Resenha
My Arms, Your Hearse
Álbum de Opeth
1998
CD/LP
Se eu começar essa resenha dizendo que o Opeth parecia mostrar finalmente com clareza o tipo de som que eles gostariam de fazer, pode parecer que eu acho os dois primeiros discos um emaranhado de boas músicas, porém, apresentadas de forma confusa, mas não é isso, apenas senti uma evolução realmente mais nítida - que inclusive vai acabar me complicando na hora de dar a nota final para o disco. My Arms, Your Hearse é um álbum que está impregnado de ideias progressivas. A banda continua usando a sua fórmula vencedora, partes mais pesadas que levam a intervalos acústicos. Os vocais de Mikael parecem está cada vez melhores, pois se antes ele havia se concentrado apenas em gritos agudos guturais tingidos de black metal – o que eu já achava interessante -, aqui, os estilos mencionados, são misturados uniformemente com o seu agora característico gutural profundo, que adiciona uma sensação muito mais instigante e diversificada a todo o álbum. Sobre os seus vocais suaves, Mikael também mostra uma evolução no seu lado mais emocional como cantor. My Arms, Your Hearse é um disco agressivo, implacável, emocional e musicalmente maduro que sinaliza bastante para o que a banda iria produzir futuramente em clássicos como Still Life e Blackwater Park. A energia encontrada aqui é poucas vezes vista em qualquer outro disco da banda, aquela energia marcada por uma essência sombria, fantasmagórica e assustadora. Talvez dizer que se trata de uma banda no limbo possa ser uma boa definição. Eles “deixaram” o death metal progressivo de seus dois primeiros álbuns para trás de forma provisória, mas ainda não entraram no território de hinos lisos e confiantes dos seus sucessores. E levem em consideração as aspas que usei agora a pouco para ficar mais fácil de entender o que eu quis escrever ao colocá-las. My Arms, Your Hearse é o primeiro disco conceitual do Opeth. O álbum é sobre um homem que morre e se torna um fantasma. A trama gira em torno da mulher que ele amou antes de sua morte. Após a morte dele, ele cuida de sua amada com frustração e desconfiança, atormentado por uma preocupação constante, pois acredita que ela não lamentou verdadeiramente sua morte. Embora a presença do fantasma passe despercebida, ela sente uma grande tristeza e se recusa a aceitar sua morte. O título de cada música do álbum é formado pela última palavra, ou palavras, da letra da música anterior, e a última palavra da última música do álbum, "Epilogue", é "Prologue", que é o nome da primeira música do álbum. O álbum contém três faixas instrumentais: "Prologue", "Madrigal" e "Epilogue". Para essas músicas, há textos no encarte que seguem essa regularidade. Pode-se também traçar paralelos entre o curso do álbum e o curso das estações, onde a última música termina no inverno e reconduz à primeira música com a chegada da primavera. “Prologue”, como o nome sugere, é apenas uma introdução ao disco. Em exatos 59 segundos, por meio de algumas notas de piano e barulhos de chuva ela já nos leva onde de fato o disco vai começar musicalmente. “April Ethereal”, após um começo pacato de álbum, o disco já é direcionado para uma sonoridade tipicamente da banda, cheia de peso, uma bateria esmagadora, riff de guitarra matador e grunhidos que combinam perfeitamente com a faixa. Logo na primeira música do álbum, é possível perceber que as mudanças entre sonoridade pesada e acústica parece fluir melhor do que nunca. Por volta dos 3:35, quando a peça diminui o ritmo sem perder o peso, é um dos seus melhores momentos. Como sempre, o ouvinte estar usando bons fones ajuda muito na experiência, pois durante todo o álbum as guitarras se separam e ouvir cada uma de um lado faz parte da mágica ao ouvir o disco. “When”, possui uma introdução bela e suave no violão, mas que só dura cerca de 25 segundos, pois então a peça explode em uma instrumental raivosa sob o vocal gutural de Mikael. É possível perceber ótimas camadas de violões se misturando com as guitarras distorcidas, com isso criando um efeito maravilhoso na música. Em termos de ritmo, talvez chamar de simples seja um exagero, mas não é nem de longe uma das realizações mais técnicas da banda, porém, de qualquer forma, basicamente tudo aqui soa perfeito. Talvez falte um pouco da dinâmica corriqueira nas músicas da banda, mas ainda assim, é uma peça requintada e preenche bem o disco. “Madrigal” é uma faixa acústica com pouco menos de um minuto e meio. Completamente instrumental, serve como uma preparação para a faixa seguinte. “The Amen Corner“, possui uma atmosfera mais sombria do que todas as músicas apresentadas no disco até o momento. Entrega uma guitarra bastante rítmica e a bateria mais uma vez é excelente – na verdade, o trabalho de bateria nesse disco é um dos melhores entre todos os discos da banda. Os vocais, intercalados mais uma vez, estão ótimos e o solo de guitarra soa bastante adequado e se encaixa perfeitamente na música. Uma peça com o selo típico do Opeth, em que a brutalidade abraça a delicadeza e juntos constroem um número musical incrível. “Demon Of The Fall”, que o Opeth é uma banda que tem uma incrível capacidade de soar pesada, isso todo mundo sabe, mas nem sempre você vai ouvir a banda entregando uma sonoridade tão maligna como essa. Possui um ambiente de tristeza e escuridão por toda a parte. Até mesmo os momentos os riffs acústicos da peça são de certa forma agressivos – ou fantasmagóricos como é o caso da parte que inicia por volta dos 3:55. Quando Mikael retorna com os vocais é possível perceber na voz dele a tristeza que história está entregando no momento. “Demon Of The Fall” é um death metal de primeira grandeza que termina com algumas notas limpas no violão. “Credence”, considero uma boa pausa depois das seções pesadas que a precederam. Uma composição simples e suave, mas ao mesmo tempo excelente e de letras tristes e sombrias. Bateria e baixo fazem um trabalho eficaz, mas mínimo para que não tiremos o foco dos belíssimos violões e vocal, verdadeiras estrelas da faixa. No último minuto, ainda há espaço para uma guitarra lamentosa que acompanha o violão até a fim da peça. “Karma” já começa de maneira alucinante e extremamente pesada, tanto pela parte instrumental, quanto pelos vocais rosnados e assombrosos. Um death metal que não tem nem mesmo uma nota limpa antes de meter o pé na porta, ou melhor, nos dá um tapa no ouvido, mostrando a banda no seu melhor. Antes do primeiro minuto, a música muda o ritmo, mas sem perder a sua agressividade, permanecendo nesse ritmo por mais tempo, até que por volta dos 3 minutos, tudo fica mais tranquilo, através inicialmente do violão e voz e depois uma seção rítmica bem cadenciada, o solo que entra em seguida é simples e bem legal. Destaco ainda a parte que começa em 5:30 e vai até o final – ou quase, pois o último segundo é uma nota de violão -, bastante tensa e intensa. “Epilogue”, como o nome sugere, marca o final do disco – se tirarmos os relançamentos de 2000 e 2001 que contém duas faixas bônus. Uma faixa instrumental que embora seja repetitiva, possui uma guitarra de ótimo timbre, além de um solo belíssimo e cheio de emoção. O órgão Hammond ao fundo consegue valorizá-la ainda mais. Apesar de simples, também é encantadora e finaliza o disco muito bem. No geral, o que temos aqui é uma exibição sublime de composições quase sempre refinadas até mesmo em seus momentos mais brutais, tudo sempre soa bastante claro. My Arms, Your Hearse tem uma atmosfera única e serve como um ótimo meio termo entre o que a banda apresenta nos dois primeiros discos e seu som característico em trabalhos posteriores. É fácil de perceber que a musicalidade deles progrediu consideravelmente. Por último, é sempre bom falar sobre uma das grandes características de My Arms, Your Hearse, ou seja, a de ser um disco onde todas as suas faixas se equilibram em um nível de qualidade bastante intransigente, um feito e tanto para qualquer álbum por conta própria.
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