sábado, 25 de março de 2023

Resenha A Forest of Fey Álbum de Gandalf's Fist 2014

 

Resenha

A Forest of Fey

Álbum de Gandalf's Fist

2014

CD/LP

Prepare-se para imergir em um mundo encantado limitado apenas por sua própria imaginação

Imagine você, caminhando tranquilamente por uma floresta próxima a sua casa, durante um dia nublado e prestes a cair uma tempestade. Bom, até aí tudo bem, mas enquanto uma pessoa normal, digamos assim, ao regressar para casa, vai, por exemplo, tomar um banho e assistir TV, além de ouvir o barulho da chuva que naquele momento provavelmente já estaria caindo, Dean Marsh voltou com a ideia de um disco conceitual completamente planejada na sua cabeça. Forest of Fey tem como fio condutor a história de uma jovem que acaba se perdendo em uma floresta, com isso, conhece vários personagens estranhos e encantados durante a sua jornada.  

As músicas do disco realmente nos dão a sensação de estarmos imersos em uma floresta feérica e deslumbrante. A banda usa de múltiplas influências musicais e momentos falados que se combinam muito bem uns com os outros. Durante o disco, é possível perceber acenos a vários artistas e bandas diferentes, como, Steve Hackett, Jethro Tull, Genesis, Phideaux, Iron Maiden, e, acredite, até mesmo Gary Moore, porém, sempre se mantendo dentro de uma singularidade, que é o que faz com que a banda seja tão interessante de ouvir, com tudo sendo executado dentro de um padrão bastante alto de estilo e técnica.  

“Childhood Ghosts” começo o disco por meio de alguns efeitos sonoros e um monólogo teatral, com a banda logo nos primeiros segundos do disco querendo colocar o ouvinte dentro de uma floresta misteriosa e assustadora. Uma melodia entre o folk e o space rock toma a frente, enquanto os vocais melódicos se acentuam bem dentro do clima criado. São menos de dois minutos e meio, porém, mesmo assim é um começo de álbum dramático e poderoso. Sem qualquer tipo de intervalo a peça emenda com a faixa seguinte. “Gardens of the Lost” começa com a mesma sonoridade folk e space rock, além de alguns vocais femininos que se estabelecem muito bem, primeiramente junto da musicalidade serena e depois quando a banda entra completa e a peça passa a entregar quase um metal progressivo. A flauta faz com que o ouvinte imagine como seria se o Jethro Tull tocasse um som pesado.   

“A Forest of Fey (Including Wisdom of the Reptile and the Lament for a Silent Verse)”, com mais de oito minutos e meio, é a maior peça do disco e com certeza uma das com mais diversidade. Bastante emocionante e melódica, também entrega momentos guiados por um ritmo de balada progressiva, outros em que seções mais pesadas tomam de conta, chegando ao ponto de sentirmos um certo caos na música. No geral, funciona muito bem, além de ser bastante coerente dentro das suas variedades. “The Figure Speaks” é uma peça de pouco mais de 40 segundos que é literalmente um monólogo que serve como introdução para a música seguinte. Ao fundo apenas uma sonoridade atmosférica. “The World We Created” é mais uma faixa bem diversificada, começando bastante animada, mas logo fica suave e com ar de mistério. Os refrãos aqui são muito cativantes. No geral, é uma música bastante forte e com uma ampla gama de sons e vibrações. 

“The Circus in the Clearing (Including the Fanfare for the King's Tournament)” é mais uma música maravilhosa. Começa com teclados que são um pouco circenses e dramáticos ao mesmo tempo antes da entrada de vocais que soam quase psicodélicos. A mudança de ritmo que começa em 2:41 e tem o seu ápice a partir dos 2:58 é simplesmente sensacional e que inclui um belo solo de guitarra. Uma música que se desenvolve tão bem, que eu acho seus quase 5 minutos um tempo muito pequeno, poderia ter mais disso aqui no álbum. Com certeza um dos melhores - senão o melhor – momento do álbum. “Blood for a Royal Pardon” é mais uma peça curta, basicamente uma balada progressiva onírica.  

“Drifter on the Edge of Time” é mais um dos destaques do disco. É brilhante a maneira como a banda harmoniza cada um dos itens progressivos e psicodélicos. Quando a banda entrega vocais masculinos e femininos trabalhando juntos é sempre um show à parte. Uma peça muito elegante e charmosa, onde mesmo sendo essencialmente uma balada, chega a ficar mais forte nas suas seções posteriores. “Forest Rose (Coming Home)” começa por meio de uma sonoridade bastante celta e algumas referências nítidas à música do Jethro Tull – e nem digo só pela flauta. No geral, é um rock progressivo completo, além de melódico e poderoso. Adoro também o solo de guitarra. 

“Return from the Tournament”, com pouco mais de dois minutos, é uma balada progressiva muito bonita e dramática. “Stories Old and Stories Told (Of Children Brave and Children Bold)”, como boa parte do disco, é bastante melódica, sendo construída em uma progressão crescente. O que percebo muito nos solos de guitarra desse disco é que eles edificam bastante às peças, sendo que aqui não é diferente. Essa música tem uma energia incrível, e eu quando ouvi esse disco pela primeira vez, a escolheria para fechar o álbum - mas depois que ouvi a última peça, entendi o motivo dela ser a escolhida. “A Poison Tree” é mais uma das músicas curtas. Encerra o álbum brilhantemente em seus pouco menos de 3 minutos, a maneira como os efeitos e a teatralidade acontece parece trazer o ouvinte de volta à cena de onde tudo começou. Ainda tem o melhor, para um amante de poesia igual eu, achei interessante a faixa ter o mesmo nome de um poema de William Black, “A Árvore Envenenada”, porém, é muito além disso, a letra da música é o próprio poema.  

Um disco simplesmente lindo que se fosse um filme, acho que poderia ser algo na linha de O Labirinto. Tudo é muito bem-produzido dentro de inúmeros detalhes, além de cuidadosamente trabalhado, fazendo com que no fim das contas, todas as suas minúcias respirem e ofereçam algo diferente ao ouvinte cada vez que ele se permitir entrar nesse mundo de fantasia. Portanto, repare-se para imergir em um mundo encantado limitado apenas por sua própria imaginação.  

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