quarta-feira, 15 de março de 2023

Resenha Out Of The Tunnel's Mouth Álbum de Steve Hackett 2009

 

Resenha

Out Of The Tunnel's Mouth

Álbum de Steve Hackett

2009

CD/LP

Estilisticamente, não temos nada particularmente novo, mas em termos de ótimas composições, melodias e solos de guitarra, é um esforço inspirado

Quando falamos de Out Of The Tunnel's Mouth, estamos falando do grupo de discos de Steve Hackett que entra na prateleira dos seus trabalhos mais sombrios. Aqui, o guitarrista entrega algo que não é novidade, Hackett produz uma música progressiva muito singular, usando de vários outros gêneros, como jazz, blues, rock, música clássica, folk e world music, os fundindo de uma forma brilhante, sendo que é exatamente nesses momentos em que ele utiliza de inúmeras influências diferentes, onde ele mais parece estar ciente da sua direção musical, compondo um disco muito bem amarrado e coeso do começo ao fim.  

A música aqui é uma verdadeira amálgama muito boa de tudo que o guitarrista havia feito até então, com tudo funcionando muito bem. Há momentos em que a música vai criar uma paisagem sonoras poderosa e sinfônica, outros em que haverá um forte aceno à música do mediterrâneo por meio de um violão clássico lindo, situações em que a influência na música folclórica é muito nítida, tendo espaço até mesmo para uma reminiscência ao trabalho de Joe Satriani. Lendo esse tanto de direção em que o disco percorre, entendo que você possa pensar que pode não funcionar e ele acabar não fluindo bem, mas não se preocupe, pois como já dito, tudo é bem amarrado e coeso do começo ao fim.  

“Fire On The Moon” começa o disco de forma muito dramática e ao mesmo tempo poderosa, funcionando muito bem como peça de abertura do álbum. Poderia tranquilamente fazer parte de To Watch the Storms. Pouco antes do terceiro minuto, fica mais pesada com um solo bastante adequado de Hackett por cima. Vale destacar que, quem toca o baixo nessa música é o lendário Chris Squire. “Nomads” tem seu início em um violão latino, se transformando em seguida em algo delicado e muito melancólico antes da entrada do vocal. Novamente, quem assume o baixo é Chris Squire. A peça segue em uma constante até pouco depois dos dois minutos e meio, quando então há um tratamento flamenco que a eleva para um outro nível. Então que a música se transforma em um rock mais acelerado, mas ainda com alguns elementos flamencos, ficando até mesmo bastante sinfônica.  

“Emerald And Ash”, uma instrumentação sinfônica dá início à peça, caindo em seguida para uma cadência mais lenta, porém, sem perder a sua orientação clássica. Mais à frente, novamente Hackett direciona a música para um tema mais pesado, dessa vez, soando mais ou menos como o King Crimson mais moderno. Sem dúvida é uma das músicas mais dinâmicas do álbum, terminando por meio de ótimos elementos sinfônicos ambientais. “Tubehead” é uma faixa instrumental de tirar o fôlego, onde Hackett entrega uma mescla de rock and roll e alguns acenos ao King Crimson, mas sempre dentro do seu melhor estilo. 

“Sleepers” tem um enorme contraste em relação à peça anterior. Começa com um violão suave e intrincado sobre um arranjo sinfônico, permanecendo assim até por volta dois minutos e meio. Então que a música se torna uma balada, seguindo até por volta dos cinco minutos, quando, novamente, Hackett dá uma guinada na música e ela se transforma e sobe para uma sonoridade mais pesada. Novamente, o King Crimson vem em mente. Alguns solos são matadores. A alternância em momentos puramente sinfônicos e outros mais pesados é muito bem-feita. " Ghost In The Glass”, com pouco menos de três minutos, é a faixa mais curta do álbum. Hackett parece brincar com seu violão jazzístico, até que, por volta de um minuto, uma linha de guitarra com essência blues surge e leva a música para uma outra direção. Bastante poderosa e dramática, possui várias camadas de som construídas sobre ela. Mesmo sendo a mais curta, é uma das mais marcantes do disco.  

“Still Waters”, agora eu vou pedir que você faça um exercício mental, imagine o King Crimson dentro do seu território musical, mas criando um arranjo de hard-blues, pois é, esse seria um bom exemplo do que Hackett entrega nessa música. O guitarrista está impossível com um incrível trabalho de solos ardentes. Ainda é possível perceber algumas pinceladas de soul e um leve aceno ao Pink Floyd. “Last Train To Istanbul” é a música que encerra o disco. Tem uma introdução, que apresenta de uma maneira muito adequada, alguns elementos orientais, junto de outros quase sinfônicos, digamos assim. Mais uma vez, Hackett consegue unir dramaticidade e energia com muita eficácia. Apesar de às vezes entregar alguns sons mais potentes em seu arranjo, no geral se desenvolve mais dentro de um espectro melódico.   

Steve Hackett já errou em sua carreira? Sim, não vou eximi-lo disso, mas são tantos acertos, que lhe sobram créditos para derrapagens. Out Of The Tunnel's Mouth foi o primeiro lançamento de seu próprio selo Wolfworks - nome de uma faixa de seu álbum Wild Orchids. É de certa forma, uma "produção caseira" e foi gravada e produzida no próprio estúdio de Steve. Mas não há dúvida de que se trata de uma produção muito profissional, afinal, não estamos falando de nenhum amador. Admito que, estilisticamente, não temos nada particularmente novo, mas em termos de ótimas composições, melodias e solos de guitarra, é um esforço inspirado. 


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