este fenómeno, da mesma forma como terá dissecado uma rã nos seus tempos de escola na distante Austrália. Entretanto deu várias voltas ao mundo, incorporou diferentes vivências da Santíssima Trindade – drogas e sexo e rock n’roll – e espalha o seu evangelho a quem o ouve. E que bem que sabe ouvi-lo, agora e sempre.
Entretano acontece música da boa, realce para “We Call Upon the Author”, frénetica e para “Hold on to Yourself”, crooner de américa profunda. O álbum encerra com um excelente blues “More News From Nowhere” com Cave passando a maior parte do tempo a relatar notícias, em modo jornalista e não cantor, e é uma delícia.
A marca Nick Cave & the Bad Seeds está, inquestionavelmente, impressa com letras grandes na história da música contemporânea e Dig, Lazarus, Dig!!! não envergonha a mesma, apesar de haver outras amostras melhores do grandeza do senhor. Amén.
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