Resenha
The End Of An Ear
Álbum de Robert Wyatt
1970
CD/LP
Para ouvidos ávidos por música experimental
Tirando o seu segundo disco, Rock Bottom, indiscutivelmente a sua obra-prima, os demais álbuns de Robert Wyatt não costumam ser tão conhecidos. Antes de qualquer coisa, é necessário esclarecer que a música encontrada, por exemplo, na sua estreia – disco aqui resenhado - é bastante diferente do seu magnum opus. Soa muito mais como uma música de vanguarda do que progressiva, com várias perspectivas sonoras muito mais jazzísticas em inúmeros momentos, tudo é extremamente estranho, suas estruturas musicais são mais soltas, muitas vezes inclusive sem o comprometimento com a criação de uma melodia mais clara – mais um dos motivos que talvez possa afastar ela de muitas pessoas na primeira audição. O instrumento principal do disco parece ser a bateria – sendo Wyatt principalmente um baterista, isso é até algo bem óbvio. Os trabalhos de corneta são bastante espalhados e muitas vezes difíceis de ouvir, enquanto os pianos mantêm bem as batidas das peças. Por mais que tudo possa parecer incomum e difícil assimilação, Wyatt parece ter se divertido bastante durante as gravações de The End Of An Ear, sendo que, o ouvinte, se relaxar e deixar com que cada uma das peças o domine e acerte em cheio sua mente, também vai poder se divertir muito. Mas apesar de todo o caos encontrado em The End Of An Ear, é errado pensar que a suas músicas não fluem bem, afinal, todos os seus conceitos se entrelaçam muito bem entre si, suas mudanças de temperamento sendo frequentemente intercaladas conseguem manter o disco não apenas audível, mas até mesmo, adorável e atraente em determinados momentos. Claro que, Wyatt não está sozinho nessa empreitada, estando acompanhado por alguns dos melhores nomes que a cena de Cantebury tinha para oferecer, como, David Sinclair (órgão), Marc Charig (corneta), Mark Ellidge (piano) e Elton Jean (saxofone). É bastante nítido, que toda essa galera estava ouvindo muita música de vanguarda e free jazz, pois a forma com que as improvisações são executadas, lembram muito a banda de John Coltrane, além de que, Wyatt, por ser baterista e a maneira como ele toca aqui, parece que ele estava ouvindo bastante Rashied Ali. Vale destacar também, que se fizermos um panorama no disco, nota-se bastante influência na sonoridade de Miles Davis da época, misturada com toda a perspicácia musical da cena de Canterbury. Bom, apesar de não atingir necessariamente um grau de excelência, a música encontrada aqui – ainda que não seja logo na primeira audição -, pode soar com uma beleza delicada e forte ao mesmo tempo. Pra finalizar, costumo dizer que um disco como The End Of An Ear não é exatamente um disco que eu vou colocar para ouvir com alguma pessoa que convidei para vir à minha casa, pois se ele soa muito bom aos meus ouvidos, eu sei exatamente o quanto ele pode ser complicado para aqueles que não são tão aventureiros, digamos assim, sendo que nesse caso, é melhor ouvir o básico mesmo, como, Genesis, Rush, Pink Floyd, Yes entre outras tantas enquanto tomamos um bom vinho.
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