quinta-feira, 6 de abril de 2023

We Will Always Love You – The Avalanches (2020)


 

Livres das expectativas que amaldiçoaram o seu segundo álbum, os Avalanches fazem as pazes com o passado e começam a pensar em musicar o futuro.

O que é que restava fazer para os Avalanches? Depois de lançarem um dos discos mais emblemáticos da eletrónica moderna e de sobreviverem às expectativas criadas à volta do seu segundo trabalho, os australianos tinham todo o direito de acabar a década com o sentimento de missão cumprida. We Will Always Love You, o terceiro filho, teve um período de gestação mais fácil, no qual o grupo se livrou da sua coleção de discos de vinil, um renascimento simbólico.

Isso não quer dizer que o sampling tenha sido deixado para trás. Aliás, todo o conceito do disco gira à volta do percurso que uma canção faz, começando com a sua gravação, a degradação que uma vida inteira de escutas inevitavelmente traz e, finalmente, a sua redescoberta e reapropriação. O ruído do vinil em “Song for Barbara Payton” adquire assim uma carga emocional maior, um memento mori de uma era da música popular. Se todas estas questões são pesadas em teoria, a atmosfera da música é sempre de celebração e a festa é populada por muitas personalidades interessantes e de universos completamente distintos. Só os Avalanches conseguem juntar os MGMT e o Johnny Marr e fazer parecer que ambas as partes tocam juntos há décadas. Sananda Maitreya a cantar por cima de um sample de Vashti Bunyan? Porque não? Aquilo que torna os Avalanches uma banda tão interessante é o sentimento de que não há limites no que toca à justaposição de entidades musicais. A sua sensibilidade musical garante que a mistura será sempre homogénea.

Tal como os Daft Punk passaram a sua carreira a sintetizar a música de uma discoteca futurista, os Avalanches fazem o mesmo com um festival utópico. A música é diversa, desde a eletrónica melosa de “Interstellar Love” ao house xx-iano de “Music Makes Me High” (curiosamente, apesar do músico britânico figurar no disco, não é nesta música) passando pelo indie pop de “Running Red Lights”, um dos tiros ao lado do disco.

We Will Always Love You, mais do que os trabalhos anteriores do grupo, passa mais tempo preocupado com a sua atmosfera do que com as suas músicas e, ao longo de mais de setenta minutos, é difícil não olhar para o botão de fast-forward, particularmente no terço final do álbum. Ainda assim, o terceiro capítulo da história dos Avalanches pode estar à mesa com os seus irmãos mais velhos sem quaisquer constrangimentos e inaugura uma nova fase na carreira do grupo.


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