Continuando a recente boa tradição australiana, os Bananagun dão-nos um excelente disco, regado a tropicalismo, psicadelismo e tribalismo.
Quando James Cook descobriu a Austrália nunca lhe terá passado pela cabeça que, duzentos anos depois, a segunda revolução psicadélica passasse por lá. Terá sido por isso que os portugueses, acreditando nas teorias que teriam sido os primeiros a avistar solo austral, nunca assumiram tal descobrimento?
Também não podemos esquecer o facto de que os primeiros habitantes ‘down under’ foram os exilados e renegados do Reino Unido, a isso somamos a questão do continente estar povoado pelos seres mais bizarros, sendo alguns deles dos mais perigosos do mundo, e temos aqui, então, uma mistura explosiva que teria de se expressar de alguma maneira.
The True Story Of Bananagun abre com “Bang Go The Bongos”, numa clara homenagem aos Mutantes, carregada de fuzz. Logo em seguida aparece a freakalhada de “The Master”, onde os australianos demonstram todas as suas influências e capacidades técnicas.
Se já estávamos bem impressionados com os Bananagun, então com “People Talk Too Much” ficámos rendidos. A banda vai à Nigéria dos anos 70, inspiradíssima no afro-beat de Fela Kuti, e veste o género musical de roupas floridas e rega-o de ácido. São quase sete minutos de pura intensidade.
O espectáculo circense dos Bananagun continua sempre a todo o vapor com “Freak Machine”, a fazer lembrar os Goat. Há tempo para um excerto instrumental dedicado aos pássaros (“Bird Up”), onde parece que entrámos no meio da selva amazónica, em seguida desaguámos em “Out Of Reach”, canção que encapsula verdadeiramente o espírito livre do Verão do amor.
Não acabamos o disco sem voltar aos Mutantes, com “She Now”, tema quase tirado a papel químico de “A Minha Menina”.
O disco continua sempre nestas toadas, passando por vários géneros musicais, mas todos interligados pelo amor ao ácido lisérgico e é, sobretudo, o seu sentido de felicidade e alegria, sem pudores ou vergonhas, que faz o seu som ser tão verdadeiro e interessante, saltando entre continentes e décadas, mas tudo de modo bem vívido e colorido.
Nunca saberemos o que realmente aconteceu para que a Austrália fosse o epicentro do novo psicadelismo. No entanto, o país que nos deu o Crocodilo Dundee, os cangurus e os koalas não nos pára de surpreender, tais são as bandas que de lá continuam a sair, desde os Tame Impala, passando pelos King Gizzard e acabando nestes Bananagun. Se calhar alguém meteu algo na água da rede…
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