quarta-feira, 1 de março de 2023

Dry Cleaning – New Long Leg (2021)

 

A fornada de 2021 continua a presentear-nos com excelentes discos, e New Long Leg promete ser mais um a ter em conta quando chegarmos ao fim do ano e fizermos o balanço do mesmo

Depois de dois EP’s em 2019 e um belo single lançado no final do ano passado (“Scratchcard Lanyard”, música que abre o disco), eis que os Dry Cleaning, banda do sul de Londres, lança o seu primeiro longa duração. Tal como aconteceu com os Black Country, New Road, a expectativa era elevada e a confirmação foi quase imediata. Há de facto uma vaga de novas bandas a surgirem no Reino Unido que urge ouvir e degustar. Para melhor as descobrir nada como ir à playlist aqui lançada pelo nosso grande Francisco Fidalgo, sempre atento ao que de novo vai aparecendo.

Preoccupations, Protomartyr, Porridge Radio, Shame, IDLES, Fontaines D.C. são alguns dos nomes que têm surgido nos últimos anos revisitando o pós-punk são vários e todos merecem atenção, todos conseguiram adicionar ao existente sem serem meras cópias do que antes havia, indo remexer na herança de Wire, Joy Division, The Fall, Gang of Four, dando-lhes uma roupagem actual e pertinente. Juntemos pois os Dry Cleaning a esta lista, derivado da sua bela capacidade de criar canções que parecem simples e ainda assim estão cheias de conteúdo – de ganchos imprevisíveis no baixo de Lewis Maynard, de riffs em cascata saídos da guitarra de Tom Dowse, de variações de ritmo entre canções e, no que será eventualmente mais diferenciador e ao mesmo tempo divisivo, na opção por spoken word da vocalista Florence Shaw. Enigmática como poucas, a sua presença cria uma experiência de audição no ouvinte totalmente díspar, nunca abandonando o tom de discurso, nunca se enquadrando em métricas a acompanhar a melodia, como que a pairar sobre a camada de som que a sonoriza.

New Long Leg é bastante coeso ao nível de temas, destacando-se talvez o já mencionado single “Scratchcard Lanyard” e “Her Hippo”. Viajar por New Long Leg é passear por cenários como o Museu Sherlock Holmes dos finais de relação, dentistas com jardins nas traseiras desorganizados, peluches de llamas em lojas, maionese no fundo do frigorífico, e bolas saltitantes de Tóquio, Oslo ou ainda Rio de Janeiro. Florence Shaw, como boa estudante de arte, cria uma colagem de frases retiradas de comentários online, conversas agarradas por aí, reflexões próprias, assim criando um cenário confuso mas bem trabalhado para ilustrar as suas ideias.

Tal como aconteceu com os Black Country, New Road, com os black midi, com os Sons of Kemet, The Comet is Coming, também urge dar atenção de ouvido aos Dry Cleaning. Não serão tão inventivos como os acima listados, mas dentro do seu espectro conseguiram criar um disco audaz e pertinente. Nós só temos que agradecer a existência destas bolsas de resistência rock.


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