Resenha
A Day In The Life Of A Universal Wanderer
Álbum de Gandalf's Fist
2013
CD/LP
Se você gosta de rock/neo-progressivo feito por meio de abordagens e influências variadas, há muito material para ser explorado aqui
Costumo dizer que a Gandalf’s Fist é uma banda que deveria ser mais conhecida principalmente pelo público amante neo-progressivo. Conhecida por ser uma banda contadora de história, em A Day in the Life of a Universal Wanderer as coisas não poderiam ser diferentes. O disco se trata de um trabalho conceitual, onde o fio condutor é narrar as divertidas aventuras do titular Wanderer, uma figura mítica do século XXVI, que em termos de comparação é algo que fica entre o Galactus e o Surfista Prateado, cujo destino é vagar pelo cosmos desde o nascimento da existência até o fim dos tempos. No próprio encarte do CD, há uma mensagem interessante, onde eles afirmam ter criado, “um dos álbuns mais envolventes a serem gravados no outro lado do sistema solar”. Dentro de todo o universo progressivo, muitas bandas de neo tem uma característica muita marcante, que é a que nem sempre é necessário a música soar complicada pra soar bem. Sem dúvida que, partindo dessa premissa, a Gandalf’s Fist é uma das bandas que vestem e ficam muito bem dentro dessa roupagem sonora, tocando suas músicas perfeitamente e atingindo um grau de excelência dentro do objetivo de atingir o tipo de música que se destinam fazer. “Another Night On The Far Side Of The Universe” é uma peça de introdução que possui algumas ótimas texturas atmosféricas, oníricas e psicodélicas sob algumas palavras faladas. “The Nine Billion Names Of God”, logo no começo, entrega uma sonoridade cheia de elementos dramáticos, além de distorcidos e de certa forma até um pouco assustadores. A maneira tensa como os refrãos se desenvolvem é bastante eficaz e funciona muito bem. Bastante poderosa e teatral, possui passagens instrumentais excelentes, solos de guitarra envolventes e teclas que estão sempre criando uma cama melódica linda. Em determinado ponto, não é nenhuma neura do ouvinte se for possível captar um cruzamento entre Pink Floyd e Genesis. A parte que começa de forma acústica em 5:20 e vai entrando em uma crescente até o final da peça é lindíssima. “Stowaway To The Mushroom Planet” começa por meio de um trabalho de guitarras gêmeas e melódicas - que me fizeram lembrar o Iron Maiden -, mais uma vez, o começo da música é dramático. A peça então entra em uma sonoridade mais espacial – incluindo os vocais. Inclusive, falando em vocais, é sempre bom destacar a voz de Melissa Hollick – vocalista parceira da banda em outros discos. Essa música tem uma aura bastante mainstream, o refrão é chiclete - porém, não é ruim. O solo de guitarra é muito adequado. “Somewhere Beyond The Stars” começa por meio de um piano solo que vai se mantendo até a entrada dos primeiros vocais femininos muito evocativos. Aqui a banda entrega uma balada linda. Somente depois dos 2 minutos de música em que ela fica somente no piano e voz, a guitarra pincela a peça com um solo simples e certeiro, mas em seguida a faixa volta para o piano e voz novamente até chegar ao fim. “Orphans Of The Sky” começa com um curto solo de bateria, então toda a banda entra em uma marcha que por uns instantes me fez lembrar o clássico “Holy Diver” do Dio, porém, sem deixar de ter uma vibração espacial, a peça segue dentro de algo mais na linha do Hawkwind. Além do space rock, é possível perceber alguns elementos de jazz e até outros crimsionianos. Novamente o refrão é muito bom. Em 4:17 a música fica completamente atmosférica até que retorna ao tema central com mais alguns versos antes de ser finalizada “Maze Of Corridors”, inicia primeiramente com um narrador levando a história adiante, enquanto a banda o acompanha ao fundo por meio de uma música cheia de mudanças e muito progressiva, sendo a bateria o instrumento de destaque. Depois da narração retornar e terminar a sua fala pela segunda vez, um solo de guitarra brilha. “A Universal Wanderer” começa de forma suave, sendo um clássico space rock progressivo com alguns elementos de Pink Floyd em meio a sua mistura de sons. Mais à frente, a peça ganha um direcionamento mais pesado, agora soando como uma espécie de mistura de alguma música do Iron Maiden pós Brave New World e uma sonoridade bastante influenciada pelo hard rock dos anos 80 – na verdade, os vocais do início já estava bem hard 80’s. Uma música que começa serena, mas se torna bastante forte. “Nexus” começa por meio de uma sonoridade espacial, seguido pelo que considero a melhor melodia vocal do disco. Após os primeiros vocais masculinos, entra alguns vocais femininos. A peça também entrega uma seção instrumental com forte aceno ao Yes. Além do excelente solo de guitarra, a peça também inclui um solo de saxofone que é bem legal. “North Of The Wall” é uma música mais lenta e que tem excelente melodias e texturas intrigantes. Tem uma aura dramática, misteriosa e adequadamente espacial. Chega ao fim por meio de mais um pouco de narração da história. “The Battle For Tannhauser Gate” parece ter uma forte ligação com a música anterior. Camadas melódicas e atmosféricas, além do violino puxam a música antes dos vocais femininos direcionarem a peça quase para o lado do folk progressivo no estilo da Mostly Autumn. Cantar o refrão dessa faixa pode se tonar algo viciante e eu sou a prova viva disso. “The Wanderer Goes South” encerra o disco por meio de muita dramaticidade e poder, porém, sem deixar de ter uma sonoridade suave. É possível perceber uma entrega de elementos de jazz ao mesmo tempo em que há espaço para o hard rock e o rock mais melódico e sereno. Novamente os vocais são femininos. Com quase 9 minutos, é a peça mais longa do disco, apresentando algumas boas mudanças conforme vai se desenvolvendo, tendo também space rock e às vezes quase heavy metal – Inclusive, o solo de guitarra aos 7 minutos é digno de uma banda de metal. Um excelente final de disco. Considero A Day In The Life Of A Universal Wanderer um disco que flui de uma maneira tão gostosa, que ouvi-lo em looping o dia inteiro não teria nenhum problema, muito pelo contrário, acho que a cada audição eu estaria mais envolvido nessa jornada musical. Se você gosta de rock/neo-progressivo feito por meio de abordagens e influências variadas, há muito material para ser explorado aqui.
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