domingo, 16 de abril de 2023

CRONICA - CURTIS MAYFIELD | Curtis (1970)

 

No verão de 1969 houve esse festival completamente esquecido e silenciado. Um evento que reuniu mais de 300.000 pessoas e contou com Stevie Wonder, A Quinta Dimensão, Max Roach, BB King, Ray Barretto... Era o Harlem Cultural Festival (comumente chamado de Black Woodstock). No projeto estava a cantora/pianista Nina Simone. Este último arengou para a multidão cantando: “  Você está pronto para demolir o mundo branco, para queimar edifícios? Você está pronto? Você está pronto para construir um mundo negro?  (“Você está pronto para derrubar o mundo branco, queimar os prédios? Você está pronto? Você está pronto para construir um mundo negro?”).

Um ano depois, o ex-vocalista/guitarrista do Les Impressions lançou “  Sisters! Negros! Brancos! Judeus! Biscoitos! Não se preocupe, se houver um inferno abaixo, todos nós iremos!  (“…Vamos todos para o Inferno”). Uma verdadeira declaração de guerra! Contra o comunitarismo! Contra esse apartheid musical que quer ter música para brancos e música para negros! Curtis Mayfield segue os passos de Sly Stone que recusa que o rock seja prerrogativa dos brancos que saqueiam o blues e que em resposta os negros exploram o soul e o funk! A música deve unir, não dividir! Mas Curtis Mayfield acrescenta um caráter mais político. Aquele que havia cantado seu amor a Deus e às mulheres nas Impressões, agora canta o sofrimento do povo, tanto o seu quanto o dos outros.

Estamos em 1970, os Estados Unidos estão afundando na Guerra do Vietnã. A segregação racial está em alta. Os Beatles se separam. Jimi Hendrix desaparece a bordo das últimas utopias hippies. Black Sabbath inventa o heavy metal. Curtis Mayfield, deixando o Impressions onde se sentia apertado, iniciou sua carreira solo com Curtis impresso na Curtom.

Este disco, portanto, começa com esta declaração de guerra em "(Don't Worry) If There's A Hell Below We're All Going To Go". 7 mn pesados ​​e borbulhantes com esse baixo grosso, pesado, quase fuzz, recheado de querosene, com um groove implacável e suas congas com aromas latinos e quentes. Algo em que você não pode deixar de mexer a bunda, mas também de pensar. Porque Curtis Mayfield, recusando-se a escolher entre a sensualidade do soul e a violência do funk, intelectualiza sua música com muitas orquestras. Com alguns toques psicodélicos, o caso terminará no planeta Marte. Em suma, temos aqui a fórmula mágica certa do som de Curtis Mayfield: um formidável trigêmeo (baixo, bateria e percussão) vestido de orquestração mas também de metais que flertam com o sinfônico e o jazz sem esquecer essa guitarra funky.

Após este início sensacional, vem a irreal, despreocupada e outonal “The Other Side Of Town” onde a cantora lamenta não ter nascido sob uma estrela da sorte. Aterra a balada "The Makings Of You". No mesmo tom vem "We The People Who Are Darker Than Blue" com uma pausa no estilo Hendrix e delírio tribal. Movemos sua bunda novamente com "Move On Up" e seu sax jazzístico. “Miss Black America”, “Wild And Free” e “Give It Up” com tempos mais curtos (3 minutos em média) concluem este magnífico disco com textos empenhados, onde a voz de Curtis Mayfield ressoa agradavelmente nos nossos ouvidos. Claramente um começo promissor.

Títulos:
1. (Don’t Worry) If There’s A Hell Below We’re All Going To Go
2. The Other Side Of Town
3. The Makings Of You
4. We The People Who Are Darker Than Blue
5. Move On Up
6. Miss Black America
7. Wild And Free
8. Give It Up

Músicos: Curtis Mayfield, Leonard Druss, John Howell, Harold Lepp, Loren Binford, Clifford Davis, Patrick Ferreri, Richard Single, Rudolph Stauber, Donald Simmons, Robert Lewis, Harold Dessent, Ronald Kolber, Harold Klatz, John Ross, Sol Bobrob, Sam Heiman, Elliot Golub, Henry Gibson, Robert Sims, Gary Slabo, Philip Upchurch.

Produção: Curtis Mayfield


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